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Mantega cria o ‘realismo fantástico’ do câmbio

Pela argumentação do ministro da Fazenda, basta o real perder valor para o país ganhar competitividade; sobre reformas estruturais, nada foi dito

Por Carolina Freitas
22 Maio 2012, 18h34

Guido Mantega credita a um processo de desindustrialização global a situação de penúria da indústria brasileira

Desde quando o dólar bateu na casa dos 2 reais, em 15 de maio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, só quer saber de comemorar o câmbio “conveniente”, nas palavras dele, para o Brasil. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça, ele retorceu dados e saiu-se com uma pérola do reducionismo: “Quando há uma valorização de 20% do dólar, significa que o Brasil está 20% mais competitivo”. Em suma, na visão do ministro, basta uma mudança no câmbio para o país, como que por mágica, ter produtos melhores e mais baratos para brigar nos mercados internacionais. Um real enfraquecido, de fato, tem o poder de estimular exportações e coibir importações, mas não transforma a capacidade produtiva, nem gera eficiência. Por outro lado, um câmbio apreciado apenas escancara o grau de competitividade de uma nação. Se ele é baixo, ficará ainda pior com uma moeda forte. Ao reiterar sua comemoração do dólar mais forte, Mantega apenas mostra sua disposição em não fazer nada para atacar as profundas deficiências que, essas sim, minam a competitividade do país. Autoelogio – O ministro associou a valorização do dólar às medidas econômicas lançadas pelo governo nos últimos meses, como, por exemplo, a extensão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% sobre os empréstimos externos para captações com vencimentos em três anos. Ainda que o mercado reconheça a influência dessas ações, a recente alta da divisa também responde à apreciação global da moeda americana e à especulação no mercado doméstico. Na versão de Mantega, o dólar responde tão somente à atuação destemida do Planalto: “Muitos países, sobretudo a China, vinham manipulando seu câmbio havia mais de vinte anos. Como eles eram pobres, nós tolerávamos. Mas agora tivemos de reagir”, gabou-se. Indústria – O ministro da Fazenda minimizou os impactos negativos da alta do dólar para alguns setores da indústria. “Todo remédio tem seu efeito colateral, mas não é por isso que você deixa de tomar o remédio”. Mantega deu, por fim, sua visão particular sobre o processo de desindustrialização do Brasil, que, para ele, não existe. “Há um enfraquecimento da indústria no mundo; um processo natural de terceirizar atividades da indústria e fazer com que elas virem serviço.” O movimento, de fato, existe no mercado internacional há muitos anos. Basta ver que os Estados Unidos e a Europa transferiram boa parte da capacidade de produção industrial ao Sudeste Asiático. Esse movimento, entretanto, não justifica por inteiro o atual quadro lamentável da indústria brasileira. Existem fatores a penalizar o setor industrial que ele, há muitos anos, faz questão de ignorar. São deficiências que minam a competitividade da economia brasileira e que caberia ao governo atacar por meio de reformas, tais como a infraestrutura deficiente, baixa qualificação da mão de obra, uma carga tributária pesada, juros altos, entre outros fatores. Patriota – O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, também se manifestou sobre a carta, classificando-a de “descabida” e “incongruente”. Em uma entrevista nesta sexta-feira, o chanceler repetiu o que já havia sido dito na quinta-feira pelo seu porta-voz: o governo brasileiro considera a carta injustificada tanto no conteúdo quanto na forma.

“As medidas adotadas pelo Brasil, como aliás foi reconhecido pelo representante americano, está dentro da legalidade da OMC (Organização Mundial do Comércio)”, afirmou Patriota. “Juntando essas duas circunstâncias, consideramos que é necessário buscar outras maneiras de se desenvolver uma relação comercial equilibrada e mutuamente benéfica. Esse tipo de manifestação não é construtiva.”

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