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Para a Hermès, o luxo é acessível à classe média – menos no Brasil

Em entrevista, o diretor da marca, Roland Herlory, afirma que carga tributária transforma o país em um mercado imaturo

Por Ana Clara Costa
25 set 2011, 14h58

Presente no Brasil há cerca de dois anos, a luxuosa marca francesa Hermès comemora seus resultados no Brasil. Localizada no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, onde opera em parceria com a própria incorporadora do shopping, a JHSF, a loja chega a faturar mais de dois milhões de reais por mês, segundo fontes do mercado de luxo. (A empresa não divulga seus números locais). Na última semana, trouxe ao Brasil seus principais executivos para a exibição do documentário Hearts and Crafts, dirigido por Frédéric Laffont e Isabelle Dupuy-Chavanat, que mostra o cotidiano e os anseios dos artesãos que fabricam os produtos da marca (tudo é feito à mão). A Hermès produz as icônicas bolsas Kelly e Birkin, que custam em torno de 20.000 reais e são inspiradas em duas grandes divas do cinema (Grace Kelly e Jane Birkin). Em entrevista ao site de VEJA, o francês Roland Herlory, diretor da empresa para a América Latina, mostrou-se satisfeito com o mercado brasileiro, mas criticou a carga tributária. Segundo Herlory, a alta alíquota de importação encarece em quase 100% os produtos Hermès e transformam o Brasil em um mercado restrito. “Enquanto a classe média não tiver acesso aos nossos produtos, o Brasil continuará sendo um mercado imaturo”, afirma.

A empresa está satisfeita com a operação da Hermès no Brasil? Muito. É mais do que esperávamos. Principalmente porque a clientela brasileira nos surpreendeu positivamente. São pessoas que tem um conhecimento sobre o luxo que é único na América Latina. Mas, ao mesmo tempo, há algo de paradoxal, pois apesar de os clientes terem um nível de sofisticação elevado, o mercado brasileiro ainda está longe de ser maduro. Os clientes são maduros, mas o mercado não.

Por quê? Não é maduro porque está acessível apenas para a elite. Isso acontece porque há o imposto de importação que eleva o preço de nossos produtos em 100% e faz com que a classe média não tenha acesso à marca.

A Hermès é uma marca de luxo e de elite. Mas isso não significa que não sejamos uma marca para a classe média. A Hermès é uma marca para quem busca qualidade extrema. Ela é feita para o lado de cada um de nós que aprecia o luxo. E todos nós temos esse lado. Na França, vendemos gravatas a 100 euros, lenços a 300 euros, e recebemos muitos clientes humildes que compram um lenço de presente todos os anos para o Dia das Mães. Não somos um símbolo de status, pois nosso logo não é muito visível. Quem compra Hermès, sabe que está comprando um produto que vai durar gerações.

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Na Ásia, ou em outros mercados emergentes, a Hermès é acessível à classe média? No Japão e na Coreia, sim. Na China, estamos começando. O que ocorre no caso dos japoneses é que são pessoas extremamente atraídas pelo detalhe, gostam de coisas bem feitas, e o trabalho da Hermès é muito detalhista. No Japão, somos uma marca de classe média.

O impedimento de alcançar a classe média é apenas a carga tributária? Sim, pois não faltam pessoas na classe média aqui, então esse não é o problema. Já os impostos deixam os produtos inacessíveis. E, enquanto a lei não mudar e a classe média não tiver acesso aos nossos produtos, o Brasil continuará um mercado imaturo para Hermès.

Até que ponto a recente alta do dólar representa um problema para a marca no país? Não creio que vá afetar muito. Ele sobe agora, depois cai. Já a estrutura de importação é fixa. Mas, mesmo com esse problema, não posso apenas criticar o Brasil. A empresa está realmente surpresa com o entusiasmo da clientela aqui.

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Quando inaugurou, a Hermès vendeu em três dias o equivalente ao que era esperado em um mês. Esse ritmo continua? Temos nos surpreendido constantemente com as vendas. Crescemos a dois dígitos desde que chegamos aqui, há dois anos.

As perspectivas de desaceleração econômica (tanto na França quanto no Brasil) fizeram com que a Hermès revisse seus investimentos no Brasil? Não estamos revendo nada. Nós viemos de longe e temos uma visão muito clara de nosso negócio. É como os artesãos que fabricam nossos produtos, sempre a um ritmo lento, quase estático, mas constante. E é assim que nosso negócio funciona: lento, mas avançamos sempre. Não é a conjuntura que vai decidir o que iremos fazer, pois temos o nosso ritmo. O crescimento vai ser menor? E daí? Faz parte do jogo.

Abrirão novas lojas no Brasil em parceria com a JHSF? Sim. Até 2014, iremos abrir uma loja no Rio de Janeiro, uma em Brasília e outra em São Paulo, não necessariamente nessa ordem. E a ideia é que continuemos com a JHSF nessa empreitada.

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Por que não se instalaram antes no Brasil? Porque tivemos um problema jurídico relacionado ao nome Hermès, que já era usado por uma marca brasileira. Então tivemos que aguardar a permissão da Justiça e, assim que conseguimos, viemos o mais rápido possível.

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