Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

Se houvesse um golpe

Seria um desastre político, social e econômico

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 24 Maio 2022, 18h04 - Publicado em 21 Maio 2022, 08h00

Tem sido frequente a manifestação de receios de um golpe de Estado. Seria a reação do presidente Jair Bolsonaro a eventual derrota na eleição de outubro próximo. Seu habitual questionamento sobre a segurança das urnas eletrônicas é visto como preparação para a ruptura. O aparente apoio do ministro da Defesa e de grupos militares às teses de Bolsonaro sinalizaria o engajamento das Forças Armadas no golpe.

É pouco provável que isso aconteça. O país e o mundo mudaram. No governo Sarney, as escolas militares reformularam os cursos de formação de oficiais para aumentar a profissionalização das Forças Armadas e nelas acentuar o caráter de organizações do Estado. Desde então, oficiais legalistas passaram a constituir o grosso do generalato. O sistema político, por sua maioria, se oporia ao golpe, pois perceberia o risco de fechamento do Congresso. A seu turno, o Poder Judiciário tem-se constituído poderoso obstáculo às investidas autoritárias do presidente.

Além disso, não existe o apoio de que gozou, em seus primórdios, o movimento militar de 1964. Naquela época, golpes constituíam reação à ameaça comunista. O novo governo era reconhecido rapidamente pelos Estados Unidos e por outros países ricos. Havia a aprovação da imprensa e da classe média. Agora, com o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo soviético, o golpe seria condenado por líderes mundiais, particularmente nos países ricos. Isolado, o Brasil poderia sofrer sanções danosas ao potencial de crescimento da economia, da renda e do emprego.

“Isolado, o Brasil poderia sofrer sanções danosas ao potencial de crescimento da renda e do emprego”

A comunidade internacional reagiria com duras medidas. Ao lado de sanções comerciais e financeiras, o país seria excluído da lista de candidatos a membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e dos grupos de que já participa nessa entidade. O Mercosul acionaria a cláusula democrática de seus estatutos, a qual não admite que regimes autoritários dele participem. A expulsão afastaria o Brasil da tarifa externa comum, o que aumentaria o ônus aduaneiro e nos prejudicaria no principal mercado de nossas exportações para o bloco, a Argentina.

Continua após a publicidade

O interesse dos investidores estrangeiros se esvairia, seja pelas incertezas que o golpe imporia, seja pela observância das regras de ESG (meio ambiente, social e governança) hoje adotadas pela grande maioria das empresas multinacionais. Com a correspondente perda de confiança no futuro, investidores institucionais estrangeiros deixariam o país. A consequente e forte desvalorização cambial acarrearia elevadas pressões inflacionárias. O drama do baixo crescimento, que nos tem atormentado nos últimos anos, seria agravado. O golpe provocaria, portanto, efeitos negativos de grandes proporções, impondo severas perdas à economia e à sociedade, particularmente aos segmentos menos favorecidos.

De forma competente, as Forças Armadas reconstruíram sua imagem depois das perdas no regime militar. Custa crer que se aventurariam a destruir esse admirável legado.

Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.