Governo argentino expulsa diretores e já ocupa a YPF
Ministro do Planejamento assume comando da petrolífera. Em 1999, Néstor Kirchner era entusiasta da privatização
Em uma investida arbitrária digna de Hugo Chávez, na tarde desta segunda-feira, o governo argentino tomou o controle da YPF, subsidiária da espanhola Repsol na exploração de petróleo no país. Horas antes, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, veio a público anunciar a proposta de desapropriação da companhia espanhola em favor do governo local.
É interessante lembrar que quando a privatização da YPF foi concluída, durante o apagar das luzes do governo de Carlos Menem, em 1999, o governador da província de Santa Cruz era Néstor Kirchner.
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Kirchner, que em 2003 assumiria a presidência, era entusiasta da privatização. O então governador de Santa Cruz sabia que a província seria uma das beneficiadas com o aumento dos valores recebidos como royalties.
A privatização foi muito criticada, alvo de investigações envolvendo altos funcionários do governo Menem e apontada como um erro estratégico, pois a Argentina estava abrindo mão do controle de exploração de suas reservas petrolíferas.
O ciclo se fecha 13 anos depois, com a esposa de Nestor Kirchner na presidência, retomando a empresa com uma canetada autoritária. O ato de Cristina vem momentos depois de novas descobertas de reservas no território argentino.
Na província de Mendoza, a YPF anunciou em março a descoberta de dois poços de óleo de xisto e um de petróleo. Outra descoberta na Patagônia revelou reservas gigantescas de petróleo, com potencial de 23 bilhões de barris, quase metade do pré-sal brasileiro. As novas reservas poderiam, ao menos, dobrar a produção da empresa.
Canetada – O texto enviado pela presidente propõe que 51% das operações da Repsol na Argentina sejam estatizadas. Atualmente, a companhia espanhola possui 57,23% das ações da YPF. Pelo projeto, a empresa seria dividida da seguinte forma: 51% serão controlados pelo governo, sendo 26,01% da União e 24,99% pertencentes às províncias produtoras de petróleo. Com isso, a participação da Repsol na YPF seria reduzida para 6,43%.
O restante da YPF seria mantido na configuração atual, com 25,46% pertence ao grupo privado argentino Petersen e 16,3% aos minoritários, em ações negociadas em bolsa.
Segundo o jornal Clarín, ainda que a proposta não tenha passado pelo congresso, o governo já expulsou a diretoria da sede – tanto os argentinos quanto os espanhóis. Citando informações da EFE, o jornal afirma que o secretário do Ministério do Planejamento do país, Roberto Baratta, que até hoje era o único representante do estado na diretoria, chegou à sede da empresa, no bairro portenho de Puerto Madero, com uma lista de executivos que deveriam renunciar.
Segundo o jornal espanhol El País, entre os primeiros a sair estava o diretor espanhol Antonio Gomis. Baratta também ordenou que todo o sistema de segurança do edifício fosse mudado. Pouco tempo depois, ainda segundo o El País, o ministro do Planejamento, Julio De Vido, chegou à sede da empresa e assumiu formalmente a operação da petroleira. Cristina Kirchner pediu que De Vido comande a empresa inicialmente.
Mercado financeiro – Investidores reagiram mal à intervenção argentina na YPF. As ações da empresa caíram 11% na Bolsa de Nova York. Após a brusca queda, a negociação dos papéis foi suspensa.
Na Bolsa de Buenos Aires, a negociação das ações da YPF também foi suspensa. Anteriormente, as ações caíam 2,5% no índice Merval, o mais importante da Argentina.
Histórico – Comprada em 1999 pela Repsol, a YPF foi a grande aposta da empresa espanhola para alavancar seu processo de internacionalização. À época, a Repsol pagou 13,4 bilhões de euros pela YPF.
Hoje a YPF é responsável por metade da produção de petróleo da Repsol (530.000 barris por dia), possui pouco menos da metade de suas reservas totais (cerca de 1 bilhão de barris de um total de 2,1 bilhões) e contribui com um terço do lucro bruto (1,23 bilhão de euros).
Segundo dados do El País, a YPF já investiu 11 bilhões de euros na Argentina e triplicou a quantidade de dividendos pagos pela empresa.
Hoje, a composição acionária da YPF está distribuída da seguinte maneira: 58,23% da Repsol, 25,46% do Grupo Petersen, 16,3% de capital flutuante na Bolsa e apenas 0,01% do governo argentino.
(Com agência EFE)