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Anfavea tenta defender o indefensável

Associação das montadoras apela para argumentos fracos para tentar explicar o aumento do IPI sobre os veículos, que afeta, sobretudo, os importados

Por Carolina Guerra
19 set 2011, 20h44

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) realizou nesta segunda-feira uma coletiva de imprensa para defender a decisão do governo, anunciada na semana passada, de aumentar em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos, atingindo principalmente as importadoras, e não suas filiadas. Os argumentos apresentados pela entidade – de que é preciso preservar a balança comercial brasileira e que suas associadas também teriam sido afetadas pelo IPI turbinado – carecem de consistência. Pior que isso serviram para aumentar as suspeitas de que o Planalto simplesmente cedeu ao lobby das grandes montadoras brasileiras. Por fim, o evento mostrou que a Anfavea está afinada com as declarações rasas de autoridades do governo Dilma de que é preciso proteger o mercado interno a qualquer custo – ainda que este custo implique aumentar a insegurança jurídica, afetar investimentos previstos e comprometer, inclusive, empregos que as montadoras asiáticas pretendiam gerar no país. É revelador do despreparo ou, no mínimo, um descaso do governo em dar satisfação de seus atos à população. Nesta segunda-feira, ao ser questionada sobre a medida, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, tampouco apresentou teses convincentes, preferindo apoiar-se na manjada estratégia de apresentar um argumento de autoridade: “Essa é posição do governo”, afirmou.

Após a entrada em vigor da medida provisória que eleva a tributação dos veículos, sobretudo os importados, as montadoras instaladas no Brasil – e que são representadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) – disseram nesta segunda-feira que não pretendem elevar os preços ao consumidor. Contudo, elas tampouco quiseram dar garantias de que isso não ocorrerá. “As montadoras não pretendem aumentar o preços dos carros, mas não podem se comprometer com isso, se não isso seria cartel”, afirmou o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, durante coletiva de imprensa, em São Paulo. Segundo ele, é improvável que isso aconteça porque a competição entre as montadoras que já possuem fábricas no país deve continuar acirrada em busca de manutenção de participação de mercado. Com a afirmação, evita admitir que agiu, em conluio com o governo, para diminuir a concorrência no mercado interno – e aceitar que o risco de que, num quadro como esse, aumentam as chances de os preços subirem sim.

A Anfavea negou ainda que a decisão do governo sobre o IPI tenha sido fruto do lobby das quatro maiores montadoras instaladas no Brasil (Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford). Belini, que também é presidente da Fiat, disse que a decisão foi motivada principalmente pelo impacto negativo que a importação de veículos tem causado na balança comercial. Segundo ele, de 2006 a 2010, o saldo positivo passou de 46 bilhões de dólares para 20 bilhões de dólares, graças, sobretudo, ao setor automotivo.

Uma balança pressionada pelas importações, no entanto, não deixa de ser algo natural quando estamos diante de um país que cresce com vigor, passando a exigir produção externa para que parte da demanda seja suprida. A movimentação é benéfica ao consumidor, que passa a contar com um mercado mais competitivo. Do ponto de vista macroeconômico, o déficit comercial também não chega a ser um problema, haja vista que essa conta tem sido paga com tranquilidade pela chamada conta capital do balanço de pagamentos, isto é, investimentos em ações e em renda fixa no país. Ao usar o argumento da balança, a Anfavea, no mínimo, foge pela tangente, não admitindo que sua real intenção da associação, apoiada pelo governo, é restringir o mercado, de modo a tê-lo cativo.

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Belini também foi questionado sobre se a medida não teria sido dura demais com os importadores, pois o aumento de 30 pontos porcentuais do IPI implicou elevações entre 120% a 428% no valor do imposto incidente sobre veículos fabricados em outros países, à exceção do México e dos países do Mercosul. “São medidas duras, mas necessárias”, afirmou. “Nós também fomos atingidos, porque os nossos carros importados que vêm de outros países que não o México e o Mercosul também vão pagar mais IPI.” Mais uma vez a história não bate. As montadoras nacionais tradicionalmente produzem veículos mais populares e complementam suas linhas com produtos de maior valor agregado, que são fabricados no México ou na Argentina. A Anfavea evita, propositalmente, admitir que suas filiadas serão pouco afetadas, pois o grosso de suas compras externas vem destes mercados. O Ford Fusion e o Volkswagen Jetta, por exemplo, são mexicanos. O Chevrolet Agile, argentino.

Além disso, as importações de outros países são em número muito menor que os efetuados pelas montadoras que trazem seus produtos de outras localidades, sobretudo da Ásia – ainda que a onda sul-coreana e chinesa tenha sido forte o suficiente para incomodar aquelas bem-estabelecidas no mercado brasileiro. Dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) mostram que dos 528.082 veículos importados vendidos no Brasil de janeiro a agosto deste ano, apenas 24,5% foram trazidos por suas associadas. Os demais 75,5% vieram pelas mãos das montadoras instaladas no Brasil, associadas à Anfavea. Neste universo, as importações da Argentina, não afetadas pelas medidas, entram em primeiro da lista, com cerca de 40% do total.

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