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Turismo ignora a crise e explode no Brasil em 2011

Instabilidade do dólar, aumento do IOF sobre compras internacionais em cartão de crédito e ameaça de crise não espantaram a avidez dos turistas brasileiros ao longo do ano

Por Ana Clara Costa
Atualizado em 5 jun 2024, 16h36 - Publicado em 9 dez 2011, 21h34

Houve uma época em que uma crise internacional poderia significar prejuízo para o setor hoteleiro do Brasil devido a uma brusca queda no número de turistas estrangeiros. Contudo, já há algum tempo, não é mais assim. Enquanto o desemprego e a ameaça de recessão assustam o hemisfério norte, o turista brasileiro desempenha como nunca a função de lotar voos, hotéis e pousadas não só na alta temporada, como também ao longo de todo o ano.

Segundo os últimos números do Ministério do Turismo, o indicador que mede a intenção de viajar dos brasileiros teve alta de 8,7% em setembro em relação às viagens programadas para a alta temporada. A expectativa é que, até o final de 2011, cerca de 3,5 milhões de brasileiros tenham viajado ao exterior, o que representa um aumento de 14% em relação a 2010. Com este número, turistas brasileiros, ao retornarem para o país, responderão por pouco mais de um terço dos nove milhões de desembarques internacionais previstos para o período. Os números do mercado interno também impressionam: a previsão é que os desembarques domésticos alcancem 79 milhões neste ano – ante 68,2 milhões em 2010.

Esse crescimento ocorreu em meio a um ambiente econômico bem menos otimista. A inflação continua a prejudicar a renda da população e acumula alta de 5,97% no ano; o dólar subiu 15% desde agosto, sendo alvo de extrema volatilidade; e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na utilização do cartão de crédito no exterior fez com que as compras dos brasileiros lá fora ficassem mais caras. Mas nada disso diminuiu o apetite pelo turismo. Tanto que o gasto dos brasileiros com cartão em viagens internacionais foi recorde em 2011, somando 11 bilhões de dólares entre janeiro e outubro – valor 22% superior ao que foi gasto no mesmo período de 2010. “Devido à alta da moeda americana, os turistas acabam comprando menos dólares em espécie. Mas, por outro lado, gastaram mais no cartão de crédito, mesmo com o IOF maior”, afirma Rodrigo Macedo, vice-presidente do Grupo FITTA, que possui uma rede de agências de câmbio.

O “boom” nas viagens ocorre por duas razões, na avaliação do economista Wilson Rabahy, especialista em economia e estatística do turismo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A primeira delas é o planejamento. Segundo Rabahy, a alta procura por pacotes turísticos de todos os tipos faz com que as famílias se planejem com meses de antecedência. “Há seis meses, não havia o menor sinal de que uma crise poderia se aproximar do Brasil”, afirma.

Praia do Taípe, no povoado de Trancoso em Porto Seguro, Bahia
Praia do Taípe, no povoado de Trancoso em Porto Seguro, Bahia (VEJA)
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Outro fator que motivou o aquecimento do setor é a renda dos turistas brasileiros, que demora a sofrer os efeitos de uma possível turbulência. “Em geral, são as famílias de baixa renda que são atingidas pelos primeiros efeitos da crise, sobretudo na hora de comprar alimentos. O turismo não é imediatamente afetado porque é movido por uma classe média e alta menos sensível a esses solavancos”, diz o economista. O fato de as famílias se planejarem com antecedência para as viagens também influencia o quadro, já que os pacotes, passagens ou estadias acabam sendo pagos com antecedência.

Empresas se preparam – De olho nesse público que tem transformado as viagens de férias e em feriados prolongados em hábito, a CVC – maior operadora de turismo do país – anunciou um aumento de 20% na oferta de pacotes para a alta temporada. A empresa não divulga o número das vendas, mas a oferta chega a 1 milhão de viagens, ante os 800 mil alcançados em 2010. Segundo a CVC, esse é o maior volume de pacotes já anunciado pela empresa em toda a sua história.

Já o site Decolar.com, que compara preços e vende passagens e pacotes, anunciou um crescimento de 100% em suas vendas neste ano. Até novembro, o portal havia sido utilizado por mais de 300 mil pessoas mensalmente. Segundo Alípio Camanzano, diretor da Decolar, a empresa conta com uma base com mais de 12 milhões de clientes que já fizeram alguma compra. “Nosso crescimento se dá por duas vias: o número cada vez maior de brasileiros que acessam a internet e aqueles que nunca viajaram de avião e estão comprando um pacote ou uma passagem pela primeira vez”, afirma Camanzano.

Os destinos nacionais preferidos por clientes de ambas as empresas estão no Nordeste e os preços não estão abaixo de 1.500 reais por viagem. Os pacotes mais baratos da CVC para o Reveillon na região estão em torno de 1.600 reais por pessoa, com passagem aérea. Contudo, viagens para o mesmo local, com hospedagem de alto padrão em resorts, saem por cerca de 7.000 reais por pessoa e já estão esgotadas. Fora do portfólio das operadoras de turismo, no litoral norte de São Paulo, uma hospedagem de sete dias em uma pousada de frente para o mar pode sair por até 14.000 reais para duas pessoas.

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Vista de Manhattan e o rio Hudson
Vista de Manhattan e o rio Hudson (VEJA)

Estados Unidos – No exterior, a cidade de Miami, na Flórida, foi o local preferido das viagens dos brasileiros em 2011, de acordo com o site Decolar.com. Segundo o Departamento de Turismo da Flórida, os cerca de 700.000 turistas brasileiros que desembarcaram na cidade movimentaram mais de 1 bilhão de dólares até setembro. O volume reflete o aumento no número de vistos americanos emitidos para brasileiros no período, que chega a 1 milhão – um salto de 44% em relação a 2010.

No entanto, é em Nova York que a presença dessa nova onda de turistas ávidos pelo consumo tem feito mais barulho. Segundo a NYC Company, que administra o turismo na cidade, antes da crise de 2008, os irlandeses eram considerados os turistas mais gastadores, que cruzavam o Atlântico apenas para comprar um iPhone no dia do lançamento, na Apple Store. Desde que a crise das hipotecas fragilizou a economia do país europeu, a cidade americana não conseguia identificar que nação substituiria a fama perdulária dos irlandeses. Agora sabem. Em 2010, o número de turistas brasileiros foi o que mais cresceu (77%) entre todas as nacionalidades que frequentam a metrópole. Eles gastam, cada um, cerca de 500 dólares por dia – duas vezes mais que a média internacional. Foram cerca de 600.000 desembarques do Brasil em 2010, ante 380.000 turistas vindos do país vizinho, México, cujo tempo de voo até Nova York não passa de três horas.

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