PIB dos municípios mostra a dificuldade de levar o desenvolvimento para o interior do Brasil
São Paulo lidera as seis cidades que, juntas, concentram 13,7% da população e produzem 25% das riquezas do país. Investir em infraestrutura e educação é a chave para levar a força econômica para as cidades menores
Levar o desenvolvimento para as cidades menores e o interior do Brasil ainda é um dos grandes desafios para governos e empresas. O Produto Interno Bruto dos Municípios (PIB) 2010, do IBGE, divulgado nesta quarta-feira, mostra que desde 2000 mantém-se praticamente inalterada a situação de concentração de riqueza nas cidades com maior população e nas regiões próximas a elas. Seis municípios, liderados por São Paulo, onde estão 13,7% da população brasileira, concentram 25% de toda a geração de renda do país. Atrás da capital paulista estão Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Manaus. O IBGE também demonstra a concentração de riqueza agregando a renda dos 54 municípios de maior PIB: esse conjunto de cidades reúne 30,7% da população e é responsável por metade do Produto Interno Bruto brasileiro.
Ao longo da série histórica do PIB dos municípios, iniciada em 2000, o Sudeste manteve-se como produtor da maior parte das riquezas do país. Mesmo excluindo-se São Paulo e Rio de Janeiro – as duas primeiras no ranking de geração de renda – o PIB dessa região é o maior entre as demais.
“No mundo todo, os grandes centros urbanos são naturalmente hubs de desenvolvimento. Mas o ideal, ao longo do tempo, é que isso chegue ao interior, e que se distribua a força econômica para levar benefícios à população de cidades menores”, analisa Guilherme Mercês, gerente de estudos econômicos da Firjan. Mercês coordena o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), que acaba de ter sua edição de 2010 publicada.
A concentração da força econômica nas regiões metropolitanas e nas cidades acima de 200 mil habitantes traduz com fidelidade as demandas mais urgentes da economia brasileira. Como explica Mercês, os fatores determinantes de decisão de investimento pelo setor privado envolvem as condições de infraestrutura, estrutura tributária e a população, com sua capacidade de ser absorvida pelo mercado de trabalho. “A partir da saturação dos grandes centros, o investidor olha naturalmente para o interior. E passa a considerar essas variáveis. Condições de transporte, telecomunicações, energia elétrica, tributação e de educação dos habitantes pesam na decisão. Não por acaso, esses são entraves para grande parte do interior do Brasil”, afirma Mercês.
Há muito no que se avançar, portanto. O estudo do IBGE mostra que em 2010 apenas os 283 municípios com mais de 100.000 habitantes foram responsáveis por 70% da renda de todo o país – eles representam cerca de 5% das 5.565 cidades brasileiras. Na outra ponta, os 3.915 municípios com uma população inferior a 20.000 pessoas não respondem por mais de 10% da renda.
Com relação à participação das capitais, o levantamento mostra que São Paulo (SP) ocupa a primeira posição do Brasil, enquanto Palmas (TO), está em último lugar. Todas as capitais são líderes em seus estados, com exceção de Santa Catarina, onde Joinvile e Itajaí superam Florianópolis.
Entre os estados, afirma Mercês, São Paulo é o que mais conseguiu desenvolver cidades do interior. “O estado mais desenvolvido do Brasil é também o que mais consegue distribuir sua força econômica por outros municípios. No Rio, isso aos poucos começa a acontecer, como mostra o IFDM. Temos dois polos de desenvolvimento além da capital: o Sul Fluminense, com Resende, Porto Real, Volta Redonda e o setor naval em Angra dos Reis; e as cidades que recebem os investimentos do petróleo, no Norte, lideradas por Macaé”, afirma.