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Atlântico Sul demite 2.400 pessoas em Pernambuco

Medida é resultado da crise na Sete Brasil, que não paga o estaleiro desde novembro

Por Malu Gaspar, do Rio de Janeiro
6 mar 2015, 12h49

O Estaleiro Atlântico Sul, de Pernambuco, iniciou hoje um programa de demissões em massa, que vai dispensar 2.400 pessoas. A medida é consequência do rompimento do contrato entre o estaleiro e a Sete Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados para administrar o aluguel de sondas para o pré-sal. A Sete enfrenta grave crise financeira e está à beira da dissolução. Não paga os fornecedores nem os bancos desde novembro, e tenta sem sucesso conseguir um aporte de 3,1 bilhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir sua sobrevivência.

A falta de pagamento levou o estaleiro pernambucano a rescindir unilateralmente o contrato com a Sete. A empresa é um dos alvos da Lava-Jato. Seu diretor operacional até 2013 era Pedro Barusco, um dos delatores do esquema. Ele confessou ter cobrado, junto com o ex-presidente da Sete, João Carlos Ferraz, propina de 1% por contrato de sonda. Dos estaleiros contratados pela Sete, cinco tem como sócias empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão – incluindo o Atlântico Sul, que tem como sócios a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa. Um sexto, o da Keppel, também está sendo investigado.

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As demissões realizadas nesta sexta-feira em Pernambuco vão reduzir o número de funcionários de 4.900 para 2.500. Mas o estrago na região do porto de Suape, onde fica o estaleiro, pode ser ainda maior, uma vez que para cada emprego direto, quatro outros são criados. Além do prejuízo econômico para a região, haverá ainda uma perda em equipamentos, uma vez que os blocos para a montagem dos navios-sonda, com os respectivos equipamentos eletrônicos, estão prontos, a céu aberto, esperando o dinheiro para o final da montagem.

O próprio estaleiro calcula ter gasto 2 bilhões de dólares na obra. Não se sabe agora como o dinheiro poderá ser recuperado e nem se os navios poderão ter a montagem finalizada, uma vez que todo o equipamento pertence à Sete, que não tem recursos para isso. “Era inimaginável há até muito pouco tempo que a Petrobras e a Sete não teriam condições de pagar por esses blocos”, afirmou um executivo do Atlântico Sul. Os funcionários que permanecem no estaleiro vão trabalhar na finalização de navios para a Transpetro. Dos dez já contratados, quatro foram entregues e três devem ser finalizados até dezembro.

O Atlântico Sul é o terceiro entre os grandes estaleiros a demitir funcionários e reduzir atividades em consequência da crise na Sete. Antes dele, o Ecovix, do Rio Grande do Sul (que é da construtora Engevix), e o Enseada de Paraguaçu, da Odebrecht e da UTC, já realizaram demissões e cortes severos de custos. Na prática, o abalo desses estaleiros representa o fracasso da política de conteúdo nacional criada no início do governo Lula, com o propósito de impulsionar o setor naval brasileiro. Tal política exige que pelo menos 60% dos equipamentos para a indústria de petróleo sejam fabricados no Brasil. Mal elaborada e – sabe-se agora — minada pela corrupção na Petrobras. ela acabou elevando os custos dos equipamentos e não produziu um parque industrial naval forte.

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A agonia da Sete Brasil é outro sinal do fracasso do conteúdo nacional. A empresa, em que a Petrobras tem uma participação minoritária, mas indica o presidente, tem ainda como sócios bancos, como BTG, Santander e Bradesco, além de fundos de pensão e investidores estrangeiros. Outras grandes instituições financeiras, como o Itaú, são credores. No total, a dívida já é de 4 bilhões de dólares, mas o dinheiro para financiar a construção dos estaleiros e das sondas acabou em novembro. Desde então, a Sete tenta um novo aporte, desta vez do BNDES. Contudo, a empresa foi atropelada pelas revelações de Barusco e pela crise financeira da Petrobras.

Apesar do esforço de bastidores da presidente Dilma Rousseff para que o empréstimo seja concedido, o corpo técnico do banco de fomento resiste a liberar o dinheiro, alegando ser uma operação ultra arriscada. Como não podem dizer isso diretamente à presidente, os técnicos trabalham para inviabilizar o empréstimo exigindo novas garantias a cada nova revelação da Lava Jato. Preocupada com o simbolismo que a quebra da Sete teria para seu governo, e também com os enormes prejuízos que a crise teria sobre as finanças de bancos como o BTG, o Bradesco e o Itaú, a presidente deu até aval ao novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, para atuar em favor da Sete. Mas nem mesmo ele conseguiu desatar o nó até agora.

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