Haddad x Gleisi: petista contra petistas
Os petistas criticam a política econômica e aplaudem seus resultados. O ministro reclama. Gleisi replica. Lula assiste
O PT comemora o desempenho econômico sob o governo do PT — muito melhor do que o esperado. E xinga o mercado dia sim, o outro também.
O PT desanca a política econômica do PT, que considera um “austericídio”. E xinga o ministro da Fazenda do PT dia sim, o outro também.
Parece orwelliano? Fernando Haddad também acha.
“Não dá para celebrar bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou o Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’”, declarou o ministro.
Ser orwelliano não é propriamente uma novidade no PT, por sinal. Quando Dilma realizava sua política econômica expansionista, o PT aplaudia o ministro Mantega. Diante do resultado — a devastação — o PT xingava o mercado, os golpistas, Temer, o empresariado, os EUA, a CIA, o FBI e a elite branca de olhos azuis… e continuava a aplaudir a irresponsabilidade fiscal.
O PT segue acreditando que:
- jogar dinheiro fora é um bom método para ficar rico;
- se você tentar algo várias vezes e não der certo, continue tentando, porque mais cedo ou mais tarde vai dar. George Orwell teria algo a dizer a respeito.
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, não gostou da entrevista do ministro da Fazenda do PT. Disse ela a respeito das críticas do partido à política econômica: “É um direito do partido e até um dever fazer esses alertas e esse debate, isso não tem nada de oposição ao ministro e nem a ninguém. É da nossa tradição.”
Até aí, OK, é inegável que faz parte da tradição dos petistas brigarem com outros petistas. Mas Gleisi criticou Haddad porque, depois de fugir da pergunta três ou quatro vezes, o ministro acabou concedendo que — depois de 2026 — será preciso falar sobre a sucessão a Lula.
Pelo jeito, os petistas têm o direito de criticar o ministro petista, mas o ministro petista não tem o direito de admitir que o petista Lula não é imortal.
Aí, é mais do que orwelliano. É fideliano. E freudiano.
(Por Ricardo Rangel em 03/01/2024)