Campos Neto tem lado político e trabalha para prejudicar o país, diz Lula
Segundo o presidente, o comportamento do Banco Central é a única "coisa desajustada no Brasil nesse instante"
Depois de “denunciar” o volume de isenção fiscal concedido atualmente ao empresariado brasileiro e destacar sua “divergência profunda” sobre o que é gasto e o que é investimento, o presidente Lula mirou suas críticas no Banco Central e no chefe da instituição, Roberto Campos Neto, que, segundo ele, não tem nenhuma capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o país. O petista ainda comparou o economista indicado ao posto por Jair Bolsonaro ao ex-juiz e atual senador Sergio Moro e disse que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem mais influência sobre o BC do que ele. As declarações foram feitas durante a entrevista que ele concedeu ao Jornal da CBN, na manhã desta terça-feira, 18.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, declarou Lula, logo após afirmar que a situação econômica do país está “muito boa”.
Taxa de juros
Questionado sobre a reunião do Copom que começa nesta terça e vai decidir a nova taxa básica de juros, sob a expectativa de estagnação por parte do mercado financeiro, o presidente disse achar “muito triste, porque o Brasil não precisa disso”.
“O Brasil não precisa disso. Há um grau de confiança no Brasil extraordinário. Eu tenho viajado o mundo, eu tenho conversado com muitos presidentes, eu tenho recebido presidentes, eu tenho recebido presidente do FMI, do Banco Asiático, do CitiBank, do Santander. Todos os bancos que eu recebo demonstram que não há país com mais otimismo do que o Brasil. Nós fomos o segundo país em receber investir investimento externo. Então, nós temos uma situação que não necessita essa taxa de juros. O Brasil não pode continuar com uma taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. Como é que você vai convencer o empresário de fazer investimento se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então é preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. A inflação está totalmente controlada”, declarou.
“Agora fica se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer… Vamos trabalhar em cima do real. Realmente, o Brasil está vivendo um bom momento. A economia está andando, os empregos e o salário estão crescendo, a inflação está caindo. Ou seja, o que mais nós queremos? É atrair mais investimento para o Brasil e que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar esse país, e não de atrapalhar o crescimento do país”, complementou Lula.
“A quem esse rapaz é submetido?”
Na mesma entrevista, o presidente foi instado a comentar se a saída de Campos Neto, no fim do ano, reverterá a atual política de juros e se o governo, de alguma maneira, terá maior interferência na instituição. “É que eu tenho já muito tempo de experiência, eu já lidei muito tempo com o Banco Central, e o (Henrique) Meirelles era meu presidente do Banco Central e eu duvido que esse… esse Roberto Campos tenha mais autonomia do que tinha o Meirelles. Duvido. Duvido”, respondeu.
“O que é importante saber é a quem que esse rapaz é submetido. Como é que ele vai numa festa em São Paulo, sabe, quase que assumindo a candidatura a um cargo do governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?”, questionou Lula.
Sobre a possibilidade de indicar o atual diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, como sucessor de Campos Neto, o petista disse que escolherá “uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse país, com o controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que a gente não tem só que pensar no controle da inflação, nós temos que pensar também numa meta de crescimento, porque é o crescimento econômico, é o crescimento da massa salarial que vai permitir que a gente possa controlar a inflação com uma certa tranquilidade”.
“Então, na hora que eu tiver que escolher um presidente do Banco Central, vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tem respeito pelo cargo que exerce, que tenha respeito, e alguém que não se submeta a pressões de mercado, alguém que faça aquilo que for de interesse dos 203 milhões de brasileiros”, complementou.
Influência de Tarcísio e comparação com Sergio Moro
Indagado se acredita que o governador Tarcísio tem interferência nas decisões de Roberto Campos Neto no Banco Central, Lula respondeu: “sinceramente, tem mais do que eu”.
“Porque veja, não é que ele encontrou com o Tarcísio numa festa. A festa foi do Tarciso para ele, foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele. Certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhosa a taxa de juros de 11,25%… Ou de 10,50%. Deve estar achando maravilhoso. Então quando ele se autolança a um cargo, eu fico imaginando, sabe, nós vamos repetir o Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? O paladino da Justiça, com rabo preso a compromissos políticos”, comentou o presidente.
“Então o presidente do Banco Central tem que ser uma figura séria, responsável, e ele tem que ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado. Ele tem que dirigir a política monetária desse país levando em conta que nós precisamos controlar a inflação e crescer”, concluiu Lula.