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Por Murillo de Aragão
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Uma nova globalização

A pandemia e a guerra da Ucrânia revelam a necessidade de ajustes

Por Murillo de Aragão Atualizado em 13 jul 2022, 14h35 - Publicado em 10 jul 2022, 08h00

O debate sobre a globalização ou sua reformatação está na ordem do dia. Na minha opinião, como processo histórico que é, a globalização não vai acabar tão cedo, ora avançando, ora retrocedendo, ao sabor das circunstâncias. Impulsionada sobretudo pela tecnologia, prosseguirá relevante, pois, sendo um processo, é, obvia­mente, um continuum que se modifica por causa dos acontecimentos.

A globalização dos anos 80 e 90 representava esperança, pois se acreditava que a eficiência como guiding principle do comércio exterior beneficiaria a todos. A alocação eficiente de recursos e a distribuição da produção especializada certamente resultaram em reduções drásticas nos preços de produtos para os consumidores finais. Mas esse foco exclusivo na eficiência econômica gerou novos posicionamentos geopolíticos que alteraram o equilíbrio de poder em nível global.

Agora a pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia criaram uma nova etapa nesse processo, considerado hoje, por alguns, uma “nova globalização”. É importante mencionar, contudo, que eventos anteriores já estavam causando alterações significativas no processo. Foi o caso, no início do século, do atentado às Torres Gêmeas, em 2001, da crise de Wall Street, em 2008, da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, e do Brexit, em 2020. Acrescentem-se o surgimento das criptomoedas e a criação do blockchain como mecanismos de validação entre pessoas e instituições sem a intermediação de governos.

“O foco exclusivo na eficiência econômica gerou novos posicionamentos geopolíticos que alteraram o equilíbrio de poder”

Isso posto, pode-se dizer que, no momento, temos uma globalização em transformação acelerada. Quais são os vetores dessa transformação? A seguir, aponto apenas alguns. Um deles reside no fato de que a geopolítica e a defesa voltaram ao topo das prioridades. A preocupação com a geopolítica fez com que o mundo ocidental procurasse fornecedores amigos que estivessem geograficamente mais próximos. Tal movimento já era perceptível em relação à China, com o deslocamento de indústrias para outros países da Ásia.

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O multilateralismo, até então dividido no mundo ocidental, destacou-se com o fortalecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), antiga aliança militar firmada entre os Estados Unidos e a Europa. A Alemanha e o Japão, até então determinados a manter posturas não belicistas, agora estão aumentando seus gastos militares, bem como outros países.

Ao mesmo tempo, grandes corporações globais se tornaram atores geopolíticos, ao propor sanções privadas ao governo russo em uma escala nunca vista anteriormente. Ao lado de sanções de países e de organismos multilaterais, a Rússia está sendo punida por mais de 1 000 corporações transnacionais que estão se recusando a fazer negócios com o país.

Na neoglobalização, temas como sustentabilidade, desenvolvimento econômico de nações menos favorecidas, direitos humanos, fronteiras, defesa, além do impacto político de arranjos “eficientes” na política nacional, do ponto de vista econômico, acabaram forçando um repensar sobre a eficiência como guiding principle dos arranjos comerciais internacionais. A globalização ao estilo dos anos 90 provou-se incompatível com a realpolitik de hoje e tal incompatibilidade se agravou com o advento da pandemia e da guerra na Ucrânia.

Publicado em VEJA de 13 de julho de 2022, edição nº 2797

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