PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

Petróleo: maldição ou bênção?

A resposta dependerá da solidez de nossas instituições

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 4 jun 2024, 15h13 - Publicado em 8 nov 2019, 06h00

Muito se escreveu sobre efeitos e expectativas de prosperidade com as descobertas de recursos naturais, sobretudo de petróleo. Na maioria dos casos, ao contrário do que diz o senso comum, elas provocam menor crescimento e geram problemas sociais. É o que se chama de “maldição dos recursos naturais” ou também “maldição do petróleo”.

O FMI estudou o fenômeno em 2017 (análise disponível no site da instituição). Citou como exemplo o que ocorreu em Gana, alvo de uma onda de otimismo ao tornar-se, em 2009, o primeiro país africano visitado pelo presidente americano Barack Obama. A economia crescera em média 7% ao ano entre 2003 e 2013.

Grandes reservas de petróleo e gás foram encontradas entre 2007 e 2010. O presidente da República, John Kufuor, vibrou: “Se já vamos bem sem petróleo, com ele vamos voar”. A bonança deu origem a imprudência, excesso de gastos e, por fim, dívida. Gana não voou. O crescimento, ao invés de se intensificar, caiu para menos de 4% entre 2014 e 2016.

O Brasil viveu situação semelhante com as descobertas do “ouro negro” na plataforma de Campos e depois no pré-­sal. Municípios fluminenses desperdiçaram royalties. O pré-sal deu origem a más políticas econômicas, que interromperam a agenda de modernização e reformas do governo FHC, mantida nos três primeiros anos do período Lula.

Ao contrário do que diz o senso comum, a descoberta do “ouro negro” pode provocar crescimento baixo e problemas sociais

Continua após a publicidade

O cientista político Marcus Melo mostrou que tal interrupção começou com a interpretação dada por Lula à crise financeira mundial de 2008, entendendo-a, num keynesianismo equivocado, como senha para ampliar gastos. No mesmo ano, a Petrobras fez a primeira extração do pré-sal. Entusiasmado, o governo embarcou em expansão fiscal e outras medidas para supostamente aquecer a economia. A fatídica Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff transferiu cerca de 500 bilhões de reais ao BNDES para distribuir subsídios e causou nossa maior recessão. De quebra, houve o esquema de corrupção organizada.

A maldição do petróleo costuma ocorrer em países onde as instituições são fracas, assim falhando em inibir ações irresponsáveis. A Venezuela, infeliz exemplo, desarranjou-se a partir de 1999 com Hugo Chávez e ultimamente com Nicolás Maduro. Já os países dotados de instituições fortes escapam da maldição, gerenciam bem a economia e transformam descobertas em bênçãos.

A Noruega, bom exemplo, utilizou o petróleo para construir uma forte indústria associada à sua exploração e produção, revertendo a bonança a um fundo soberano — o maior do mundo — em favor das gerações futuras. O governo gasta apenas os rendimentos das respectivas aplicações. Seus ativos superam 1 trilhão de dólares.

Continua após a publicidade

No Brasil, uma diminuta parte dos recursos do pré-sal se destina a um fundo social. São elevadas as pressões para usá-los em mais gastos e transferências a estados e municípios — o que ocorreu com o recente leilão da cessão onerosa. Felizmente, nossas instituições, incluída a imprensa, são sólidas e podem limitar experiências ruins e, quem sabe, tornar nosso petróleo uma bênção.

Publicado em VEJA de 13 de novembro de 2019, edição nº 2660

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.