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Eventos climáticos pioram quadro já apertado de oferta de alimentos

Em condições estáveis de clima, serão necessários dois anos para que a oferta volte à normalidade. Mas analistas não descartam novos fenômenos extremos, como inundações e secas

Por Beatriz Ferrari e Benedito Sverberi
24 jan 2011, 19h37

A alta nos preços dos alimentos, os ‘vilões’ da inflação do ano passado, deve continuar pesando no bolso do brasileiro ao longo de 2011. Não bastasse o forte ritmo de expansão do consumo de produtos agrícolas – que, por seguidas vezes, surpreendeu os economistas em 2010 -, puxado principalmente pelos países emergentes, um fator adicional complicou o balanço de oferta e demanda: quebras de safras em diversos pontos do planeta, ligados a fenômenos climáticos. O descompasso fez com que os estoques de grãos baixassem drasticamente e, segundo uma fonte do mercado, não devem se recompor no curto prazo. Em condições estáveis de clima, serão necessários dois anos para que a oferta volte à normalidade. A notícia que preocupa, no entanto, é outra. Os pesquisadores não descartam a hipótese de fenômenos extremos, como secas ou excesso de chuvas. Ou seja, vai demorar ainda mais tempo para que os estoques sejam suficientes para a demanda.

Mudanças no clima – A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Thelma Krug, explica que eventos extremos sempre existiram e que é muito difícil saber com precisão se são determinados por condições naturais históricas ou por eventos ‘novos’, ligados a mudanças climáticas. Contudo, ela afirma que o aquecimento global é inequívoco. “Diversos estudos mostram claramente o aumento da temperatura do planeta e como isso se acelerou nos últimos cinqüenta anos”, destacou.

Uma conseqüência imediata deste aquecimento é um crescimento da evaporação da água naqueles países com extensa ‘área úmida’ – muitos rios, lagos e oceanos, como o Brasil – e, conseqüentemente, a tendência é que isso se reflita nas chuvas. “Em comparação com a média, as precipitações podem crescer em volume e se tornar mais freqüentes”, afirmou.

Também as secas podem ficar mais fortes. A estiagem, segundo a pesquisadora, está muito ligado à La Niña e ao El Niño; respectivamente, o resfriamento e o aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “Os modelos apontam maior recorrência destes fenômenos naturais, com aumento da freqüência e da intensidade”, explica.

Quebras de safra – De fato, vários eventos climáticos foram determinantes para reduzir os estoques de grãos no ano passado. Em junho, uma seca intensa atingiu a Rússia e parte da Europa oriental – tradicionais regiões produtoras de trigo. No mês seguinte, os Estados Unidos sofreram com as chuvas excessivas, o que impôs perdas às plantações de milho e soja. Na Argentina, como os estudiosos haviam detectado o La Niña, já se sabia que a estiagem atrapalharia os planos dos produtores de soja. No Brasil, a ‘safrinha’ de milho, colhida na entressafra da soja, foi atrasada em função das fortes chuvas também já esperadas. Com isso, os agricultores nacionais têm muito pouco tempo para plantar e colher o milho em 2011 – e a ‘quebra’ da produção já é dada como certa. Por fim, as inundações na Austrália no começo deste ano prejudicaram as exportações globais de trigo e outros grãos, como cevada, sorgo e aveia.

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“O mercado de grãos é interligado. O balanço de oferta e demanda da soja por si só não está caótico, mas o cenário para os outros grãos é muito ruim”, apontou o economista de um grande banco. Mais que uma crise na oferta, viu-se uma grande ‘quebra’ na demanda. “O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, e outros órgãos revisaram diversas vezes para cima as projeções de consumo porque o mundo emergente não pára de crescer”, acrescentou.

Diante de estoques baixos, que levam tempo para se recompor, e da pressão do avanço do consumo, a alta das cotações é inevitável no médio prazo. A Tendências Consultoria avalia que algumas safras para o ciclo 2010/2011, como as de trigo e de milho, serão menores do que o consumo estimado desses produtos pelo USDA, o que deve implicar preços recordes neste ano. A saca da soja deve fechar 2011 custando 47,17 reais, com alta de 17,7% em relação a 2010, ao passo que a de milho, em 28,46 reais, ficará 32,3% mais cara. “Os estoques muito baixos. Isso implica volatilidade dos preços nos próximos anos”, explica Amaryllis Romano, economista da Tendências.

A analista também aponta que este quadro favorece a recuperação da renda agropecuária. Os preços altos são o incentivo fundamental para que os agricultores invistam mais em suas plantações nos próximos meses. Tal fator é preponderante para a recuperação dos estoques. Daí, o fato de a elevação dos preços agrícolas no mundo ser, em geral, um fenômeno cíclico. O temor de outra fonte é que essa recuperação será mais demorada, justamente porque os estoques estão muito deprimidos. Diante disso, o Banco Santander estima que, da inflação de 5,5% prevista pela instituição para 2011, 1,9 ponto porcentual virá dos preços dos alimentos.

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