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Serra: desejo de concorrer à Presidência está adormecido

Ex-governador afirmou que, se eleito, ficará no cargo até o fim do mandato. Decisão de concorrer a prefeito foi tomada por "necessidade política", disse

Por Carolina Freitas
29 fev 2012, 19h13

Ladeado por pôsteres em que aparece sorridente acima da inscrição “Serra, presidente do Brasil”, o ex-governador José Serra garantiu que o desejo de ocupar o Palácio do Planalto está “adormecido”, pelo menos até 2016. Os cartazes estão sob uma tenda nos fundos do diretório estadual do PSDB desde as últimas eleições, quando Serra foi derrotado nas urnas por Dilma Rousseff (PT). Foi lá que o candidato concedeu a primeira entrevista coletiva depois de anunciar, na terça-feira, a disposição em concorrer à prefeitura de São Paulo no pleito de outubro.

“Não é a primeira vez na vida que eu tomo outro rumo”, disse ao ser questionado sobre as aspirações presidenciais. “Pelo menos até 2016 este sonho está adormecido, porque a decisão agora [de disputar a prefeitura] implica não ser candidato em 2014”. O tucano garantiu que, se eleito, cumprirá o mandato de prefeito até o fim. “Vou cumprir os quatro anos. É mais que uma promessa”.

Em setembro de 2004, Serra, então candidato à prefeitura da cidade, chegou a assinar um documento no qual também se comprometia a cumprir os quatro anos de mandato. Em 2006, entretanto, deixou o cargo para concorrer ao governo do estado. “Minha relação com a população de São Paulo é boa, mas a cada período você tem que renovar essa relação, estabelecer confiança”, disse nesta quarta-feira. “Não obstante eu ter saído em 2006 da prefeitura, eu ganhei a eleição [para governador] na cidade. E venci na cidade também quando me candidatei a presidente”.

E quem Serra apoiaria para a Presidência em 2014? Aécio Neves? Não necessariamente. “Tem o Marconi Perillo, o Álvaro Dias, o Aloysio Nunes, o Geraldo Alckmin. Aécio é um dos candidatos possíveis. Isso, dentro do PSDB tem de ser uma conquista”, afirmou Serra. O ex-governador não descartou a possibilidade de concorrer para presidente em 2018. “Não há amanhã. A gente vive o hoje.” Mas lembrou: “Tenho muito tempo pela frente. Estou no auge da minha energia”. Em 19 de março, ele completa 70 anos.

Serra explicou que acha fevereiro muito cedo para decidir o candidato à prefeitura, mas que, quando tomou a decisão, sabia que teria que se submeter às prévias do partido. Ele negou que tenha imposto o adiamento do processo para 25 de março, como acusou nesta terça-feira o vice-presidente municipal do PSDB, João Câmara. “Racha seria se alguém quisesse acabar com as prévias”, rebateu Serra. “Não vejo qualquer resistência da base. Vamos ter um partido bem unido”.

Serra citou a necessidade política e sua própria vontade como motores da decisão. “Se fosse só por necessidade e sem gosto seria um chatice intolerável. Se fosse só por gosto e sem necessidade seria muito narcisista. Entre meus defeitos psicanalíticos não está o narcisismo”.

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Ele associou a necessidade política ao temor de que o PT voltasse ao poder e ao risco de o PSDB ficar sem apoio de aliados tradicionais – o prefeito Gilberto Kassab, do PSD, ameaçava se coligar com o PT na cidade. “Sei como recebi [de Marta Suplicy, do PT] a cidade de São Paulo quando assumi a prefeitura e os riscos de se reproduzir um processo dessa natureza no futuro”, disse.

Na carta em que formalizou sua entrada na disputa pela prefeitura de São Paulo, entregue ao partido nesta terça-feira, Serra citou a necessidade de se combater a hegemonia política do PT no país: “São Paulo é a maior cidade do Brasil. E é aqui, neste ano, que se travará uma disputa importante para o futuro do município, do Estado e do País”, escreveu. “Uma disputa entre duas visões distintas de Brasil, duas visões distintas de administração dos bens coletivos, duas visões distintas de democracia, duas visões distintas de respeito aos valores republicanos.”

Debate nacional – Serra afirmou nesta terça que não terá como foco na campanha temas nacionais, porém falará deles se questionado pelos candidatos concorrentes. “Não é em torno da questão nacional que vai se decidir a eleição”, disse. “Eleição se decide em função das questões da cidade. Se os concorrentes levantarem questões mais amplas, eu estou completamente disponível para analisar as questões nacionais. Conheço todas, como conheço as da cidade.”

Questionado sobre que erros das eleições de 2010 quer evitar na campanha deste ano, Serra tergiversou e disse que nunca se ocupou em analisar erros e acertos das últimas eleições presidenciais. “Lá se tratava da sucessão do presidente da República que escolheu e apoiou uma candidata para aquele nível de governo. Quando é municipal as questões são diferentes.”

O ex-governador não deixou de lembrar, no entanto, propostas apresentadas por ele em 2010 e que, segundo ele, foram copiadas pelo governo do PT. Entre os exemplos, um programa de apoio a gestantes, o Mãe Brasileira, que virou o Mãe Cegonha de Dilma, e o plano de expansão do ensino técnico, o Protec, que virou Pronatec. “Até mesmo a política de juros está na linha do que eu defendia”, cutucou Serra.

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Rejeição e alianças – O pré-candidato tentou se mostrar despreocupado como o índice de rejeição de 35% que lhe atribuem as pesquisas de intenção de voto. Para Serra, essa é uma percepção equivocada e, mesmo se verdadeira, seria passível de ser revertida. “As pessoas podem gostar ou não gostar de mim, mas todo mundo sabe que eu tenho personalidade própria, às vezes, exageradamente própria”.

O ex-governador também pareceu não se incomodar com a má avaliação da gestão de seu aliado Gilberto Kassab (PSD). De acordo com Serra, as pessoas têm uma percepção errada sobre o trabalho de Kassab na prefeitura. Acham que, por ele ter se ocupado de fundar um partido, deixou de cuidar da cidade. “Com o novo partido, cria-se uma imagem de ausência que não existe”, afirmou. “Gilberto acorda às 5h e dorme meia noite. É um homem que trabalha muito pela cidade.”

Serra pisou em ovos ao ser questionado sobre as alianças que o PSDB firmará nessas eleições. “É preciso ter uma certa discrição. Quando você fala em alianças, você está num jogo”, justificou. Sobre o seu vice, mais discrição ainda: “Isso vai ser resolvido depois, com alguém que tenha qualidade e representatividade política”.

Disposição para a campanha – Às vésperas de completar 70 anos, Serra disse estar no auge da energia para enfrentar a maçante campanha de rua. “Gosto de desafios. Estou convencido que nós ganhamos, mas estou convencido de que vai ser uma campanha muito difícil. Não acho que vai ser sopa não.”

A preparação para a rotina de caminhadas, carreatas e eventos públicos já começou. “Estou em bom estado físico, como pouco e estou bem. Faço ginástica quase todo dia. Tenho só que acordar mais cedo.” Para manter o bom-humor, que de fato tem chamado a atenção desde que ele anunciou a volta ao cenário político, Serra disse que tem evitado ler o noticiário. “É uma técnica”, disse, entre risos.

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A primeira promessa de campanha ficou consignada: acabar com os frequentes atrasos a compromissos públicos. Serra tem o costume de atrasar no mínimo uma hora para qualquer atividade. Nesta quarta-feira, chegou pontualmente à entrevista coletiva, às 16h30. “O que aconteceu hoje vocês vão ver: quando eu marcar, nós vamos estar lá. Peço esse voto de confiança”.

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