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Em plena crise política, mundo árabe compra cada vez mais do Brasil

Segundo Miguel Alaby, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, país deve buscar mercado árabe ainda não abocanhado por chineses

Por Ana Clara Costa
11 Maio 2011, 08h35

A balança comercial do Brasil com as nações árabes não para de avançar, a despeito das recentes revoltas populares que estão mudando a história da região (que engloba o Norte da África e o Oriente Médio). Entre janeiro e abril de 2011, as exportações nacionais aos vinte países que compõem o bloco – já excluída a Líbia, que deixou a Liga Árabe – somaram 4,085 bilhões de dólares, o que significa uma expansão de 44% em relação ao mesmo período de 2010. As importações também aumentaram, para 2,5 bilhões de dólares, mas a um ritmo menor, com alta de 19% ante o primeiro quadrimestre do ano passado.

Tal desempenho, em pleno período de turbulência política na região, mostra duas facetas emblemáticas do mundo árabe: a manutenção do crescimento econômico e a importância do comércio com o Brasil. Segundo Miguel Alaby, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o momento é promissor para que o país avance ainda mais, já que muitas nações do Oriente Médio e Norte da África passam por reformas importantes e tendem a sair da crise fortalecidas. Um exemplo seria o Egito. Alimentos e materiais de construção são vistos por Alaby como as principais oportunidades de exportação para empresas nacionais – mesmo diante da forte concorrência chinesa. “Precisamos trabalhar mais essa ideia de que o produto brasileiro é caro e buscar nichos diferentes de mercado”, afirma o secretário.

Dentre os países do mundo árabe, qual oferece as melhores oportunidades de negócio para as empresas brasileiras? Nas relações comerciais com o mundo árabe, não há um país mais oportuno, mas sim setores. Toda a região possui boas relações com o Brasil, mas as exportadoras de alimentos têm, a meu ver, um horizonte mais promissor devido ao aumento da demanda. O setor de construção civil é outro que, já há bastante tempo, é um mercado interessante às empresas brasileiras – tanto que muitas já estão na região desde a década de 1980. Há também bons negócios à vista para a indústria de máquinas e equipamentos, pois os países árabes carecem de tecnologia e guardam um histórico muito positivo de comércio com o Brasil.

Recentemente, as empresas brasileiras têm olhado para nações que historicamente possuíam menor destaque, como Omã e Sudão. Isso representa uma nova onda de países parceiros? Esses países nunca deixaram de ser parceiros. O que acontece é que agora o crescimento está se acelerando. No caso de Omã, a chegada da Vale faz com que outras companhias brasileiras sintam-se compelidas a ir também e comecem a estudar o país. A Embraer, em 2010, vendeu aviões a Omã e outras empresas estão se movimentando. Já no Sudão, a maior usina local de açúcar e etanol foi feita totalmente com máquinas brasileiras. Com a divisão do país em dois prevista para julho, o Brasil poderá expandir ainda mais sua atuação. Um exemplo é o grupo agrícola Pinesso, do Mato Grosso, que está produzindo algodão e soja por lá a um custo muito menor, sem ter de arcar com o ‘custo Brasil’. Nós já fomos ao Sudão oito vezes nos últimos três anos. E só em 2011, os representantes sudaneses vieram três vezes para cá. No caso do Curdistão (região norte do Iraque), o Brasil já exporta carne e frango.

Qual o motivo do interesse dos árabes pelo produto brasileiro? Trata-se, na verdade, de uma questão de vantagem comparativa mesmo, e não política. O Brasil tem alta produtividade, conhece o mundo árabe e há uma grande empatia entre os dois povos. Além disso, o país é muito flexível na hora de negociar, o que faz com que conquiste, muitas vezes, mais espaço que os Estados Unidos e países hegemônicos da Europa. Isso ocorre porque o empresariado brasileiro não impõe seu produto. Ele busca se adaptar às necessidades desses países. Além disso, em um momento de turbulência como esse, as nações árabes tendem a negociar com aqueles que já conhecem e confiam, como o Brasil.

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Mas há a concorrência com a China também no mundo árabe. Sim. E também com a Índia, a Turquia, que está bem mais próxima, a Tailândia, a Malásia e o Vietnã. No setor de alimentos, o Brasil segue imbatível. No entanto, deixa a desejar em produtos manufaturados.

O produto brasileiro é caro. Sim, precisamos trabalhar mais essa ideia de que o produto brasileiro é caro e buscar nichos diferentes. Não adianta concorrer com o que a China produz. Há um mercado gigante de cosméticos, por exemplo, que o país pode buscar. Tem também o setor de equipamentos médicos, onde os brasileiros têm uma tecnologia relativamente boa, a China não concorre e a Europa produz a preços muito altos.

O trabalho da Câmara foi afetado pela ‘primavera árabe’? Não. As viagens continuam, as feiras também. O trabalho, inclusive, aumentou. A busca de informação por parte dos empresários brasileiros e árabes cresceu.

Agora que a Líbia não faz mais parte da Liga Árabe, vocês continuarão acompanhando as movimentações de negócios líbios no país? Não. Não negaremos informações a quem nos procurar, mas não haverá nenhum tipo de envolvimento enquanto a Líbia estiver fora.

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