É o juro, estúpido!
Nem se fosse mágico o presidente do Banco Central faria 1 carta coerente sobre inflação baixa demais a um governo irresponsável no trato da política fiscal.
Juro de mais de 350% no cartão de crédito em ambiente de inflação abaixo de 3%, e 12,6 milhões de desempregados: nem se fosse mágico, Ilan Goldfajn, escolhido hoje o melhor banqueiro central do mundo pela revista The Banker, se livraria da inusitada tarefa de mandar uma carta ao ministro da Fazenda para justificar a inflação abaixo da meta.
Agora é oficial. A inflação perseguida, e pela qual o Banco Central é responsável, deveria ter ficado em 3%, no mínimo, em 2017.
Deu 2,95%, conforme anúncio também hoje do IBGE.
Em primeiro lugar, a queda da taxa básica de juros comandada por Ilan foi nominal.
A Selic estava em 14,25% no fim de 2015, e hoje está em 7%.
Só que a inflação caiu mais. De 10,67% em 2015, para os 2,95% de agora.
Pior: só mesmo no Brasil para convivermos com juros de mais de 350% na ponta do crédito (rotativo do cartão) quando a inflação está em um dígito e a economia, anêmica.
Muito se tem falado que a inflação baixou demais porque os alimentos, menos responsivos ao movimento dos juros, caíram muito devido ao comportamento do mercado internacional bla bla bla.
Ok, esse fator contribuiu para o IPCA menor, mas, sozinho, não teria nem feito cócegas nos índices finais.
Outra razão para o Banco Central ter “falhado” no cumprimento da meta: a renúncia fiscal no país dos privilégios.
A Receita Federal estima que vai deixar de arrecadar mais de R$ 280 bilhões em 2018, tantos são os subsídios, isenções fiscais, perdões ou renegociações de dívidas e outras tantas vantagens tributárias distribuídas aqui e ali por um governo que segue sendo irresponsável na gestão das contas públicas.
Assim, o Planalto joga pro alto, como se não fosse com ele, um dos 3 pés que precisam ser mantidos firmes no chão para a estabilidade econômica de uma nação: o fiscal, isto é, o controle das despesas versus as receitas.
Os outros dois são o câmbio (hoje sossegado porque o mundo nada em enorme quantidade de dinheiro, parte dela jorrando para o Brasil = leiam-se enormes reservas em dólar) e o monetário (que, sim, compete a Ilan Goldfajn).
Uma jabuticaba, em particular, vem a ser uma enorme pedra no caminho do Banco Central, em sua inglória tarefa de zelar sozinho pela moeda. Ela pertence a esse pé fiscal que o governo insiste em desafiar, e atende pelo nome de concentração do crédito em bancos oficiais (BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil).
Ainda que os bancos privados tivessem acompanhado a queda (só nominal) da Selic na ponta do crédito (o que não fizeram), sabe-se que eles respondem, hoje, pela metade dos empréstimos no Brasil.
Instituições financeiras oficiais, com sua peculiar distribuição de dinheiro do público a empresas “amigas”, respondem por outra metade.
A bagunça segue solta.
A inflação ficou abaixo da meta porque o governo não fez a parte dele.
E porque os juros, tanto os nominais quanto os reais, continuam na estratosfera, estúpido!