Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Líderes e fiéis tentam alimentar a fé na web

Por Cecília Araújo
1 abr 2010, 11h47

“Deveria haver um equilíbrio entre avanços materiais e espirituais, um equilíbrio obtido por meio de princípios baseados no amor e compaixão.” Reflexão ou pregação, essas palavras, escritas pelo Dalai Lama na última sexta-feira, podem ter alcançado instantaneamente 200.000 pessoas – 209.356, na verdade, número de seguidores do perfil do líder espiritual do Tibete no Twitter àquela altura.

Budistas ou cristãos, judeus ou muçulmanos, praticantes de várias religiões abraçaram a rede. Confira no quadro abaixo depoimentos de líderes e fiéis sobre o assunto. Eles tentam ampliar os caminhos da fé utilizando ferramentas como YouTube, Orkut e Facebook. E a pregação eletrônica suscita também discussões e dúvidas em relação ao credo. Confira a análise dos estudiosos.

Em 2009, o Vaticano lançou seu canal próprio no YouTube, que desde então divulga atividades da Igreja Católica. O conteúdo se concentra nos discursos do Papa Bento XVI, em vídeos produzidos pela TV oficial do Vaticano. Embora ainda não tenha lá arrebanhado muitos simpatizantes, são cerca de 22.000, suas pregações já foram assistidas mais de 2 milhões de vezes. O curioso: quem coordena o serviço não é um jovem aficionado em tecnologia, mas sim uma freira sexagenária, a americana Judith Zoebelein. Ela foi responsável também pelo site do Vaticano – considerado um sucesso para o gênero, somando mais de 1 milhão de pageviews ao mês.

Os religiosos querem, é claro, arrebanhar fiéis. Contudo, antes da evangelização, é preciso algumas vezes ensiná-los a ler – ou melhor, utilizar as ferramentas da rede. Pastores da evangélica Westwinds Community Church, do estado americano de Michigan, investiram duas semanas ensinando integrantes de sua congregação a usar o Twitter. Todos levaram laptops, iPhones e BlackBerrys à oficina para aprender a criar perfis e a atualizá-los com suas próprias mensagens. Os fiéis, então, foram orientados e elaborar perguntas relativas aos sermões da igreja. Os pastores aceitaram até uma prática em tese temerária: a postagem durante o culto. Grandes telas foram instaladas nos locais de encontro, os tweets (textos publicados via Twitter) podem, inclusive, ser lidos por todos ali reunidos em tempo real.

Em outros locais, as igrejas tentam combater com a tecnologia os obstáculos à prática da fé. Para os religiosos declarados que não frequentam a igreja, por exemplo, a Northland Church, de Chicago, lançou um aplicativo para o iPhone que permite que os sermões de seus pastores cheguem aos telefones de seus seguidores. Se o fiel não vai à igreja…. o pastor vai até o fiel.

A rede a serviço das religiões

A rede a serviço das religiões

Clique nas abas e, a seguir, nas fotos para ler depoimentos de fiéis e líderes religiosos

‘Fui batizada na Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas aos 17 anos passei a questionar alguns preceitos dela. Cheguei a procurar outras religiões, porém passei anos sem me identificar com nenhuma delas. Mais tarde, ao começar a estudar inglês, fiz contato com um indiano muçulmano. Toda vez que ele recitava o Corão, eu sentia uma emoção muito forte. A partir de então, passei a buscar informações sobre o Islã na internet, até encontrar a mesquita que frequento agora. Também comecei a participar de comunidades virtuais. Conheço inúmeros sites, pelos quais tenho acesso ao Corão e a músicas relacionadas, além de fóruns que esclarecem mitos e verdades sobre o assunto e estimulam as pessoas a conhecerem a religião.’

Tabela
‘Perdi um amigo em um acidente de carro quando era mais jovem e tive muita dificuldade em administrar essa perda. Buscava explicações, e algumas pessoas me falaram da possibilidade de a missão dele nesta encarnação ser de fato mais breve – uma interpretação espírita para o fato. Eu quis entender melhor isso e passei a buscar informações em um portal da internet. Achei interessante o que li, pois fazia com que as pessoas conhecessem Evangelho de uma forma mais leve, através de palestras virtuais. É possível também tirar dúvidas on-line. Foi um incentivo para procurar livros e DVDs sobre o assunto e passar a frequentar um centro espírita.’

Tabela
‘Ouvi falar de Dalai Lama em um período de grande tensão, em que vivia entre um doutorado em São Paulo e a coordenação de um programa de saúde do Rio. Não sou aficionada por internet, mas nesse processo a pesquisa on-line foi inevitável. A partir da busca por palavras como ‘meditação’ e ‘budismo’, conheci a lógica dos termos. Depois das leituras, participei de um retiro de três dias, com mais dez pessoas que nunca havia visto, em completo silêncio. Voltei às minhas rotinas diárias com uma nova dimensão do cotidiano. Percebi que precisava dialogar com alguém sobre o assunto, mas nenhum amigo era budista: então, procurei na internet uma sangha – comunidade espiritual de praticantes budistas. Hoje, recebo mensagens de grupos virtuais de Porto Alegre, São Paulo e Curitiba.’
‘As mídias, comunidades e bibliotecas virtuais ajudam muito no entendimento do budismo. Antes era preciso ir à Índia, China ou Japão para se aprender a meditar. Agora, existem muitos sites de ótimo conteúdo sobre assunto, e o YouTube tem um canal específico para isso: o Dhammatube, com palestras dos monges mais respeitados como Thitch Nat Hahn, Dalai Lama, Bhante Gunaratana e Ajahn Sumedho. As novas mídias funcionam bem para informar e divulgar, embora isso não substitua a vivência da meditação, cânticos e trabalho voluntário.’

Site da SBB

Continua após a publicidade

Tabela
‘Para nós, a internet é muito importante como meio de comunicação, principalmente dentro da perspectiva de evangelização. Além disso, podemos ler comentários da Bíblia, ver imagens de lugares distantes, como catedrais de outros países, assistir a vídeos no YouTube, coisas que realmente elevam o espírito. Não devemos desperdiçar essa oportunidade. Mas temos que estar atentos, para que não haja desvios. Encontramos facilmente sites de pornografia, blasfêmias e ideias neonazistas, que espalham ódio pela rede.’

Site Amai-vos

Tabela
‘O conteúdo da TVCEI (canal de TV transmitido pela web) é voltado para o público espírita, mas como apresenta temas universais – como vida após a morte – pessoas com outras crenças também têm assistido às suas atrações. Entre os espíritas, há quem consiga captar energias positivas transportadas pelos meios de comunicação. Vivemos um momento em que nenhum conhecimento deve ser escondido, e a internet colabora para essa difusão. Ela ajuda ainda a desmitificar a ideia de que o espiritismo é uma religião obscura e a mostrar que, ao contrário, ela traz luz à humanidade.’

Tabela
‘A internet é o meio mais fácil e rápido de se comunicar com a maioria das pessoas, levando mensagens islâmicas. Percebo um movimento forte entre os jovens da comunidade de interagir e divulgar o Islã na rede. Porém, também já foram propagadas inúmeras acusações equivocadas sobre a religião, por isso a necessidade de declarar que o Islã é pacífico e a favor da convivência entre as religiões. A partir desse conhecimento, é possível que mais pessoas se convertam e abracem o Islã, como já houve tantos casos.’

Site do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu

Continua após a publicidade

Tabela
‘Sentia falta de um portal brasileiro voltado à comunidade judaica. Temos muitos jornais e revistas com esse objetivo, mas não há muita coisa na internet com atualização diária. Até hoje, somos um dos poucos que fazem isso, por intermédio do Pletz.com. Procuramos atender a todos os tipos de público, do mais ortodoxo ao mais afastado. Tenho percebido que muitas pessoas buscam suas origens judaicas na internet. As pessoas buscam pelo calendário e pelas regras, procuram obter mais informações sobre a religião.’
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.