Em 24 horas, um acordo de 51 acionistas que derrubou os planos de Tanure
Polêmico empresário queria ser dono da Alliar, uma rede de laboratórios de diagnósticos por imagem; Rede D'Or também disputava o ativo
Era quarta-feira, dia 18, à noite, quando o médico Sergio Tufik tomou a decisão de que não poderia deixar sua empresa de diagnóstico por imagem ser tomada de assalto. Tufik, dono de 18% da Alliar, junto com o médico Roberto Kalil Issa, que é o segundo maior acionista individual da empresa, conseguiram num prazo recorde de 24 horas reunir 51 assinaturas de acionistas, que estão nos mais diferentes pontos do país, para formar um bloco de controle capaz de impedir que Nelson Tanure fosse adiante nos seus planos. O polêmico empresário, conhecido por suas investidas em empresas em dificuldades e agressividade nos negócios, comprou há duas semanas cerca de 5% da Alliar, colocados à venda pelo Pátria, em um leilão. Sergio Tafik, que também participou da disputa porque achava que a ação estava barata, foi pego de supresa.
Nesta semana, mais uma vez Tafik foi surpreendido por Tanure, que fechou acordo para comprar os outros 20% que estavam nas mãos do Pátria. Os planos de Tanure eram o de aumentar capital, reduzir dívida e diluir as dezenas de acionistas. Em entrevista ao Brazil Journal, ele disse: “minha filha é médica e já tinha investimentos na área”. Com o capital pulverizado, e já dono da parte do Pátria, parecia fácil. Além disso, a empresa de diagnóstico nunca conseguiu decolar depois do seu IPO e ainda foi atropelada pela pandemia, que reduziu as cirurgias eletivas e com isso a demanda de diagnósticos por imagem.
Mas não bastasse a investida de Tanure, a Alliar foi pega de supresa com uma oferta hostil da Rede D’Or, que estava comprando ações no mercado para também tomar a companhia. Segundo fontes do mercado financeiro, outros laboratórios se apressaram a analisar o negócio para fazer ofertas. O resultado da correria é que, em cinco dias, a ação subiu quase 30%. E o acordo de acionistas anunciado nesta sexta-feira, 20, valorizou ainda mais a empresa, que sobe 10%.
O advogado Fernando Meira, do escritório Pinheiro Neto, que assessorou toda a negociação entre os acionistas, disse que este acordo a toque de caixa só foi possível porque os laboratórios são um patrimônio criado por esses médicos, já que a Alliar surgiu da união de centros de diagnósticos espalhados pelo país, e que de uma hora para outra perceberam que poderiam ficar de fora. Mas o acordo relâmpago, anunciado na manhã desta sexta-feira, também só foi possível por uma facilidade criada pela pandemia que instituiu a assinatura digital nos contratos.
Agora, além do bloco de controle decidir junto o rumo dos negócios, os interessados em comprar a empresa também terão que pensar em ofertas acompanhadas de tag along, ou seja, uma oferta para todos os acionistas. Resumo da ópera: Tanure ainda pode sair ganhando se a oferta de um futuro comprador for maior do que o preço que ele pagou ao Pátria ou pode, quem sabe, ele mesmo botar mais dinheiro no negócio e convencer os médicos a venderem seus laboratórios.
Em nota à coluna, Nelson Tanure informou que começou a comprar ações da Aliar no primeiro semestre deste ano e aguardou a hora certa para concluir a aquisição da fatia de 30%. Segundo ele, a Alliar estava subavaliada pelo mercado. “Trata-se de uma companhia com renomados acionistas médicos e a intenção jamais foi a de ultrapassar um terço de seu controle.”