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Internet dá voz à jihad e atrai os jovens para o terrorismo

Por Da Redação
11 Maio 2010, 08h24

O terror tem uma nova arma ao seu lado: a internet. O poder de atração exercido por radicais islâmicos por meio de palestras on-line que incitam o ódio aos Estados Unidos já preocupa a CIA, o serviço secreto americano. Faisal Shahzad, acusado de envolvimento no atentado frustrado contra Nova York na semana passada, é uma prova dos efeitos perigosos do uso da rede por terroristas.

Shahzad é um dos “alunos” de Anwar Al-Awlaki, um radical islâmico famoso por incitar a jihad (guerra santa) contra os EUA em discursos pela internet. Seu proselitismo, aliado à leitura de livros sagrados do Islã, atrai jovens que acabam por participar do planejamento de atentados.

Em um momento de nova preocupação por causa da atração de muçulmanos ocidentais para o extremismo, não há figura mais central que Al-Awlaki, que utiliza a internet para os objetivos da Al-Qaeda. Funcionários da CIA estão muito preocupados com o poder de atração dele.

“É um personagem magnético”, assinalou Philip Mudd, veterano do Centro de Contra-terrorismo da CIA. “É um orador poderoso em um movimento revolucionário”. Convencido de que ele é uma ameaça letal, o governo agiu com igual ênfase. Este ano, Al-Awlaki tornou-se o primeiro cidadão americano na lista de terroristas da CIA cujo assassinato está aprovado. A classificação só elevou seu status para admiradores, como Shahidur Rahman, muçulmano britânico de 27 anos nascido em Bangladesh, que esteve com ele em Londres, em 2003.

Existem dois discursos convencionais sobre o caminho de Al-Awlaki até a jihad. O primeiro é dele: foi um moderado não violento até que os Estados Unidos atacaram o Afeganistão e o Iraque, além de fazer ataques velados ao Paquistão e ao Iêmen e transformarem os muçulmanos americanos em vítimas de prisões e interrogatórios. Segundo ele, Al-Awlaki simplesmente seguiu sua obrigação religiosa de defender sua fé.

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Uma versão oposta da história de Al-Awlaki, explorada mas jamais confirmada pela comissão que investigou o 11 de Setembro, sustenta que ele era um agente secreto da Al-Qaeda, papel que desempenhava muito antes do ataque. Segundo essa explicação, a única mudança desde então é que Al-Awlaki deixou de esconder seus verdadeiros pontos de vista.

Nas semanas seguintes aos ataques ao World Trade Center, Al-Awlaki, um eloquente imã de 30 anos de uma mesquita nos arredores de Washington, foi um dos clérigos muçulmanos para os quais corriam repórteres interessados em explicar o Islã. Ele condenou o assassinato em massa, convidou equipes de televisão para segui-lo por toda parte e explicou pacientemente os rituais de sua religião. “Viemos para construir, não para destruir”, disse o clérigo Anwar Al-Awlaki em um sermão. “Somos a ponte entre os americanos e 1 bilhão de muçulmanos em todo o mundo.”

À primeira vista, parecia plausível que o homem esguio e ambicioso, com óculos de intelectual e igual domínio do inglês e do árabe, poderia ser a tal ponte. Havia estojos de CD de suas conferências sobre o profeta Maomé em milhares de lares muçulmanos. Nascido nos Estados Unidos, tinha senso de humor, gostava de pescar, imaginou planos de investimentos para ficar rico depressa e disparava referências a “João de Deus” em seus sermões. Algumas semanas antes do ataque, pregou no Congresso americano.

Nove anos depois, do seu esconderijo no Iêmen, Al-Awlaki declarou guerra aos americanos. “Os Estados Unidos se converteram em um país do mal”, afirmou numa declaração publicada em sites extremistas da rede em março. Ainda que tenha passado 21 de seus 39 anos na América, disse, “finalmente cheguei à conclusão de que a jihad contra os Estados Unidos é algo que tenho de levar a cabo, assim como é algo que cada muçulmano capaz deve fazer”.

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Produto tanto de uma cultura religiosa iemenita profundamente conservadora como dos hábitos americanos, livres e espontâneos, Al-Awlaki tinha dúvidas em cumprimentar mulheres, mas tratava prostitutas com condescendência. A jihad chamou sua atenção pela primeira vez na adolescência, mas a causa que abraçou, a derrota das tropas soviéticas no Afeganistão, era à época a causa americana também. Depois de uma visita ao Paquistão, voltou com um chapéu afegão que usava com orgulho no campus da Universidade Estadual do Colorado, onde estudou engenharia.

Depois parece que Al-Awlaki assumiu múltiplas personalidades: representante de um Islã tolerante em um país multicultural (protagonizando um vídeo no WashingtonPost.com em que explica o Ramadã), o ardente ativista americano que falava sobre direitos constitucionais dos muçulmanos (citando Malcolm X e H. Rap Brown), o teórico da conspiração que duvidou em público do papel dos muçulmanos nos ataque de 11 de Setembro. (“O FBI”, Al-Awlaki escreveu dias depois, “simplesmente responsabilizou os passageiros com nomes muçulmanos.”) Todo o tempo seguiu sendo um líder religioso conservador e fundamentalista.

Finalmente, depois que as autoridades iemenitas, sob pressão americana, o prenderam entre 2006 e 2007, Al-Awlaki parece haver endurecido, para se tornar um ideólogo da jihad totalmente comprometido, condenando os não-muçulmanos e dando alento a matanças. Sua mensagem pode ser confundida com a de Osama Bin Laden, exceto pelo inglês excelente e sua familiaridade cultural como os Estados Unidos e Grã-Bretanha. Tais características o tornam especialmente perigoso, temem funcionários do contraterrorismo, e Al-Awlaki faz alarde delas. “A jihad”, disse em março, “está se tornando tão americana quanto a torta de maçã e tão britânica como o chá da tarde.”

(Com The New York Times)

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