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Mensalão põe à prova legado de Lula

Julgamento do STF pode manchar história do ex-presidente, que se empenha em negar a existência do esquema de compra de apoio político

Por Gabriel Castro
24 jul 2012, 11h27

O escândalo do mensalão, que o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar em 2 de agosto, não foi um caso qualquer de corrupção. Foi uma grave tentativa de cooptação do Legislativo pelo Executivo, por meio de um esquema abastecido com recursos públicos. Por isso, constituiu uma ameaça à própria democracia e à independência entre os poderes. Mas quando o STF iniciar o julgamento, também estará em jogo a trajetória de um nome que não consta na lista dos 38 réus: Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar dos indícios de que sabia da existência do mensalão, o ex-presidente foi poupado da acusação do Ministério Público Federal. Independentemente disso, uma condenação de José Dirceu e seus comparsas seria uma grave mancha no currículo que Lula tenta construir – o do trabalhador de origem humilde que ascendeu ao poder e modernizou a política brasileira.

Parte dessa construção já não resiste a um exame cuidadoso, embora subsista no imaginário popular. O baque da condenação do mensalão pode prejudicar uma das maiores preocupações de Lula: a forma como os historiadores verão seu governo no futuro.

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O julgamento do mensalão

Isso não acontecerá só porque o escândalo ocorreu durante o governo de Lula. Acontecerá porque o ícone do PT tem se empenhado em negar a existência do mensalão. Se o resultado do julgamento for favorável aos petistas, Lula poderá manter sua pregação e terá mais facilidade em consolidar o personagem messiânico. Caso contrário, ficará desmoralizada a tese que o petista se empenhou em defender, a ponto de tentar usar a CPI do Cachoeira para ofuscar o julgamento no STF e pressionar pessoalmente o ministro Gilmar Mendes, integrante da Corte.

Desde o início do escândalo, em 2005, o comportamento de Lula foi pragmático. Quando surgiram as denúncias, ele jurou que não havia sido avisado sobre o mensalão e que fora traído. Com o agravamento da situação política, chegou a pedir desculpas pelos “erros” do governo e do PT. Com o tempo, sobreviveu à turbulência, ganhou popularidade e passou a sentir-se à vontade para negar os fatos e dizer que o caso foi inventado por forças que pretendiam apeá-lo do governo.

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O Lula de 2005 era diferente daquele que hoje brada pela impunidade. “Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas”, disse, contrito, em meio ao escândalo. “O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas. Porque o povo brasileiro (…) não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo.”

Em novembro daquele ano, o então presidente já estava confortável para negar a história. “Esse negócio de mensalão me cheira a um pouco de folclore dentro do Congresso Nacional”, declarou. Em maio deste ano, a ousadia cresceu: “Na verdade, era um momento em que tentaram dar um golpe neste país”, afirmou.

Mancha – Para o cientista político Ricardo Caldas, as consequências de uma condenação atingiriam de forma inevitável a figura do ex-presidente: “Não se pode separar Lula de José Dirceu, assim como não se podia separar PC Farias de Fernando Collor”, compara. “Se o mensalão for comprovado pelo STF, a tendência é a imagem de Lula sair prejudicada.”

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Para Caldas, entretanto, as consequências de uma eventual condenação não seriam empecilho para um possível retorno de Lula às disputas eleitorais uma vez que, ao menos oficialmente, o ex-presidente se livrou dos mensaleiros em seu governo. “Não inviabiliza porque Lula conseguiu se desfazer deles no momento certo”, afirma o cientista político.

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