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Escritora canadense Alice Munro ganha Nobel de Literatura

Autora de 82 anos é uma das mais importantes contistas da língua inglesa contemporânea - e a 13ª mulher laureada com o prêmio da Academia Sueca

Por Da Redação
10 out 2013, 08h15

A escritora canadense Alice Munro, de 82 anos, é a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2013, anunciou nesta quinta-feira a Academia Sueca. Alice é a 13ª mulher a vencer o Nobel nesta categoria e receberá o equivalente a 1,2 milhão de dólares (2,6 milhões de reais). A autora é uma das mais importantes contistas da língua inglesa contemporânea. Sem nenhum proselitismo feminista, sua ficção examina com doses iguais de delicadeza e argúcia a vida angustiada de protagonistas femininas em grotões provincianos.

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Fugitiva

Carla ouviu o carro chegando antes que atingisse o topo da pequena elevação na estrada que, naquela área, chamavam de morro. É ela, pensou. A sra. Jamieson – Sylvia – de volta das férias na Grécia. Da porta da cocheira – mas recuada o bastante para não ser vista com facilidade – ficou olhando para o caminho pelo qual a sra. Jamieson teria de passar. Sua casa ficava apenas um quilômetro adiante da casa de Clark e Carla, na mesma estrada.

Se fosse alguém pensando em entrar pela porteira deles, já estaria reduzindo a velocidade a essa altura. Mas ainda assim Carla torcia. Tomara que não seja ela.

Era. A sra. Jamieson virou a cabeça uma vez só, bem depressa – o máximo que podia, manobrando o carro em meio às poças e valas que a chuva abrira no cascalho -, mas não tirou nenhuma das mãos do volante para acenar, não viu Carla. Carla vislumbrou um braço bronzeado exposto até o ombro, cabelos num tom mais claro do que eram antes, agora mais brancos que de um louro prateado, e uma expressão decidida e exasperada, mas de quem acha graça da própria exasperação – exatamente do jeito que devia ficar a cara da sra. Jamieson às voltas com uma estrada como aquela. Quando ela se virou, Carla surpreendeu alguma coisa como um lampejo brilhante – de curiosidade, de esperança – que a fez encolher-se.

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Autor: MUNRO, ALICE

​Editora: Companhia das Letras.

No Brasil, já lançou os livros de contos O Amor de uma Boa Mulher (2013), Felicidade Demais (2010) e Fugitiva (2006) [leia trecho no box ao lado], pela editora Companhia das Letras, e Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, pela editora Globo. Em 2009, foi a ganhadora do prêmio Man Booker Prize.

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Biografia – A escritora laureada nesta quinta nasceu na pequena cidade de Wingham, Ontário, em 10 de julho de 1931. Começou a escrever ainda na adolescência e publicou seu primeiro conto The Dimensions of a Shadow (As Dimensões de uma Sombra, em tradução livre) em 1950, aos 18 anos, quando cursava o primeiro ano na Universidade de Western Ontario. A obra foi publicada no jornal da instituição, Folio. No ano seguinte, Alice abandonou os estudos para se casar com James Munro, com quem teve quatro filhos: Sheila (1953), Catherine (1955), Jenny (1957) e Andrea (1966). Catherine acabou morrendo no mesmo dia em que nasceu.

A vida de mãe e esposa postergou o lançamento de sua primeira coletânea, Dance of the Happy Shades (Dança das sombras alegres, em tradução livre), publicada em 1968. No total, Alice já lançou 14 livros. “Eu nunca tive a intenção de me tornar uma contista”, disse a escritora em entrevista ao jornal The New York Times, em 1986. “Eu comecei a escrever contos porque eu não tinha tempo para escrever outras coisas – eu tinha três crianças”, disse em tom bem humorado na época.

Em 2006, Alice declarou ao jornal canadense The Toronto Globe and Mail, que estava aposentada. Porém, em 2009 lançou Felicidade Demais, que chegou ao Brasil no ano seguinte, e escreveu mais uma coletânea de contos para o livro Dear Life (Querida Vida, em tradução livre), em 2012.

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Este ano a aposentadoria se tornou assunto novamente, durante uma premiação literária em Toronto, no Canadá, quando a autora voltou a afirmar que não escreveria mais. O motivo principal seria a necessidade de cuidar da saúde. Em 2009 ela foi submetida a uma cirurgia de ponte de safena e também passou por tratamento de combate a um câncer.

Atualmente a contista, que se tornou a primeira mulher no Canadá a ganhar um Nobel de Literatura, vive em Clinton, cidade próxima àquela em que nasceu, também no interior. Locais bucólicos inspiraram sua escrita.

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Favoritos – A eleição de Alice demonstrou, mais uma vez que, embora as listas prévias sejam uma tradição, elas não costumam acertar com frequência, salvo em casos isolados, como o do turco Orhan Pamuk, indiscutível favorito e ganhador em 2006, e do chinês Mo Yan, vencedor em 2012 e que já figurava nas apostas do ano passado. Em sua já centenária história, a Academia Sueca mostrou que também é capaz de escolher nomes inesperados como o da austríaca Elfriede Jelinek ou da alemã Herta Müller.

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A canadense não figurava entre os favoritos ao prêmio. Na lista estavam o japonês Haruki Murakami e os americanos Joyce Carol Oates e Philip Roth. Murakami, que desperta mais entusiasmo nos seus inúmeros leitores do que na crítica, aparecia como um dos grandes favoritos a substituir o chinês Mo Yann. O seu nome surgiu com força na imprensa sueca e nas casas de apostas, onde também apareciam expoentes como a argelina Assia Djebar, o húngaro Peter Nadas, o queniano Ngugi wa Thiongo, o checo Milan Kundera, o irlandês William Trevor, o israelense Amós Oz e o dramaturgo norueguês Jon Fosse.

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