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‘House of Cards’: por que o plano econômico de Frank Underwood é uma loucura

Na tentativa de reavivar a economia americana, personagem de Kevin Spacey sugere usar dinheiro público para criar empregos, numa espécie de reedição do New Deal

Por Da Redação
11 mar 2015, 07h48

Alerta de spoiler. Caso não tenha visto a terceira temporada da série do Netflix, não leia o texto a seguir.

Nos primeiros episódios da terceira temporada da série House of Cards, exibidos no Netflix, o agora presidente dos Estados Unidos Frank Underwood, interpretado por Kevin Spacey, lança um plano mirabolante para levar o índice de desemprego a zero: limar os fundos de pensão dos aposentados do governo e realocar o dinheiro na criação de novos empregos em setores de mão de obra intensiva, como a construção civil. O nome da empreitada é America Works e, ao menos nos primeiros episódios, o ardiloso político usa muita articulação (e toma lá dá cá) para viabilizá-la. O objetivo de Underwood é criar 10 milhões de empregos em dezoito meses. (A título de curiosidade, essa foi a quantidade de vagas que a administração de Barack Obama criou em seis anos).

Underwood estima que sejam necessários 500 bilhões de dólares para que a taxa de desemprego recue a algo próximo de zero. Para isso, quer convencer o Congresso a cortar todos gastos com a previdência. Ele acredita que, ao usar esse dinheiro para turbinar o setor público e ampliar o crédito ao privado, seria possível estimular a criação de vagas em todos os segmentos do setor produtivo. Alguma semelhança com o New Deal – plano de retomada econômica desenhado por Franklin Roosevelt após o crash de 1929 – não é mera coincidência. O próprio presidente intitula o America Works como ‘o novo New Deal‘.

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Ocorre que a ideia se mostra inverossímil tanto no aspecto político quanto no econômico. Primeiro, os Estados Unidos da gestão Underwood estão longe daquele de Roosevelt, em que a quebra da Bolsa de Nova York levou o país a uma grande depressão que ainda figura no topo da lista de piores crises econômica do mundo moderno. As medidas drásticas de então faziam todo o sentido já que, como pareciam ser a única alternativa possível, podiam suscitar um sentimento de união política em torno do resgate do país da ruína.

Contudo, elas não parecem bem acomodadas nos tempos de hoje – mesmo que o enredo da série não reproduza necessariamente os acontecimentos mais recentes, ou seja, a retomada da economia americana. Como passar num Congresso de maioria republicana uma lei que coloca o Estado como provedor direto de postos de trabalho, por meio do uso de dinheiro público e, em muitos casos, criando empregos públicos? Se o preço é a eliminação do sistema de pensão, como convencer parlamentares que precisam se reeleger de que grande parte de seus eleitores, que contribuíram para o sistema previdenciário, ficarão a ver navios?

Num país onde democratas e republicanos defendem os mesmos preceitos de liberalismo econômico, ainda que em notas diferentes, aprovar tamanha atuação do Estado na economia tampouco soa real. Ronald Reagan seria o primeiro a se revirar no túmulo.

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À exceção da retirada do sistema previdenciário, é possível dizer que a ideia de Underwood busca inspiração no desenvolvimentismo defendido pelo economista britânico John Maynard Keynes, que pregava a intervenção do Estado no mercado de trabalho em períodos de crise aguda – a chamada política anticíclica. Mas, da forma como é colocada – ou seja, no contexto de um país em recuperação -, a ideia do personagem tem mais similaridades com um discípulo de Keynes, Hyman Minsky, que ‘aprimorou’ a ideia do teórico britânico pregando, entre outras coisas, que o pleno emprego fosse estimulado pelo Estado também em períodos de bonança. Dilma Rousseff, aliás, é uma grande entusiasta de suas ideias.

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