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Por Marcos Fava Neves
De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio
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O imperativo da sustentabilidade ambiental no agro

Cada vez mais a produção será pautada por critérios ambientais, sociais e de governança

Por Marcos Fava Neves
14 set 2023, 14h49

O grande crescimento do agro brasileiro nas últimas décadas veio acompanhado de uma pressão de produção com sustentabilidade, nos seus três pilares fundamentais que dão origem à sigla ESG, sendo o “E” de environment (ambiente), o “S” de social (social) e o “G” de governance (governança/gestão). Neste texto, trabalharei o aspecto ambiental; falaremos dos outros dois itens nos próximos.

O agro de hoje tem a oportunidade de colher resultados de decisões tomadas há muito tempo no Brasil em relação às regulações e fontes de energias, como o Pro-Álcool nos anos 70, as hidroelétricas, a legislação ambiental e trabalhista, entre outras. Estas decisões do passado, unidas a ações do presente, conferem ao agro brasileiro indicadores de sustentabilidade entre os melhores, se não o melhor, quando comparado aos grandes produtores de alimentos do planeta.

Entre estes indicadores, o primeiro destaque vai a preservação de áreas no Brasil: atualmente, temos o privilégio de apresentar 66% do território intocados, preservados na forma original. A principal política que trabalha esta questão é o código florestal brasileiro, aprovado em 2012, e que é um dos mais rigorosos e bem formatados do planeta. Este código restringe o uso de áreas para produção nas fazendas em, no máximo, 20% para quem estiver no bioma Amazônico (80% devem ser preservados); 65% em áreas de transição Amazônia/Cerrado (35% preservados); e 80% nas demais áreas (preservando 20%).

Além disso, o Brasil tem uma já extensa área de reserva indígena (cerca de 14% do território brasileiro ou quase 118 milhões de hectares, onde vivem cerca de 500 a 600 mil pessoas). Para se ter uma ideia desta dimensão, toda a agricultura brasileira usa cerca de 78 milhões de hectares (66% do tamanho das áreas reservadas a brasileiros de origem indígena) para produzir esta enormidade de alimentos.

Outro aspecto de orgulho é a participação das energias renováveis na matriz nacional que está próxima a 48%, quando a média do planeta é de 15%. Quando se isola apenas a eletricidade entre as fontes, a matriz brasileira pula para quase 83% de renováveis, sendo de apenas 29% a média global. Uma parte desta participação vem do agro, com o uso da cana, da biomassa, coprodutos e outras matérias-primas.

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O Brasil também se destaca no percentual de uso dos biocombustíveis, provavelmente o maior entre os países populosos. Hoje, ao redor de 12% de biodiesel é misturado no diesel, com proposta de elevação para 15% em 2026, podendo ser antecipada para o ano que vem. Na gasolina, o etanol anidro é misturado em 27%, podendo passar a 30% de acordo com plano do governo atual. Somando o etanol anidro com o hidratado (o que abastecemos nos postos), já alcançamos 45% de todo o consumo dos carros brasileiros, na média dos últimos quatro anos. Estas políticas contribuem de forma direta na redução das emissões de gases.

O país se destaca ainda por ser responsável por apenas 3% das emissões de CO2 do planeta e por ter uma das menores emissões de carbono per capita, ao redor de 2,2 toneladas, o que representa menos da metade da média global.

No elo agrícola, a ciência tem contribuído para o Brasil melhorar cada vez mais seus indicadores. Destaco algumas ações: a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); a rotação de culturas; o plantio direto na palha; o desenvolvimento de variedades de ciclos mais curtos, o que possibilita o uso de uma mesma área duas ou três vezes no ano; os bioinsumos e o controle biológico; a gestão das áreas não mais por hectares, mas sim por metro quadrado, aplicando fertilizantes e defensivos apenas onde é necessário; a agricultura regenerativa, que cuida do solo, seus organismos e dos recursos naturais; a fixação de carbono no solo; a agricultura circular, que utiliza resíduos e subprodutos para gerar novos ganhos; o uso de energia fotovoltaica e eólica; o uso de biogás e biometano; entre outras promissoras tecnologias e inovações. Todos estes sistemas trazem ganhos expressivos em produtividade, ao passo em que preservam os recursos e melhoram o ambiente produtivo.

É fato que existem diversos problemas na área ambiental, como os resíduos, lixo, poluição, contaminações, emissões e a má eficiência no uso de água, mas o problema de maior impacto penso estar na questão do desmatamento ilegal, que como o próprio nome já diz, é crime e traz muitos problemas de imagem ao Brasil. É importante ressaltar que a pessoa que comete desmatamento ilegal para a produção agrícola, muito antes de ser “agricultor”, se é que foi um agricultor o responsável, é um infrator, e representa parte ínfima dos produtores brasileiros. Por isto, temos que colocar foco para acabar com o desmatamento ilegal, punindo seus responsáveis.

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Por incrível que pareça, e trarei os números em futuros artigos, para todo o crescimento esperado do agro brasileiro nos próximos anos, não será necessário realizar desmatamento, apesar do código florestal permitir. Produtores rurais já podem (e deveriam) receber créditos anuais para não usarem as áreas com cobertura, compensando-os desta supressão de renda.

Vimos neste texto que os números ambientais jogam muito favoravelmente para o agro brasileiro e, mesmo assim o setor e o governo tem trabalhado arduamente para atingir indicadores cada vez melhores em sustentabilidade. O alimento brasileiro tem condições de ser o mais verde do planeta.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em www.harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

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