Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Conteúdo para assinantes
Continua após publicidade

Ainda precisamos de estatais?

O modelo baseado em companhias públicas se esgotou há tempos

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 27 set 2019, 09h35 - Publicado em 27 set 2019, 06h55

Inexistem razões técnicas para manter empresas estatais no Brasil. O setor privado dispõe de recursos humanos, gerenciais e financeiros para substituí-las e torná-las mais eficientes, elevando o potencial de crescimento da economia, da renda e do emprego.

Companhias desse tipo são um fenômeno datado de época de grandes transformações. Apareceram de forma episódica na Europa entre a Renascença e o fim do século XVIII, particularmente durante o período mercantilista (séculos XV e XVIII). Com a política de “manufaturas reais”, Jean-Baptiste Colbert, ministro de Luís XIV, delas se valeu para obter superávits comerciais.

No século XIX, inspirados pela Revolução Industrial inglesa, países como Bélgica, França, Prússia, Áustria, Espanha e Japão criaram estatais. O objetivo era suprir falhas de mercado em setores como ferrovias, bancos e energia, que haviam surgido naturalmente em solo britânico.

A partir da primeira metade do século XX, razões ideológicas as justificaram na União Soviética, na Alemanha nazista e na Itália fascista. Elas também surgiram por motivos de defesa nas áreas de metalurgia e de recursos naturais no Reino Unido, França, Áustria e Holanda.

O auge veio no pós-guerra, culminando na ampla estatização de empresas privadas europeias. Era, dizia-se, o caminho para distribuir melhor o poder na sociedade. Daí viria um novo equilíbrio socioeconômico baseado na redução do poder do capital privado e no empoderamento dos trabalhadores. O resultado seria o pleno emprego e uma verdadeira democracia econômica. Essa foi a tônica em países governados por partidos social-democratas.

Continua após a publicidade

Essas empresas imbricaram-se com o corporativismo e a cultura hostil ao lucro privado que permeiam o país

No Brasil, o ápice ocorreu igualmente no pós-guerra, embora já existissem empresas públicas em setores como correios, bancos e mineração. Visava-se promover o desenvolvimento mediante sua atuação em áreas tidas como estratégicas: siderurgia, petróleo, crédito de longo prazo, energia e telecomunicações. Em casos como o da Embrapa, o status de estatal lhe deu a flexibilidade que inexistiria se ela fosse um departamento da administração direta do governo.

Nos anos 1980, o mau desempenho das estatais e o colapso do regime soviético determinaram o declínio da visão milagrosa a elas atribuída, qual seja, seu papel no desenvolvimento e em mudanças sociais utópicas. A reação ao seu peso excessivo e ao domínio por sindicalistas foi a base de programas de privatização mundo afora. O Japão já o fizera no alvorecer do século XX.

Aqui, essas empresas imbricaram-se com o corporativismo e a cultura hostil ao lucro privado que permeiam a sociedade brasileira. Daí a dificuldade de privatizar, mesmo que o tempo delas já tenha passado. Basta lembrar a batalha campal no caso da Vale e no da Telebras. Lula comandou comícios contra a medida. Foram criados piquetes em frente à bolsa de valores. Políticos diziam uma grande bobagem: não caberia vender companhias que dessem lucro.

Continua após a publicidade

Somente visões ultrapassadas e a força de interesses políticos e corporativistas mantêm a presença de estatais no país. O que é uma pena.

 

 

Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.