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COP30: Brasil tem agronegócio vulnerável e travado em gargalos estruturais, aponta estudo

Irrigação limitada, assistência técnica precária e crédito desigual ampliam riscos climáticos; governo vê chance de transformar desafios em vitrine

Por Ernesto Neves Atualizado em 17 nov 2025, 11h56 - Publicado em 17 nov 2025, 10h45

O Brasil inicia a segunda semana da COP30 com a ambição de se posicionar como liderança global em adaptação climática, mas enfrenta um conjunto de gargalos estruturais que afetam diretamente sua competitividade agrícola.

Um novo relatório produzido pela Systemiq mostra que a produtividade e a resiliência do campo seguem comprometidas por deficiências históricas, sobretudo na irrigação, assistência técnica e acesso ao crédito, áreas consideradas centrais para atrair investimentos e reduzir riscos econômicos diante da instabilidade climática crescente.

A irrigação é o ponto mais crítico. Hoje, menos de 1% da área agropecuária é irrigada, apesar do potencial estimado de até 55 milhões de hectares. Para Patricia Ellen, sócia-presidente da Systemiq, a limitação já representa risco estratégico.

“A baixa cobertura de irrigação se torna um dos principais riscos de adaptação e resiliência para a agricultura brasileira”, diz.

Segundo ela, a expansão esbarra em obstáculos conhecidos, como a disputa por água em diversas bacias, custos elevados e incertezas sobre outorgas.

Ela defende a adoção de sistemas mais eficientes como solução econômica e climática: “Para equilibrar expansão da irrigação com a escassez de água, é fundamental priorizar sistemas eficientes, combinando energia renovável com irrigação de precisão e manejo adequado.”

O estudo também mostra que 60% das pastagens brasileiras estão degradadas, reduzindo produtividade e ampliando custos operacionais.

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A recuperação dessas áreas é vista por analistas como o maior potencial de retorno econômico no curto prazo, ao permitir ganhos de produtividade sem ampliar a fronteira agrícola, melhorar o balanço de carbono e atrair financiamento climático internacional, área na qual o Brasil pretende avançar durante a COP30.

Outro ponto sensível é a assistência técnica rural. Segundo o relatório, 78% das propriedades de até 100 hectares não têm acesso ao sistema, o que compromete produtividade, manejo de solo e capacidade de adaptação.

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Ela lembra que a ausência de orientação técnica gera perdas diretas, maior vulnerabilidade e custos mais altos por unidade produzida. “Agricultores acompanhados têm de 20% a 50% mais produtividade”, afirma.

A desigualdade regional no crédito rural aprofunda a fragilidade econômica do setor.

Embora o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) seja a principal política de financiamento do pequeno produtor, apenas 13% dos recursos chegam ao Nordeste, região mais exposta ao estresse hídrico.

Para Ellen, ampliar o orçamento não basta: “O desafio do PRONAF não é só ter mais recursos, e sim usar melhor o que já existe.”

Ela aponta três travas centrais, documentação deficiente, baixa educação financeira e falta de assistência técnica, que deixam agricultores fora do sistema.

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A executiva defende uma integração entre financiamento e orientação. “É preciso integrar crédito e assistência técnica, garantindo que cada operação venha acompanhada de manejo de risco climático.”

A baixa cobertura do seguro rural também preocupa economistas e formuladores de políticas. A soja concentra quase 38% das apólices, enquanto alimentos básicos como arroz, feijão e café representam menos de 8%.

Sem proteção adequada, produtores absorvem prejuízos crescentes, o que reduz investimento, gera volatilidade de renda e limita a modernização tecnológica.

Projeções da FGV Agro indicam que, sem medidas robustas de adaptação, a produção de milho safrinha pode cair até 80% em 258 municípios até 2050, ampliando riscos para cadeias produtivas inteiras.

O governo vê na COP30 a chance de alavancar recursos internacionais e transformar vulnerabilidades em vitrine diplomática, reforçando a narrativa de potência agroambiental.

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Mas especialistas alertam que o país só conseguirá sustentar esse discurso se avançar de forma coordenada.

A recuperação de pastagens, a expansão da irrigação eficiente, a universalização da assistência técnica e a redistribuição do crédito são apontadas como medidas urgentes para estabilizar a produção diante do aquecimento global.

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