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O populismo como religião

Em campanhas sucessivas, o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado atraiu eleitores para um caminho que dispensou projetos políticos e programas ideológicos. Nascia o janismo

Por Da Redação
20 ago 2011, 09h43

Ele foi uma coleção de singularidades e paradoxos. Jânio Quadros segundo a certidão de batismo, o filho do médico Gabriel Nogueira Quadros e da dona de casa Leonor Silva Quadros resolveu, ainda menino, acrescentar um “da Silva” e juntar o mais comum dos sobrenomes ao prenome inspirado em Janus, o deus bifronte. Virou Jânio da Silva Quadros. Nascido em Campo Grande, inventou, quando estudante em Curitiba, um estranhíssimo sotaque sem parentesco com Mato Grosso, com o Paraná ou com qualquer região. O acento personalíssimo só pode ser encontrado na voz dos imitadores.

A política no rádio

Numa época em que a televisão ainda engatinhava, os jingles radiofônicos eram uma forte arma de convencimento. Jânio teve vários, além do célebre e excelente Varre, Varre, Vassourinha.

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A vocação política e o estilo sublinhado pelo absurdo emergiram na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O candidato a primeiro-secretário do Centro Acadêmico XI de Agosto já exibia trajes desleixados e cabelos em desalinho, parecia pouco asseado, bebia com muita competência, apreciava frases empoladas e surpreendia concorrentes ortodoxos com métodos extravagantes. Passou boa parte da campanha sentado num barril, com chapéu de palha na cabeça circundado por uma faixa com três palavras: “Vote em Jânio”.

Vitorioso, o caçador de votos permaneceu adormecido até 1947, quando os alunos do Colégio Dante Alighieri decidiram conseguir uma vaga na Câmara Municipal para o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado criminalista nem ingressara na carreira diplomática “por não corresponder aos padrões estéticos”. A direção dos ventos mudou em 1948, quando o suplente de vereador assumiu uma cadeira na Câmara Municipal.

O discurso que prometia varrer a bandalheira, punir os desonestos e enquadrar os ineptos encontrou um adversário perfeito: Adhemar de Barros, que consolidara a hegemonia regional e, simultaneamente, a imagem de corrupto. Como toda religião populista, o janismo dispensou projetos políticos ou programas ideológicos. Bastavam frases de efeito valorizadas pela voz do único deus. “É a luta do tostão contra o milhão” ou “É preciso acabar com tudo isso que aí está”.

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Em campanhas sucessivas, o domador das multidões com vassouras desfraldadas elegeu-se deputado estadual, prefeito de São Paulo, governador, deputado federal e presidente da República. Em apenas 13 anos, Jânio foi tudo.

Adhemar de Barros (1901 - 1969)
Adhemar de Barros (1901 – 1969) (VEJA)

ADHEMAR DE BARROS (1901-1969)

Ao longo dos anos 50, a vassoura de Jânio e o trevo de Adhemar de Barros protagonizaram o Fla-Flu da política paulista. Hegemônicos desde 1938, quando o filho de fazendeiros de Piracicaba foi nomeado interventor por Getúlio Vargas, os ademaristas não conseguiram resistir ao inimigo que prometia varrer a corrupção. “Rouba, mas faz”, retrucavam os partidários de Adhemar, que voltariam ao poder depois da renúncia. “Sinto saudade dele”, contou Jânio em 1980. “Era a minha referência.”

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