
Segundo pesquisas, Lula é o favorito para as próximas eleições, mas a situação pode mudar até a realização do pleito. Alterações nessa área costumam acontecer.
Só para raciocinar, suponhamos que Lula ganhe. Pelo que têm dito petistas influentes, seriam adotadas ideias danosas à economia. O teto de gastos seria revogado. A privatização da Eletrobras seria revertida. A desastrada Nova Matriz Econômica do governo Dilma seria renovada. Para Lula, a política de preços da Petrobras será mudada, pois “estamos pagando gasolina em dólar quando recebemos salário em real”. O que ele diria do preço do trigo?
A reforma trabalhista seria abandonada e com ela a modernização que reduziu ações judiciais, aboliu a contribuição sindical e regulou o trabalho temporário, sem afetar direitos fundamentais dos trabalhadores. Promete-se eliminar a reforma da Previdência, o que provocaria impacto fiscal gigantesco, tornando insustentável a dívida pública. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que o PT é contra a âncora fiscal, o que significaria deixar a economia à deriva como um navio desgovernado. O efeito seria inflação alta e sem controle, prejudicando os mais pobres, com os quais o partido diz preocupar-se. Há outras impropriedades, mas não há espaço para comentá-las.
“É provável que, no poder, ele reedite o cenário de 2003, embora pareça difícil aprovar as reformas”
Outra hipótese seria a reedição do Lula pragmático de 2003, quando desprezou o programa do partido, que assustava até no nome: “Uma ruptura necessária”. Manteve o tripé macroeconômico do governo de FHC. Convidou um banqueiro para presidir o Banco Central. De partida, a equipe econômica elevou a taxa Selic e o superávit primário. O choque de credibilidade fez cair a percepção de risco, o dólar e os juros futuros. O país pôde beneficiar-se do boom de commodities decorrente da ascensão da China, cujos ganhos contribuíram para financiar o aumento dos gastos sociais, inclusive os decorrentes da elevação do salário mínimo. A boa avaliação do governo permitiu a reeleição de Lula.
A defesa de más ideias pode ser uma estratégia para manter a base de apoio do ex-presidente, que as almeja. Assegurada a vitória, ele sinalizaria um rumo oposto, como fez após o segundo turno das eleições de 2002. Se, todavia, Lula preferir seguir tais ideias — o que tem assustado investidores e acentuado a rejeição de seu nome entre o eleitorado mais esclarecido, que começa a simpatizar novamente com Bolsonaro —, o desastre é garantido. Mesmo que o Congresso as rejeitasse, o simples ato de propô-las seria desastroso. A queda de confiança, a fuga de capitais e a alta do dólar provocariam, entre outros males, inflação sem controle, desemprego e forte perda de popularidade, o que colocaria em risco a continuidade do mandato.
Lula já provou que é mais esperto do que se pensa. É provável que ele promova a reedição do cenário de 2003, embora pareça difícil vencer o desafio de aprovar as reformas, sobretudo a fiscal, que possam livrar o país da armadilha do baixo crescimento.
Publicado em VEJA de 30 de março de 2022, edição nº 2782
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