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Marisa Monte se afoga no brega

Em seu novo disco, Marisa Monte parece ter esgotado a capacidade de refinar a música cafona

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 nov 2011, 12h07

Marisa Monte sempre trabalhou para borrar a distinção entre a “alta” MPB e os mais menosprezados – às vezes duvidosos – gêneros popularescos. Em seus discos, para cada canção clássica de George Gershwin havia um iê-iê-iê de Roberto Carlos, e os sambas melancólicos de Paulinho da Viola e Nelson Cavaquinho eram rebatidos por uma letra de autoajuda de Nando Reis ou uma maçaroca rítmica de Carlinhos Brown. Ao longo de mais de vinte anos de carreira, Marisa defendeu, muitas vezes com bons argumentos, o valor da música “menor”. E reafirmou esse credo nas entrevistas de divulgação do novo álbum, O que Você Quer Saber de Verdade, dizendo que sua obra teve desde o início uma “vocação popular”. Boa cantora que sempre soube se cercar de ótimos músicos e arranjadores, até agora ela vinha conseguindo, de fato, refinar a cafonice, pairando soberana sobre o brega. Mas, no disco recém-lançado, o oitavo de sua carreira, Marisa afinal sucumbiu.

Expoente do híbrido de pop e MPB que emergiu depois do rock dos anos 80, Marisa é ainda uma influência fundamental para intérpretes da nova geração: todas insistem no flerte com a música cafona, e há até quem imite a sua falta de jeito no palco. Em O que Você Quer Saber de Verdade, porém, até o ecletismo da cantora tornou-se previsível: uma regravação de Jorge Ben aqui, uma balada em seguida, um resgate da MPB tradicional ali. Além disso, os músicos que ela chamou para o disco ou estão descaracterizados (caso do guitarrista Lúcio Maia, do baixista Dengue e do baterista Pupilo, muito aquém do que mostram no grupo Nação Zumbi) ou têm uma participação decorativa. Ao final do CD, tem-se a impressão de ter ouvido não Marisa, mas alguma integrante do batalhão de intérpretes que a imitam. Marisa Monte virou um genérico de si mesma.

Herdeira direta do tropicalismo, movimento pioneiro em dar chancela intelectual à veia kitsch da cultura brasileira, Marisa namora aqui a música ruim da vez, o sertanejo universitário – seja no ritmo, seja nas letras do mais banal romantismo (“você que me faz feliz / você que me faz cantar”). O baladão Depois vem de uma tradição mais sólida, mas igualmente insuportável: lembra como a influência da fase romântica de Roberto Carlos foi nefasta para a MPB. Para um certo público, a voz de Marisa Monte converteu-se em um selo do bom gosto, autorizando a entrada de xotes e boleros na sala de jantar. E é só essa autoridade estabelecida – mas frágil – que ainda permite distinguir suas novas canções daquilo que se ouve em discos de Luan Santana ou Paula Fernandes.

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