Já que as leis do mercado não obedecem a decretos e bravatas, Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, resolveu combater a escassez de oito em cada dez produtos básicos no país com as armas. Este mês, Maduro delegou a 18 generais do alto escalão da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) a função de mapear e controlar a distribuição de cada um dos principais itens de primeira necessidade. O azeite será de responsabilidade do general Jorge Pérez Mancilla. Para o arroz, José Inés González Pérez, e assim por diante. A nova medida tem como objetivo desmontar um suposto complô que impede a chegada dos produtos às prateleiras. Em julho, Maduro transferiu para o Exército a função de combater a “guerra econômica”, teoria segundo a qual as empresas privadas que controlam a distribuição de produtos básicos provocam a escassez com fins especulativos. As chances de sucesso da ofensiva são nulas. Isso porque as causas do desabastecimento são invisíveis aos olhos dos fardados. Medidas de controle de preços e estatizações herdadas dos tempos de Hugo Chávez encolheram a produção nacional e o país passou a importar praticamente tudo o que consume. Mas a queda nos preços do petróleo e a inflação galopante (chegará a 720% até o fim do ano, segundo o FMI) levaram o modelo econômico bolivariano, instaurado em 1999, ao colapso. Não à toa apenas um em cada quatro venezuelanos consegue comer três refeições diárias — e ainda assim trocando a carne pela salsicha e a arepa pela massa. A letra da antiga canção popular Los Cadetes, da orquestra Billo´s Caracas Boys, também foi adaptada. Agora a letra diz: “a Marinha tem a carne, a Aviação tem o arroz, os cadetes vendem frango e a Guarda, papel”.