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Apagão: descentralizar sistema de energia pode evitar novo blecaute

Por Luiz De França, Marina Dias, André Pontes
11 nov 2009, 15h09

O Brasil precisa descentralizar a geração e a transmissão de energia elétrica para evitar novos apagões generalizados, como o que deixou 18 estados às escuras nesta terça-feira. Essa é a advertência de especialistas do setor ouvidos por VEJA.com. Segundo Ernesto Cavasin, chefe do serviço de mudança climática da PricewaterhouseCoopers, a alternativa seria investir em pequenas e médias empresas capazes de produzir regionalmente energia alternativa como a biomassa, aeólica (dos ventos), e de outros recursos naturais. “Mesmo que essa energia esteja ligada ao atual sistema de transmissão interligado, esses pólos geradores seriam capazes de assumir sozinhos o abastecimento de uma determinada região, evitando um apagão geral”, afirma Cavasin.

“Como o governo não incentiva esses negócios, o mercado fica dependente desses grandes projetos energéticos, que só faz aumentar a tensão das linhas de transmissão”, continua. “Os Estados Unidos, que são tão grandes territorialmente quanto o Brasil, não têm um sistema de interligação como o nosso. Lá, é mais fácil encontrar pequenos e médios geradores integrando o sistema de geração e transmissão que no Brasil.”

Para o professor Ennio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade de Campinas (Unicamp), riscos de apagão sempre vão existir, mas é possível diminuí-los com investimentos em uma operação mais eficiente. “A gente dificilmente ouve falar desses problemas em países ricos, como os da Europa, porque eles investem pesado nisso.”

Silva ressalta, no entanto, que os investimentos para evitar blecautes são grandes – e os custos incidiriam na conta do consumidor. “Ou a gente convive sempre com o inconveniente de um apagão a cada 10 ou 15 anos, ou decidimos pagar mais por um sistema mais seguro.”

Linhas – Na opinião do Professor Carlos Alberto Canesin, da Faculdade de Engenharia da Unesp de Ilha Solteira, os problemas estão na fragilidade e na falta de linhas fortes de transmissão extras. Segundo Canesin, quando essas linhas caem, por uma fatalidade qualquer, não há nenhum sistema que segure o transporte de energia para os principais centros consumidores do país. “Por isso foi necessário ativar dispositivos de segurança, que acionaram o desligamento da usina hidrelétrica de Itaipu.”

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Para ele, novas linhas de transmissão que corressem em paralelo às existentes resolveriam esse problema na medida em que criariam dispositivos sobressalentes – e eles poderiam ser utilizados no transporte de carga elétrica às principais redes de transmissão. “Além de aumentar a confiabilidade do sistema, evitariam a parada forçada das usinas, como a que ocorreu em Itaipu.”

Mas é a falta de gestão pública que o professor Ildo Sauer, da Universidade de São Paulo (USP), considera o principal problema que levou ao apagão. “O sistema interligado de transmissão é extremamente positivo. Nosso sistema é muito bom, mas é preciso planejá-lo, construí-lo e operar adequadamente. O negócio é que quem opera não sabe o que está fazendo. É um problema de gestão.” Mesmo admitindo que acidentes possam ocorrer, Sauer lembra que o sistema é projetado para perder um dos equipamentos e seguir funcionando sem causar o efeito dominó. “Jamais deveríamos ter um apagão como o de ontem.”

Interferência – A quantidade de empresas interferindo no sistema de geração, transmissão e distribuição da energia também é um dos fatores que contribuem para a falta de gestão elétrica no país. A afirmação é do físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O Brasil tem hoje cerca de 50 empresas no setor, entre elas estatais como Furnas e Eletrobrás, a Agência Nacional da Energia Elétrica (ANEEL), e um Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Isso é herança da privatização que não foi bem pensada”, afirma.

Pinguelli defende a adoção de um sistema similar ao da França, considerado um dos mais simples do mundo. “No Brasil, existem linhas que são subdivididas em trechos e cada um com uma empresa diferente, que tem critérios próprios, o que torna inviável uma padronização do sistema”, afirma. “As vezes um manda levantar, outro manda sentar. E isso só atrapalha.”

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