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Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Ideias antigas nos perseguem

Teorias conspiratórias e fanatismo ainda assombram o país

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 11 out 2019, 10h54 - Publicado em 11 out 2019, 06h00

Concepções sobrepujadas pelo conhecimento e pelo avanço civilizatório continuam firmes no Brasil. Três delas reemergiram recentemente. A primeira, no governo federal, invocou a teoria conspiratória da cobiça internacional por nossa Amazônia. A segunda, da mesma esfera, recorreu à tese de que ficaremos ricos com a floresta. A terceira, do prefeito do Rio de Janeiro, investiu contra um gibi que exibia um beijo entre dois homens.

O medo de uma invasão da Amazônia por potências estrangeiras preocupou o Brasil por muito tempo. Baseava-se na era dos grandes impérios, que buscavam poder e prosperidade via expansão territorial. Isso dependia de reunir recursos humanos, materiais e financeiros para invadir, ocupar e explorar países bem-dotados de matérias-primas, ouro e prata. A estratégia perdeu sentido no fim do século XIX. Desde então, um dos poucos líderes a adotá-­la de fato foi Adolf Hitler.

A ideia de que recursos naturais asseguram por si sós a ascensão ao status de país rico ainda permeia muitas mentes. Havia sido assim, dizia-se, na elevação do Reino Unido à condição de potência mundial. O gigantesco império britânico se nutria de matérias-primas das colônias, que eram também mercado para seus produtos manufaturados. O historiador escocês Niall Ferguson desmontou a tese ao provar que as colônias corresponderam a apenas 16% da sua prosperidade.

“As fontes básicas do crescimento da economia são o investimento, o capital humano e a produtividade”

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O Reino Unido continuou a progredir após a descolonização, e a razão é clara: as fontes básicas do crescimento da economia são o investimento, o capital humano e a produtividade. O conhecimento vale mais do que matérias-­primas. Os territórios ocupados não foram tão relevantes para o êxito dos conquistadores.

Os Estados Unidos são bem-dotados de recursos naturais. A extensão de terras férteis em zona temperada — mais favoráveis à agricultura — dificilmente tem paralelo. No livro The Accidental Superpower, Peter Zeihan mostrou que os rios americanos navegáveis percorrem 23 440 quilômetros. Na China, 3 200 quilômetros. Na França, 1 600 quilômetros. Ótimo para a logística. Hoje, com toda essa bonança, a agricultura representa apenas 1,3% do PIB americano. A riqueza vem essencialmente de outras fontes.

Se recursos naturais bastassem, a Venezuela não viveria uma tragédia humanitária. Mais de 5 milhões de venezuelanos foram embora, o que, segundo a ONU, reduziu a população em quase 12%. A abundância de petróleo não enriqueceu a Nigéria. Possuir riquezas em seu território não é tudo. Há que criar condições para sua extração e processamento, o que requer instituições, tecnologia, bons governos e educação de qualidade.

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O prefeito carioca recorreu à Justiça para contentar grupos religiosos obscurantistas, mas nos transportou à Idade Média. Nessa época, o fanatismo cristão contra pagãos destruiu obras de arte tidas como obscenas, demoliu templos e queimou livros. Apenas 1% da literatura latina sobreviveu.

O Brasil não avançará de verdade enquanto líderes governamentais insistirem em ideias que o tempo já condenou.

Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656

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