Apesar da crise, é imperativo que o Brasil comece a olhar para o futuro
Para Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, dificuldades do presente exigem visão de longo prazo que envolvem o foco em tecnologia
Por todo o mundo emergente, as economias estão sentindo os efeitos dos preços mais baixos das commodities, a desaceleração na China e a perspectiva de aperto da política monetária dos EUA. O Brasil não é exceção. Mas em cada crise econômica encontram-se as sementes da próxima história de crescimento. O Brasil tampouco é exceção a essa regra. Para o Brasil, a próxima história de crescimento poderá ser a tecnologia, o tema que está no âmago do que eu considero ser a Quarta Revolução Industrial.
Os fatores por trás das mudanças na economia mundial são inquestionáveis. Os preços das commodities estão em queda. Existe uma desaceleração da demanda na China, que está se ajustando ao seu próprio “novo normal”. E há a incerteza em torno das taxas de juros nos EUA, afetando os juros de dívidas públicas e privadas de todo o mundo emergente.
As consequências no Brasil estão refletidas nas receitas do governo e das empresas em queda, na diminuição da demanda por bens de consumo, taxas de emprego em cheque e custos de crédito em alta. Todos esses fatores contribuem para uma realidade econômica difícil. As dificuldades da economia brasileira são claras. Todavia, devemos focar nossos esforços em como garantir que o Brasil esteja melhor equipado para o futuro.
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Embora o Brasil enfrente um presente desafiador, o país também reconhece que deve colocar em foco as oportunidades que se colocam à frente. Há muitas transformações em marcha na economia global, mas a mais profunda e positiva encontra-se na área de tecnologia. E é precisamente nesta frente que o Brasil aparece com melhor potencial, particularmente quando comparado a muitos de seus pares mundiais emergentes.
Esta revolução tecnológica – a “Quarta Revolução Industrial” – terá maior impacto que as três Revoluções Industriais que a precederam. Ela envolve uma completa “inovação sistêmica” e ocorrerá a uma velocidade e magnitude que figuram além de nossa plena compreensão. Basta considerar as possibilidades ilimitadas de bilhões de pessoas conectadas por dispositivos móveis – como é o caso hoje – com tamanho poder de processamento, armazenamento e acesso ao conhecimento. Ou testemunhar as mudanças profundas em vários setores, marcadas pelo surgimento de novos modelos de negócios, novos entrantes e a reformulação dos sistemas de produção, consumo, transportes e logística.
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Como analisado no Relatório de Competitividade Global 2015-2016 do Fórum Econômico Mundial, a força competitiva mais importante do Brasil é o seu nível relativamente elevado de preparo tecnológico para esta próxima revolução, especialmente na utilização da informática e na sofisticação de seu ambiente de negócios. Sua classificação em prontidão tecnológica indica que o Brasil está adotando tecnologias existentes para melhorar a produtividade de suas indústrias a uma taxa melhor do que Rússia, China e Índia.
Ainda que Índia e China atraiam mais frequentemente as manchetes mundiais em se tratando de tecnologia, maior atenção deve ser dada ao rápido progresso brasileiro no setor tecnológico. Um vetor típico de competitividade nesta era de transformações, esse dinâmico setor tem desafiado o pessimismo global com taxas de crescimento de dois dígitos. Investidores estão descobrindo e aportando recursos em start-ups de tecnologia brasileiras, apesar da situação macroeconômica. Iniciativas como o “Cubo” estão ajudando a redefinir o Brasil nesse novo ambiente econômico global.
O talento e criatividade que lideram este crescimento requerem maior apoio se o Brasil deseja realizar seu pleno potencial nesse espaço. Estatísticas globais sempre contam uma história – sabemos que o progresso é necessário em áreas-chave – mas também devemos mirar como essas áreas podem servir como facilitadores, alavancando uma economia próspera, inclusiva e inovadora para o crescimento futuro do país.