Inflação no atacado vai a 41% e Brasil é o segundo no ranking mundial
Juros reais do Brasil mais negativos do que nos Estados Unidos causam uma anomalia na moeda, o real deprecia e afeta inflação ao produtor, diz economista
Tem sido raro encontrar alguém, no mercado financeiro, que acredite que o Banco Central não vá aumentar os juros na reunião desta semana do Copom. E a razão é bem simples: não teve consumidor que não notou que os preços estão subindo. É a gasolina, são os alimentos, para falar de dois exemplos que mexem diretamente no bolso de todos os brasileiros. Mas tem um par de preços que estão altamente pressionados e que estão causando um medo extra em alguns economistas: os preços ao atacado. Medido pelo IPA, essa inflação está acumulada em 41,7%, em 12 meses até fevereiro. A economista Andrea Damico, chefe da área na Armor Capital Gestão de Investimentos, fez uma comparação com os índices de preço ao produtor no mundo e os resultados mostram que o Brasil só perde para a Argentina. Em terceiro vem a Turquia, seguido da Ucrânia e Quirguistão.
A inflação ao produtor é repassada em um ritmo mais lento para os preços no varejo. Assim, móveis, automóveis, produtos de limpeza, higiene pessoal, demoram mais a subir. Mas estes preços estão no que é chamado pelos economistas de núcleo da inflação e que, portanto, pressionam as metas a serem seguidas pelo Banco Central.
No mundo inteiro, a inflação está pressionada com a alta dos preços das commodities, como o petróleo. Mas o Brasil sofre mais que outros países por conta do câmbio depreciado e o risco fiscal. Ou seja, o velho medo do populismo nas contas do governo. Mas com a experiência de quem passou 16 anos no departamento de economia da tesouraria do Bradesco, Damico diz que tem um outro motivo que faz o Brasil estar no topo do ranking. Os juros reais do Brasil estão negativos em 3%. Para se ter ideia, os Estados Unidos, que dispensam apresentação, têm juros reais negativos em 0,6%. “É uma anomalia que impacta na moeda, assim o câmbio deprecia mais, reflete nos índices de preço ao produtor, que acabam ficando tão elevados”. Diante deste cenário, enquanto o mercado projeta uma inflação medida pelo IPCA de 4% para este ano, Damico recalibrou suas estimativas e já projeta uma inflação ao consumidor de 5,1% quando fechar dezembro.