Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

O complô contra déficit zero

O ministro da Fazenda está cada vez mais isolado na defesa do equilíbrio das contas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 set 2023, 16h06 - Publicado em 18 set 2023, 15h42

O Brasil tem 203 milhões de habitantes e em torno de doze deles acreditam que o déficit público no ano que vem será de zero ou muito perto disso. Todos os doze trabalham no Ministério da Fazenda. Mais do que conseguir R$ 160 bilhões em receitas extras para anular o déficit no orçamento, o maior desafio do ministro Fernando Haddad é conseguir convencer as pessoas de que isso é factível.

Pegue-se o exemplo do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024, o deputado responsável por decretar se vai haver déficit zero. “Esta semana, numa conversa, eu disse: ‘uma pessoa que tenho dó no Brasil hoje é do Haddad’. Porque ele faz discurso tanto tempo de meta fiscal zero, mas todo mundo sabe que é quase impossível meta fiscal zero diante já de uma situação de conjuntura econômica difícil que nós estamos vivendo, e ainda mais com essa quantidade enorme de gastos públicos que todo dia chegam na conta da gente”, disse Danilo Forte. “Inevitavelmente você não tem como fechar uma meta fiscal quando a base dessa meta fiscal não se compõe com clareza e com segurança. Se você tiver uma receita e todo mês vier uma despesa diferente, você vai ter problema lá na frente.”

O relator do Orçamento duvida, mas em tese ele poderia mudar de ideia se até dezembro forem aprovados vários projetos aumentando as receitas. Isso até poderia ocorrer se a reforma ministerial tivesse incorporado o Centrão ao governo, o que não aconteceu da forma como o Centrão gostaria. A reforma, no melhor dos casos, vai impedir a aprovação de loucuras como o projeto do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, do PT, integrando os servidores dos estados do Amapá, Roraima e Rondônia aos gastos federais. Com aliados como esse, o ministro Haddad não precisa de inimigos.

Mas inimigos não faltam. Há um consenso hoje no Palácio do Planalto de que o déficit zero é uma extravagância de Haddad e que nem o mercado financeiro espera isso do governo. De fato, a pesquisa Focus com 160 bancos e corretoras projeta um déficit de 0,71% do PIB para 2024. O problema, argumenta Haddad, é que se o governo admitir logo que não vai chegar ao objetivo do zero, essas expectativas vão para acima de 1%, afetando juros futuros, dólar e inflação. O terror no Ministério da Fazenda é que admitir o fracasso antes do jogo começar pode levar a uma situação similar à de agosto de 2015, quando o governo Dilma Rousseff enviou um projeto de orçamento com déficit e o mercado entrou em uma espiral de pânico.

Continua após a publicidade

Os ministros do Planalto, a começar por Rui Costa, acham que Haddad pode conduzir o governo para um abismo. Se o orçamento de 2024 fixar o déficit zero e as receitas não corresponderem, o novo Marco Fiscal obriga a um contingenciamento dos gastos. Isso significaria que, entre o final de março e o início de abril, o governo teria de segurar entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões de gastos, o que paralisaria tudo. Às vésperas da campanha eleitoral das prefeituras, haveria cortes em projetos fundamentais para Lula, como o Minha Casa Minha Vida ou o Plano de Aceleração do Crescimento.

Há ainda o PT. No encontro do Diretório Nacional, o partido divulgou uma inusitada nota vinculando o sucesso das eleições municipais com a possível reeleição de Lula. Nada comprova essa correlação, mas a nota reforça a importância que o partido dá ao pleito municipal. Com o projeto do déficit zero, Haddad virou uma pedra no caminho eleitoral do PT.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.