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Falta de parcerias prejudica pesquisa no setor automotivo

Engenharia brasileira já acumula méritos em desenvolvimento, mas pesquisa e registro de patentes em universidades ainda deixa a desejar

Por Marcel Salim
30 out 2010, 08h54

Para garantir o crescimento dos pólos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), as montadoras que atuam em países emergentes têm investido na qualificação de engenheiros nestas nações. No caso do Brasil, as montadoras que estão há mais tempo no país (GM, Ford, VW e Fiat) são as que mais investem em infraestrutura tecnológica e na formação de pessoal técnico. “Cada montadora, contudo, possui uma estratégia diferente e, por isso, o ritmo de criação de novos pólos de P&D ocorre de forma gradual, apesar de que este é um movimento que já se tornou tendência no setor automotivo global”, afirma Flávia Consoni, especialista em indústria automotiva e que desenvolveu um estudo sobre as estratégias de inovação tecnológica e políticas de atração de investimentos em P&D no setor nacional.

Uma característica bastante valorizada pelas matrizes das montadoras em relação ao Brasil tem sido a capacidade de algumas filiais apresentarem soluções de baixo custo que são incorporadas ao desenvolvimento de futuros veículos, o que é relevante quando se trata de atrair e realizar atividades de engenharia.

Aqui, os veículos Meriva (GM) e Fox (VW) se destacam como grandes exemplos de pesquisa e desenvolvimento promovidos pela engenharia automotiva nacional. Ambos projetos contaram com a responsabilidade técnica de profissionais brasileiros em todas as etapas do processo de criação. O resultado não apenas agradou o consumidor por aqui, como também conquistou os europeus, cujo nível de exigência é um dos mais altos do mundo.

Outro modelo que também chama a atenção é o Ford EcoSport. O veículo nasceu nas mãos do engenheiro aposentado Luc de Ferran, ex-vice-presidente da Ford, pai do piloto da Fórmula Indy Gil de Ferran e que idealizou para a montadora outros sucessos, tal como o Ford Corcel II e o Ford XR3.

Luc começou a rabiscar o EcoSport num guardanapo de restaurante em 1996. Quase 15 anos depois, o utilitário compacto esportivo feito em Camaçari é sucesso de vendas da montadora. O modelo foi o primeiro esportivo da companhia a utilizar um chassi monobloco compacto, projetado para oferecer comportamento equilibrado tanto no asfalto como na terra.

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“O segredo do EcoSport está na boa engenharia nacional. Nós sabemos para quem projetamos. Um bom engenheiro deve conhecer profundamente o cliente, ir até sua casa para identificar o que ele realmente gosta. Em seguida, basta mesclar o profundo conhecimento acadêmico com o lado prático e pronto: temos um bom carro”, explica Luc.

Acesse o infográfico e veja grandes veículos brasileiros que conquistaram os consumidores:

Galeria: Indústria Automotiva
Galeria: Indústria Automotiva (VEJA)

Não apenas carros, o Brasil também possui dois triunfos em termos de tecnologia: são os motores a álcool e flex. O país se especializou no desenvolvimento e aperfeiçoamento desta tecnologia, já que possui condições de produzir e garantir o abastecimento do etanol.

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Por serem mais viáveis que os elétricos, quase 100% da frota brasileira vem sendo produzida atualmente com motores flex fuel, que rodam com qualquer proporção de álcool e gasolina, garantindo ao consumidor menos gastos com combustível. Apesar das variações nos preços, o álcool em média chega a custar metade do valor da gasolina.

Incentivos – Mesmo com as conquistas da engenharia nacional nos últimos 40 anos, ainda falta por parte do governo e do meio acadêmico uma parceria maior com as montadoras, especialmente dos órgãos de fomento, que financiam pesquisas para criação de novos produtos. É o que garante o professor Ronaldo de Breyne Salvagni, coordenador do Centro de Engenharia Automotiva (CEA) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP).

“Esse é um nó que ainda temos na engenharia brasileira. Enquanto nos Estados Unidos, Japão e Europa há uma interação forte entre as matrizes das montadoras e as universidades locais, no Brasil isso não acontece. Nosso país ainda se restringe à produção de pesquisas acadêmicas, limitando-se em termos de avanços tecnológicos”, afirma Salvagni.

“No caso do motor flex, por exemplo, há necessidade de mais estudos e aperfeiçoamento para que o mesmo possa conquistar novos mercados, inclusive por conta da sua má eficiência frente aos motores elétricos. Se o Brasil não fizer estas melhorias, ninguém fará. O governo deveria ter um interesse maior em defender a tecnologia nacional.”

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A professora Flávia Consoni também compartilha a mesma opinião: “O Brasil como um todo não está preparado para realizar pesquisas. Falta um investimento mais consistente em engenharia e conhecimento. O governo deve suprir esta lacuna, deixando de lado a adaptação de veículos e ampliando as pesquisas e projetos de criação de veículos totalmente desenhados e produzidos no país”.

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