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Estudos de Nobel francês contribuíram para a abertura da economia brasileira

Pesquisas sobre concentração e concorrência auxiliaram órgãos reguladores durante as privatizações dos setores de energia e telecomunicações

Por Luis Lima e Naiara Infante Bertão
13 out 2014, 19h11

Amigos e colegas de academia de Jean Tirole, professor francês que levou o Nobel de Economia nesta segunda-feira, afirmaram que não se surpreenderam com a premiação – e que muitas de suas pesquisas acabaram influenciando o mercado brasileiro. Tirole é acadêmico da Universidade de Toulouse e é considerado um dos grandes pesquisadores no campo da concorrência e competitividade.

Ao site de VEJA, Patrick Rey, também professor do Instituto de Economia da Universidade de Toulouse, disse que Tirole sempre foi um professor excepcional e que não é de hoje que o colega era um dos favoritos a vencer o Nobel de Economia. Os dois escreveram juntos artigos na área de regulação e competição de mercado, incluindo um voltado ao setor de telecomunicações. Rey mencionou a gratificação que é ter um francês faturando o prêmio, tradicionalmente vencido por americanos, e lembrou o nome dos outros dois compatriotas vencedores: Gérard Debreu, em 1983, e Maurice Allais, em 1988.

Glen Weyl, pesquisador do Microsoft Research New England, falou com entusiasmo sobre a premiação e destacou a contribuição dos estudos de Tirole também para o Brasil. “À medida que o Brasil se desenvolve, ele vai se tornando um dos mais ativos países em questões antitruste, impedindo fusões entre grandes multinacionais e empresas brasileiras. Os princípios por trás dessa política pró-competitividade vêm dos trabalhos de Jean. Muitas reformas dos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma também se beneficiaram de suas pesquisas”, disse Weyl. “Olhando por este lado, Jean fez uma contribuição fundamental para a política econômica e economia do Brasil”, completou.

Ele destacou ainda que os anos ao lado do também economista Jean-Jacques Laffont resultaram em um trabalho crucial nas reestruturações econômicas ao redor do mundo, mas que, ao contrário de muitos economistas, Tirole não é um apoiador do livre-mercado. Ele rejeita as dicotomias simples entre mercados e Estados e afirma que o que importa é quem controla as fontes, quem toma decisões sobre inovação e produção e quais os incentivos para isso. Um dos casos por ele estudado é o do Google, uma grande empresa que se autorregula. Weyl chamou Tirole ainda de “herói e conselheiro”. “Cem parabéns a Jean Tirole, meu conselheiro, herói e inspiração, para não dizer o mais importante e gentil economista”, exaltou Weyl.

“O trabalho de Tirole é especialmente relevante hoje em dia, dadas as dificuldades que o mundo enfrenta com a regulação financeira. Em que medida devemos permitir que bancos e outras instituições assumam riscos? Sem risco, a economia global não cresce. Mas, com um risco muito grande, as coisas podem ficar muito críticas, como vimos em 2008 e nos anos seguintes”, observou Josh Lerner, colega de Tirole desde os anos 1990 e professor da Harvard Business School. “A contribuição mais importante dele foi a reflexão sobre os incentivos de reguladores e agentes setoriais, e como isso poderia dar errado, assim como possíveis soluções. Estas são questões globais importantes para economias em desenvolvimento na América Latina, por exemplo”, acrescentou.

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Energia – O professor da FGV e do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Aloisio Araújo, citou a influência dos trabalhos de Tirole na abertura do setor elétrico brasileiro à iniciativa privada e a divisão entre geradoras, distribuidoras e transmissoras. O Brasil baseou-se, segundo ele, no modelo inglês, que, por sua vez, foi inspirado pelas pesquisas de Tirole e Jean-Jacques Laffont, seu parceiro de trabalhos sobre regulação.

“Ainda há muito para o Brasil aprender com suas pesquisas, especialmente na área de competição. A pergunta que deveria ser debatida é se o Brasil tem um índice de concentração muito elevado em alguns setores, como o de telefonia celular”, disse ao site de VEJA. O estudioso afirma que o tema é pouco discutido no Brasil. Exemplo disso, segundo Araújo, é a inexistência das discussões sobre regulação no debate eleitoral.

A premiação também foi elogiada por Emmanuel Macron, ex-banqueiro que e atual ministro da Economia da França. “Parabéns enorme para Jean Tirole que traz orgulho para o nosso país e o conhecimento econômico francês”, disse, em sua conta no Twitter.

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