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ESTUDO #31

Uma chance de ouro para a Educação – A popularização do Ensino Profissional e Tecnológico

por Da Redação Atualizado em 30 ago 2023, 09h40 - Publicado em
30 ago 2023
10h00

Apresentação

Os Estados Unidos conseguiram matricular mais de 90% de suas crianças na escola em 1900. Esse patamar só foi atingido pelo Brasil no início dos anos 2000, mais de cem anos depois. Não é de se espantar, pois, que duas pesquisas realizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI) – uma com 2 007 brasileiros e outra com 1 001 empresários de pequenas, médias e grandes indústrias – tenham mostrado que a população não avalia como boa a educação no país. Estamos mesmo muito atrás nesta corrida. A população reconhece que há uma lacuna no início da escolarização. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a consideram boa ou ótima e 20% ruim ou péssima.

As deficiências no primeiro passo das crianças na educação formal acabam se arrastando por toda a sua vida escolar, o que certamente contribui para outro dado alarmante. Só 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estudam atualmente (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior ou pós-graduação) – 53% na faixa etária de 16 a 24 anos. Enquanto o mundo todo discute o aprendizado ao longo da vida, para requalificar e realocar os trabalhadores, aqui ainda se briga com os altos índices de evasão e a baixa escolaridade da população. “Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi. “Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação, principalmente a profissional”.

Em um país com 66,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não têm o ensino médio completo e não frequentam a escola, é contraproducente fechar os olhos para essas taxas. Até porque não demora para aparecerem os reflexos da formação incompleta: 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos nem estudam nem trabalham, segundo a PNAD de 2022. É um problema crônico, que deixa o Brasil na lanterna, como aponta a última edição do relatório Education at a Glance, da OCDE: os nem-nem eram 35,9% dessa parcela da população em 2020, o que colocava o país como 2º com a maior proporção de jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho. A média dos países da OCDE era de 16,6%.

A reforma do Ensino Médio aprovada em 2017, que começou a ser implementada em 2021 e ora se encontra com o cronograma pausado pelo Ministério da Educação para discutir com a sociedade civil desejáveis ajustes em seu desenho e execução, é uma esperança de dias melhores. O chamado Novo Ensino Médio traz como bem vindas mudanças o aumento na carga horária, a flexibilização na escolha das disciplinas por parte dos alunos, e a proposta de universalização da oferta de Ensino Profissional e Tecnológico em todo o Brasil. A ideia vai ao encontro do que tanto a população em geral quanto os industriais acreditam ser o melhor caminho. Para um terço dos empresários, a EPT é o ponto mais forte da educação pública nacional, bem à frente do segundo colocado da lista (o ensino superior, com 23%). Já entre o grande público a aceitação é ainda maior, já que 66% o julgam ótimo ou bom.

Na visão dos empresários, os pontos positivos da formação técnica são: preparar melhor para o mercado de trabalho (45%), cursos mais focados (28%), cursos mais práticos (22%), boa aceitação no mercado de trabalho (18%), ter mais conhecimento/habilidades (17) e começo na carreira profissional (16%).

É por tudo isso que 91% dos entrevistados no público geral recomenda aos jovens que o façam, número que pula para 97% entre os que o cursaram no passado. A mesma proporção de empresários aponta que os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho e que é mais fácil conseguir um emprego com formação profissional. Para 85%, os cursos técnicos permitem concorrer a uma oferta maior de vagas de emprego. Na comparação com o ensino superior, para 63% o curso técnico dá grande vantagem para se conseguir o primeiro emprego; e, para 75%, são cursos mais ligados às necessidades do mercado.

É diante do desafio de conciliar as demandas do setor produtivo com as políticas para a juventude que 21% dos empresários colocam o ensino técnico como prioridade na pauta educacional do governo para os próximos anos, ficando atrás apenas do ensino fundamental (33%) e na frente da alfabetização (18%) e do ensino médio (17%).

Hoje, em uma escala de 0 a 10, os empresários dão nota 4,5 para o incentivo do poder público ao desenvolvimento do ensino técnico no país. Para 46% das pessoas ouvidas, a qualificação dos trabalhadores é mais responsabilidade do estado que da iniciativa privada; para 28%, essa ação deve ser compartilhada igualmente; e 9% defendem que é mais da iniciativa privada que do estado. Só 13% acreditam que é exclusivamente do estado e 2% exclusivamente do setor privado.

Apesar da avaliação positiva e do crescente interesse, o país está distante de cumprir a meta de expansão da oferta prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O Brasil deveria alcançar 4,8 milhões de matrículas até 2024, contudo, o ano de 2022 fechou com 2,15 milhões de matrículas, sendo 1,24 milhão na rede pública. Ainda que muitos optem pela formação após o ensino médio, o avanço das matrículas no geral tem sido lento. Junte-se a isso o fato de que só 23,8% dos brasileiros de 18 a 24 anos estão no ensino superior, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2021.

Nas próximas páginas, VEJA Insights, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria, mostra quais são as principais iniciativas para universalizar e melhorar a educação no Brasil, além de apontar o que mais pode ser feito. Boa leitura!

Novas vagas exigem qualificação profissional

ROBSON BRAGA DE ANDRADE

ROBSON DE ANDRADE: empresário e presidente da CNI
ROBSON DE ANDRADE: empresário e presidente da CNI (CNI/Divulgação)

A digitalização da produção e a necessidade de adaptá-la aos novos padrões de descarbonização da economia estão provocando intensas transformações no mercado de trabalho, o que vai demandar mais qualificação e flexibilidade dos profissionais. De acordo com levantamento do Observatório Nacional da Indústria, será necessário requalificar, até 2025, cerca de 2 milhões de trabalhadores já empregados, apenas nas áreas de logística e transporte, construção civil, vestuário e energia. A mesma sondagem revela que esses segmentos devem criar 534 mil novos empregos no período.

Essas vagas – e as que estão sendo geradas nos demais setores da indústria – vão requerer atualização em conhecimentos técnicos. Isso fortalece o papel da educação profissional para dotar os trabalhadores com a capacidade de executar funções típicas da Indústria 4.0, de trabalhar em equipe e de se engajar no aprendizado por toda a vida. Tais habilidades, além de outras de caráter socioemocional, serão fundamentais para a sobrevivência num ambiente em que várias ocupações estão mudando radicalmente ou até mesmo sendo extintas, enquanto outras surgem.

“Será necessário requalificar, até 2025, cerca de 2 milhões de trabalhadores já empregados”

Especialistas indicam que, no campo da logística e do transporte, os profissionais precisarão atuar com o gerenciamento inteligente das etapas da movimentação, da armazenagem e da distribuição de mercadorias. Na construção civil, segmento industrial que mais tem gerado empregos no país e que deve ser impulsionado pelo lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os trabalhadores terão que aprender a usar tecnologias modernas, compatíveis com as utilizadas nas obras em países de economia mais avançada.

Na área de vestuário, será preciso qualificar costureiros e operadores de máquinas, além de complementar a formação de técnicos em modelagem, assistentes de estilo e gerentes de produção, entre outras funções. Na esfera da geração de energia, o foco será nas novas tecnologias de energia limpa. Esse é um campo enorme para pesquisa e inovação, diante da necessidade global de cortar as emissões de carbono para conter as mudanças climáticas. Pela experiência e pelos abundantes recursos naturais, o Brasil tem condições de liderar a transição energética que está em curso.

“É imprescindível continuar investindo no ensino técnico multidisciplinar e moderno”

Para vencer a ainda alta taxa de desemprego, o país precisa voltar a crescer de maneira mais consistente e superar alguns obstáculos estruturais. Entre eles, estão a precária qualificação da mão de obra e a baixa qualidade da educação. É imprescindível continuar investindo no ensino técnico multidisciplinar e moderno, como o oferecido pelo SENAI em todo o território brasileiro, como forma de preparar os profissionais para a nova realidade do mercado de trabalho, aumentar a produtividade e estimular o crescimento econômico em bases mais sólidas.

As instituições do Sistema Indústria prestam um serviço de ótima qualidade ao país na área da educação e da qualificação profissional, entre outras. A excelência da rede de escolas e dos institutos do SESI e do SENAI é reconhecida nacional e internacionalmente. Um diploma dessas duas entidades é um verdadeiro passaporte para a cidadania de jovens e trabalhadores das classes C, D e E, que passam a contar com melhores possibilidades de se inserir na competitiva economia moderna. Sempre contribuímos e continuaremos contribuindo para o desenvolvimento do Brasil, neste e em diversos outros campos.

Entrevista: Rafael Lucchesi

DESPERDÍCIO - “Brasileiros saem do sistema educacional sem identidade social”
DESPERDÍCIO – “Brasileiros saem do sistema educacional sem identidade social” (José Paulo Lacerda/CNI/.)

A lista de contribuições do economista Rafael Lucchesi para a difusão da educação e do conhecimento no Brasil é longa. Ele é diretor de Educação e Tecnologia da CNI, diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI há 12 anos, e integrante do Conselho Nacional de Educação há sete. Foi secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado da Bahia de 2003 a 2006 e presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI). Também foi membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, e hoje participa ativamente das discussões sobre as mudanças no Novo Ensino Médio. Em entrevista por telefone ao VEJA Insights, Lucchesi fez uma avaliação do ensino no Brasil e mostrou o que deve ser feito, na prática, para transformar a educação e, por consequência direta, o desenvolvimento do país.

As duas pesquisas realizadas pelo Senai e SESI, uma com a população em geral e a outra com empresários, mostram que a avaliação da da educação brasileira é ruim. A avaliação popular bate com a do especialista? Depende. Os países desenvolvidos atingiram a universalização da educação ainda no século XIX. A Inglaterra foi até antes, no século XVIII. O Brasil foi o único país que fez uma revolução industrial e não fez uma revolução educacional. Então o que nós temos hoje? A população é até mais generosa do que o segmento dos empresários quanto aos nossos problemas de educação. Ambos fazem uma avaliação muito ruim dos anos iniciais, principalmente a alfabetização, que 20% julgam ruim e péssimo. Mas a população aprova o Ensino Técnico, com 58% como ótimo bom e só 8% de ruim péssimo. Isso é um elemento importante.

Apesar da boa avaliação, o Ensino Técnico é pouco difundido no Brasil, só cerca de 10% dos estudantes passam por ele. Trata-se de uma falha do nosso sistema? A própria população, e também o empresariado, aponta que a expansão do Ensino Técnico deve ser a prioridade da ação do governo. É quem faz o “match” entre o emprego e os jovens. Então, isso é um alinhamento importante da percepção desses dois públicos. Se nós olharmos para a matriz educacional brasileira, nós vamos ver que ela é muito diferente dos outros países, porque no Brasil nós temos um número abaixo de 10% – em alguns estudos aparece 8, e em outros aparece 9 – de jovens entre 15 e 17 anos que fazem educação técnica. Na média dos países da OCDE, dos países ricos, esse número está em torno de 45%.

Qual a consequência disso? Isso é muito ruim, porque o sistema educacional tem que dar identidade social a todos os jovens. Eu sou economista, você é jornalista, e o sistema educacional te presenteou isso. Só que no Brasil 76% dos jovens não vão para a universidade. E esses brasileiros saem do sistema educacional sem identidade social. Saem sem um direito que me foi dado, mas não é dado a eles. As pessoas vão buscar na vida, em outras instituições – normalmente no próprio mercado de trabalho – essa identidade. Ou pior, se tornam nem-nem, que nem trabalham, nem estudam. E se reflete também a baixa produtividade do trabalho, que atinge a todos nós. É ruim para todo mundo: perdem as empresas, perde o governo, perdem a sociedade e sobretudo, perde a juventude.

SALA CHEIA - Brasil universalizou o ensino básico com muito atraso e relação a países ricos
SALA CHEIA – Brasil universalizou o ensino básico com muito atraso e relação a países ricos (José Paulo Lacerda/CNI/.)

O senhor está na linha de frente do Ensino Técnico no Brasil, à frente do SESI e Senai, há muitos anos. O que o senhor enxerga como uma solução para esse problema? Nós temos agora uma grande oportunidade de atacar esse problema que é a reforma do Ensino Médio. Está na mão do MEC, e o ministro Camilo Santana tem feito um esforço grande de avançar a discussão da reforma, mas o mais importante é assegurar a educação profissional para o futuro da juventude. E isso não pode ser um discurso, tem que ser na prática. Há que se assegurar a formação técnica profissional para os jovens que estão matriculados em um único turno, que são maioria: 87% dos jovens que estão hoje na escola foram matriculados no Turno Único. O principal motivo da interrupção da educação no Brasil, com 47% dos casos, é por necessidade de tempo para trabalhar e ganhar dinheiro. Entre os jovens entre 16 e 18 anos, 18% interromperam por gravidez (tanto homens quanto mulheres). Que, na verdade, também acaba sendo uma evasão para poder trabalhar e sustentar a criança. O Ensino Técnico oferece a oportunidade de um emprego, e um emprego qualificado, que paga melhor.

Vocês estão participando das discussões com o governo sobre os ajustes no Novo Ensino Médio. O que tem achado das propostas? A discussão capitaneada pelo MEC está sendo muito democrática, e estamos, sim, envolvidos nesse diálogo. O aumento na carga horária da formação geral já é um consenso. O que se está discutindo agora é o tamanho do aumento. O fundamental é assegurar o direito dos jovens ter a opção da educação técnica profissional no turno único. E aí é importante que a base nacional comum curricular cresça até 2 100 horas, porque você assegura 900 horas para o itinerário formativo técnico. O governo fala em aumentar essa carga da formação geral para 2 400 horas, mas aí só poderiam fazer as 900 horas do ensino técnico os 13% dos alunos matriculados em tempo integral. E é fundamental assegurar o direito de 87% dos jovens ao ensino técnico.

O que mais ficou de lição da pesquisa? A educação é contínua e é ao longo da vida. Ninguém mais vai concluir os estudos. Mas no Brasil nós temos um percentual baixo de brasileiros que estão estudando. É importante nós colocarmos o consenso da educação para todos, de todas as idades. E temos que, numa democracia, ouvir a voz da sociedade brasileira, que está dizendo com clareza que a prioridade é a educação técnica profissional. Ela é a mais reconhecida e a maior aposta que a população faz. Entre os empresários, isso é ainda mais forte, e 91% recomenda os custos técnicos.

A sua percepção bate com a da população e com os empresários ou é um pouco diferente? A população acha isso porque ela tem essa experiência na família. Se nós pegarmos dois jovens que têm a mesma escolaridade, aquele que tem educação profissional técnica ganha mais. Teve melhor oportunidade de inserção no mundo do trabalho, conseguiu o primeiro emprego antes.O presidente Lula da Silva já declarou que a passagem dele pelo Senai foi decisiva para ele ter uma identidade social. Ele foi o primeiro da família dele a comprar um fogão. Ele foi o primeiro a comprar uma geladeira, uma televisão e um automóvel. O primeiro a ter casa própria. Quem deu essa identidade social para ele foi o Senai. E como ele, milhões de brasileiros. A sociedade brasileira sabe disso.

Por que o ensino profissional cresce tão devagar no Brasil? Oitenta e cinco por cento da oferta de educação profissional no Brasil são dos governos estaduais. Governo Federal fez em vários momentos uma expansão da rede federal de ensino, em parcerias com o Sistema S, com o Pronatec, etc. Mas é preciso evoluir muito mais. Alguns estados, como Pernambuco e São Paulo, avançaram muito nos últimos anos, mas a reforma do Ensino Médio é a grande oportunidade de resolver isso no país inteiro de forma coordenada e maciça.

É um problema de oferta, então? A universalização do ensino só se incentivou a partir da condição de 88. É muito recente. Nós temos uma agenda forte de educação no Brasil nos governos recentes, e há avanços claros em anos de escolaridade e qualidade da educação. O ponto de partida que é ruim, de um sistema recente. Ainda temos muitos desafios, e eu acredito que a prioridade é melhorar a qualidade do ensino básico e corrigir a distorção da nossa matriz, ampliando ensino técnico profissional.

O novo novo ensino médio

MODERNIDADE - Reforma permite que estudantes optem por disciplinas mais práticas
MODERNIDADE – Reforma permite que estudantes optem por disciplinas mais práticas (Carlos Moura/CNI/.)

Desde 2022 que o Novo Ensino Médio está em pleno vigor para os alunos de primeiro ano, e até 2024 se estenderá a todas as turmas do país. Aprovada em 2017 pela Lei 13.415, a reforma no currículo que aumenta a carga horária total dos três anos letivos de 2 400 para 3 mil horas, cria diferentes opções de itinerários formativos para os estudantes escolherem e universaliza a oferta de Ensino Profissional e Tecnológico já nasceu sob uma tempestade de críticas. Colegiais reclamaram da diminuição do tempo dedicado às matérias essenciais, como Português e Matemática, enquanto professores e secretários de Educação queixam-se da dificuldade de se oferecer uma vasta gama de cursos, como Culinária ou Empreendedorismo, com qualidade. Diante da grita de entidades representativas de docentes e discentes, e também dos estados, o governo Lula decidiu suspender o cronograma de implementação das novas diretrizes e propôs mudanças no modelo — o que pode ser chamado de “Novo Novo Ensino Médio”. “A essência da reforma, com maior carga horária, flexibilidade de currículo e integração profissional, é o que se tem adotado nos países com melhores indicadores”, avalia Olavo Nogueira, diretor-executivo da ONG Todos pela Educação. “O desenho e implementação do Novo Ensino Médio precisam mesmo de ajustes, mas sua revogação total seria como jogar o bebê fora junto com a água do banho”.

Motivos para se promover uma reforma não faltam. O Brasil amarga estar entre as 20 piores colocações no ranking do Pisa, exame internacional de avaliação de conhecimento sobre a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes de 79 países entre membros e parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além de fraco, o ensino nas escolas nacionais é desinteressante. A cada dez jovens brasileiros, apenas seis concluem o Ensino Médio até os 24 anos de idade. Entre os 20% estudantes mais pobres, esse número cai para 46%. As consequências são nefastas para os que não conseguem chegar ao final dessa etapa, e vão desde remunerações em média 25% mais baixas a uma expectativa de vida de três anos a menos.

De acordo com pesquisa do IBGE, as principais razões para a evasão escolar são a necessidade de trabalhar e a falta de interesse, por isso é fundamental que o currículo se torne mais atraente e integrado com o mercado de trabalho – justamente o objetivo do Novo Ensino Médio. “O custo da evasão escolar é muito alto tanto para o jovem, que perde perspectiva de progresso econômico e social, quanto para a sociedade, que deixa de contar com a contribuição de um cidadão bem formado e qualificado para o mercado de trabalho”, analisa o ex-ministro da Educação Henrique Paim. “É urgente atacar o problema, e estamos diante de uma oportunidade rara de dar um salto nesse sentido”.

A reforma original tem três pilares. O primeiro é o aumento da carga horária em 25%, ampliando o tempo de aula somado dos três anos de 2.400 para 3.000 horas. Em termos mais práticos, o aluno que antes passava entre 4 e 5 horas por dia no colégio agora terá de seis a sete horas diárias de aula. A maior duração do dia letivo abre espaço para o segundo pilar, a flexibilidade curricular. Apenas duas disciplinas são obrigatórias para todos durante os 3 anos: Matemática e Língua Portuguesa. Os demais conteúdos serão divididos entre cinco diferentes itinerários formativos. São eles Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Formação Técnica e Profissional. Dentro de cada itinerário, os estados e escolas têm liberdade para instituir aulas demandadas pelos alunos, como Educação Financeira ou Programação. Por fim, o Novo Ensino Médio traz a possibilidade de se integrar melhor a educação formal com o mercado de trabalho com a oferta universal de Ensino Profissional e Tecnológico — hoje disponível para não mais do que 12% dos adolescentes brasileiros. “Além da óbvia e fundamental preparação do jovem para conseguir melhores empregos, o EPT tem a enorme qualidade de tornar a escola mais interessante para o aluno ao aplicar na prática os conceitos teóricos da sala de aula”, frisa Nogueira.

DEMOCRÁTICO - Ministro Camilo Santana propôs ajustes à reforma
DEMOCRÁTICO – Ministro Camilo Santana propôs ajustes à reforma (Angelo Miguel/MEC/.)

As propostas de ajustes elaboradas pelo Ministério da Educação não mexem na ideia da reforma, mas são significativas e estão sendo discutidas em todo o Brasil. A principal delas diz respeito ao aumento de carga horária da Formação Geral Básica, ou seja, das disciplinas cobradas em exames como o Enem, de 1 800 para 2 400 horas. Trata-se da maior reivindicação dos estudantes, que se sentiram prejudicados para o prosseguimento da vida acadêmica pós Ensino Médio. E o ajuste é bem vindo, mas o Ensino Profissional e Tecnológico exige um mínimo de 800 horas para ser ministrado, o que leva muitas entidades do setor a defender que a FGB ocupe um máximo de 2 200 horas para garantir o EPT dentro do turno regular da escola. O governo também quer diminuir o número de itinerários formativos, que passariam a se chamar percursos de aprofundamento e integração de estudos, de cinco para três: Linguagens, matemática e ciências da natureza; Linguagens, matemática e ciências humanas e sociais; Formação técnica e profissional. A mudança faz sentido se vier acompanhada de uma definição mais precisa do que cada percurso significa, o que não acontece no Novo Ensino Médio e tampouco na nova proposição.

Há ainda discussões sobre a limitação do Ensino à Distância e à exigência de notório saber para professores no Ensino Técnico e ferramentas para adicionais para abordar a recomposição das aprendizagens e políticas de promoção da permanência dos estudantes na escola na reestruturação do Ensino Médio, em especial os que se encontram em situação de vulnerabilidade. Todas legítimas e bem vindas. A exigência de notório saber é especialmente sensível para os professores de todo o Brasil que, com a flexibilização curricular, se viram obrigados a dar aulas de assuntos que não dominam. Ruim para eles, pior para os estudantes, que tiveram o aprendizado prejudicado. A oportunidade de acesso ao Ensino Técnico não pode ser desperdiçada com uma instrução de má-qualidade.

É fundamental que o país faça um esforço concentrado para articular o EPT com o Ensino Médio de maneira bem feita. É provável que para isso seja preciso que as secretarias estaduais de Educação estabeleçam parcerias com a rede federal pública, com instituições privadas, e com o Sistema S, que tem longo histórico de colaboração com políticas públicas. “O Brasil está muito atrasado na difusão do EPT, fundamental para os jovens e sociedade, e não podemos perder esta oportunidade por conta de uma má execução da reforma”, diz Paim. O Novo Ensino Médio não pode carregar os problemas do antigo, ou rapidamente será obsoleto.

Mapeando o futuro

BIG DATA - Metodologia brasileira antevê vagas de emprego até 15 anos na frente
BIG DATA – Metodologia brasileira antevê vagas de emprego até 15 anos na frente (Iano Andrade/CNI/.)

A pesquisa realizada pelo Senai e SESI com 1 001 executivos de pequenas, médias e grandes indústrias sobre a educação no país perguntou quais formações técnicas eles recomendariam a um jovem em idade de iniciar o Ensino Técnico. As respostas não chegam a surpreender: 30% indicariam a área de Tecnologia da Informação (TI), 10% a mecânica, 9% eletricista, 8% em administração, 5% automação industrial e 4% mecatrônica. Elas estão algo alinhadas com as inovações tecnológicas que estão impactando as cadeias e processos produtivos apontadas, em pergunta espontânea, como as mais promissoras para os jovens no Brasil nos próximos 10 anos, entre elas TI (68%), saúde (11%), engenharias (10%), automação industrial (5%) e agronomia (4%).

Mas as sondagens com empresários são apenas uma pequena parte da vasta quantidade de elementos que a Confederação Nacional da Indústria e o Senai usam para prever quais as profissões serão necessárias no futuro, e como preparar os jovens para o mercado de trabalho que está por vir. Desde o ano passado, a CNI centralizou todas as suas bases de dados no Observatório Nacional da Indústria, onde reúne as principais informações sobre economia, mercado de trabalho, educação, saúde, além de acompanhar, monitorar e avaliar programas e ações voltados para a indústria brasileira. Além das pesquisas periódicas com industriais e cientistas no Brasil e no exterior, o Observatório também analisa dados de patentes tecnológicas, artigos científicos, white papers da indústria, vendas de maquinário e softwares industriais, entre outros.

A partir disso, o Observatório tenta responder a duas perguntas para cada setor da indústria. Quais as tecnologias têm maior chance de difusão tecnológica, ou seja, que vão ser utilizadas pelas empresas nos próximos 5, 10 ou 15 anos? E quais as mudanças estão acontecendo do ponto de vista organizacional, ou seja, na cadeia produtiva, na governança, nas normas que o regem, na regulação e como isso vai mudar a dinâmica do setor? O passo seguinte é justamente identificar qual é o impacto dessas tecnologias ou dessas mudanças nas organizações no mercado de trabalho, e quais os conhecimentos técnicos e habilidades vão ser demandados no futuro, para poder orientar a oferta de cursos no Senai. “Nosso trabalho aqui consiste em olhar para o futuro, trazer essa informação para o presente, e usá-la para construir um caminho concreto para esse futuro”, explica Marcio Guerra, gerente-executivo do Observatório Nacional da Indústria.

Moldar a oferta de cursos significa tanto definir o conteúdo e o currículo oferecido nas formações já estabelecidas, como identificar novas profissões que vão surgindo com a difusão da tecnologia. Nos últimos 10 anos, foram feitos mais de 150 estudos prospectivos para garantir atualização e transformação dos cursos do Senai para manter a oferta formativa na fronteira do conhecimento – e até ajudar na difusão das melhores tecnologias disponíveis, afinal não há adoção possível sem uma mão de obra qualificada.

Mas todo esse conhecimento ainda tem uma longa vida útil pela frente. Ele é valiosíssimo para os gestores da indústria, que precisam ser municiados com a melhor informação para tomar decisões de investimento. E a sociedade em geral, de jovens a fim de se inserir no mercado nacional ou internacional de trabalho, adultos que querem entender o mundo em que vivem. Então o Observatório organiza reportes, painéis de dados, e seminários com o objetivo de difundir toda essa informação. Acadêmicos conseguem acesso a todo o material por meio do Big Data Cooperativo, que está integra cerca de 209 bases de dados de temas de interesse da indústria.

O Modelo de Prospectiva para o Mercado de Trabalho do Senai recebeu um reconhecimento da Organização Internacional do Trabalho e do Banco Mundial, que o consideram uma referência para países emergentes. Desde 2012, em parceria com o Cinterfor/OIT, o Senai já levou cursos de capacitação sobre a aplicação do Modelo de Prospectiva a 19 países da América Latina e Caribe, em mais de 50 instituições. Os jovens do mundo inteiro agradecem, afinal, o futuro se constrói hoje.

O exemplo de Portugal

INCLUSÃO - Crato: “Se diminui a exigência, quem aprende menos são os mais pobres.”
INCLUSÃO – Crato: “Se diminui a exigência, quem aprende menos são os mais pobres.” (./Divulgação)

O economista e matemático português Nuno Crato acompanha com muito interesse a implementação do Novo Ensino Médio no Brasil. Ele dedica sua carreira acadêmica a estudar o impacto de políticas públicas educacionais com ferramentas de modelos estocásticos e estatísticos, e dá consultoria a governos mundo afora como presidente da ONG Iniciativa Educação. Mas o que deu a Crato a reputação de autoridade no assunto foi sua gestão como ministro da Educação e Ciência de seu país entre 2011 e 2015, quando comandou uma profunda reforma no sistema de ensino com resultados impressionantes.

Contrariando a ideia de que intervenções nesta área demoram décadas para apresentar resultados, as ideias de Crato se refletiram imediatamente em avaliações internacionais. E não só. À medida que a pontuação dos portugueses no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, aplicado pela OCDE) aumentava, as taxas de evasão escolar diminuíram. De Quito, no Equador, onde passa férias com a família, Crato falou à VEJA Insights por telefone sobre a importância de se aumentar a carga horária nas disciplinas básicas e da valorização do Ensino Profissional tanto para os alunos com mais dificuldade quanto para os jovens com notas acima da média.

A reforma no sistema educacional que o senhor capitaneou tinha o lema “Educar mais, avaliar mais”. O que isso significa na prática? Muitas vezes julga-se melhorar a educação significa apenas ter mais anos de estudo e ter mais jovens na escola. E isso é verdade. Nós aumentamos a escolaridade obrigatória de nove para 12 anos. Obrigatória mesmo, 100% de nossos jovens frequentam a escola. Mas mais importante é que o tempo que passam na escola seja bem aproveitado, ou seja, que eles melhorem a sua formação e qualificação real. Parece óbvio, mas o que eu vejo em muitos países na minha análise de políticas públicas e meu trabalho de consultoria é o governo preocupado só com quantidade: mais jovens na escola, mais tempo da aula, mais professores, mais instalações, mais computadores. Mas e o que os estudantes aprendem? Qual é a qualidade da educação que eles têm? Como é que vão sair da escola? Essa foi a nossa preocupação essencial.

E como conseguiram fazer isso? Duas coisas são fundamentais. Primeiro, que o currículo esteja bem estruturado, seja ambicioso, e tenha objetivos bem claros. O professor tem que saber o que vai ensinar, e o aluno tem que saber o que ele precisa aprender. Depois é preciso avaliar se o conteúdo foi bem ensinado, bem aprendido. Se nós somente estabelecemos objetivos e não avaliamos a medida em que eles estão a ser alcançados, pouco serve. Portanto, avaliar mais significa realizar testes com frequência, com consistência, que tenham os mesmos critérios ano após ano. Estes dois componentes, ensinar mais e avaliar mais, foram decisivos para nós.

A reforma no ensino de Portugal foi feita em um período particularmente difícil para o país, que vivia no início da década de 2010 uma crise econômica severa. Os salários de funcionários públicos, inclusive dos professores, fora reduzido. Aumentar os investimentos não é fundamental para dar um salto de qualidade no ensino? Não. Claro que há países em que a escola é literalmente um quadro negro pendurado numa árvore ao ar livre, mas este não é o caso de Portugal. E acho que também não é o caso do Brasil. O período entre 2011 e 2014 foi um dos mais difíceis da nossa história, com restrições imensas, mas nós conseguimos melhorar. Por quê? Porque nos concentramos naquilo que é essencial. O currículo e a avaliação. Insisto: nós não partimos do zero. Tínhamos recursos já estabelecidos, e um corpo de professores muito qualificado e experiente. Isso foi muito importante, os professores portugueses foram o motor desse desenvolvimento – mas agora apoiados por um bom currículo e por uma avaliação rigorosa.

O senso comum diz que políticas públicas na Educação demoram décadas para apresentar resultados, mas os estudantes portugueses apresentaram uma evolução imediata nos exames internacionais após a reforma. O senhor esperava uma melhora tão rápida? Há coisas que demoram mesmo. Por exemplo, se você quiser mexer na formação de professores, você precisa de dez anos, provavelmente mais. Tem que mudar o currículo da escola de formação de docentes na universidade, esperar que eles terminem o curso, e mesmo aí vai ser preciso ainda esperar que um número suficiente de educadores seja diplomada e amadureça na profissão. Mas há outras coisas que são muito rápidas. Se você introduzir a avaliação periódica, o impacto é imediato. Os pais, os alunos, os professores, todos entendem que é preciso fazer as coisas de uma maneira diferente. E se você retira a avaliação, entende-se imediatamente que há menos exigência. E quando entendem que há menos exigência, a coisa abranda um pouco, não é?

O senhor se baseou em alguma experiência internacional para desenhar a reforma portuguesa? Claro. A Finlândia foi um caso de sucesso na melhora da educação há 20 anos. Mas tem que se tomar muito cuidado. Eu vejo muitos políticos indo hoje à Finlândia ver o que eles estão fazendo, justamente quando a qualidade da educação está a decair ano após ano. Aquilo que eles fizeram de bom foi antes de 2006, quando as pessoas não estavam ainda tão interessadas em ver a Finlândia. E o que fizeram foi essencialmente algo parecido com o que eu estou a dizer, que é mais a educação e mais a avaliação.

Uma crítica comum ao aumento da exigência e às avaliações frequentes dos alunos é que isso afastaria os estudantes mais despreparados – o que coincide muito com os estudantes mais pobres, por inúmeras razões – da escola. Existe essa dicotomia entre exigência e inclusão? É exatamente o contrário. Os filhos dos mais ricos estão nos colégios privados, que seguem padrões internacionais, e portanto seguem sendo exigidos. Se diminui a exigência, quem aprende menos são os mais pobres. A exigência para todos é aquilo que faz com que todos possam melhorar. Mas isto só não basta. É fundamental promover programas de apoio aos jovens que tenham mais dificuldades, ajudá-los a alcançar os resultados gerais que se pretendem. Repito: temos que dar apoio para que todos possam chegar nas metas, e não baixar as metas.

Um dos principais pilares da reforma no ensino brasileiro, no Novo Ensino Médio, é a universalização da oferta do Ensino Profissional e Tecnológico. Hoje, apenas cerca de 10% dos estudantes tem acesso a essa formação, enquanto em Portugal esse número é de 42%. Que importância tem o EPT na Educação dos jovens? Nós demos uma atenção enorme a este tema. Não sei se é igual no Brasil, mas é consenso em Portugal que o ensino profissional é muito importante, por isso ele é bem difundido. O que precisamos fazer foi melhorar sua qualidade. Porque não basta o jovem estar numa escola onde se diz que é profissional e onde se aprendem coisas que não têm utilidade ou que não têm a qualidade necessária para que o jovem ingresse no mercado de trabalho. Os professores não podem ser improvisados. Por exemplo: não pode um curso de eletricista ter um professor que sabe tudo de Física, de eletricidade, mas não sabe fazer a instalação elétrica de uma casa, ou trocar um fusível. Então estabelecemos diretrizes para a contratação de professores, e melhor, estabelecemos acordos com a indústria para que ela ajude na formação profissional desde o início, com uma formação de aplicação prática.

A importância do EPT, então, é acelerar a entrada do jovem no mercado de trabalho? Não é só isso. Vou insistir na parceria das escolas com a indústria, porque esses acordos mantém o ensino atualizado com as tecnologias mais modernas e com a aplicação da teoria na prática, no mundo real. E isso é mais interessante para o jovem. Eu entendo que há o risco de se confundir o ensino profissional com uma espécie de combate ao insucesso, ou seja, que se mande para a formação profissionalizante os jovens com dificuldade nas aulas teóricas, como um último recurso para que não abandonem a escola. Isso até pode funcionar, mas o ensino profissional é importantíssimo para que todos os jovens tenham esse caminho aberto para um emprego mais qualificado, que pague melhor. Então fizemos duas modalidades de formação profissionalizante. O que chamamos de Ensino Vocacional se destina a combater o insucesso; e o Ensino Profissional se destina aos alunos mais destacados, mais avançados. O primeiro vai tentar recuperar os jovens que tiveram dificuldades no Ensino Fundamental.

O Brasil que sabe fazer

ENCAMINHADO - Aluno do Senai: parceria com empresas para qualificar mão de obra
ENCAMINHADO – Aluno do Senai: parceria com empresas para qualificar mão de obra (José Paulo Lacerda/CNI/.)

O brasileiro médio têm muitas críticas à educação no país, e as pesquisas comprovam isso. As opiniões são reforçadas pelos especialistas da área, que com menos ou mais ênfase dão razão à sociedade que reclama do ensino em território nacional. Tão importante quanto apontar os problemas das escolas e universidades é o trabalho de mostrar as muitas ilhas de excelência que se encontram Brasil afora, por uma questão de justiça e também para mostrar como é possível fazer melhor.

Uma das maiores histórias de sucesso da educação nacional atende pelo nome de Sistema S. Trata-se de um grupo de organizações das entidades representantes da indústria, da agricultura, do comércio e do transporte dedicadas à oferta de educação, assistência social, consultoria, cultura, pesquisa e assistência técnica. São elas o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), Serviço Social do Comercio (Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), Serviço Social de Transporte (Sest), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Há 80 anos elas contribuem com a qualificação e inserção de jovens e trabalhadores no mercado de trabalho, democratizando o acesso à educação décadas antes da universalização da escola ser uma realidade no Brasil. Quem atende especificamente ao setor industrial é uma rede integrada pela Confederação Nacional da indústria (CNI), o Serviço Social da indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), as Federações Estaduais da Indústria dos 26 Estados e do Distrito Federal, e os 1 280 Sindicatos Patronais Industriais.

A estrutura foi criada para atender as necessidades específicas e auxiliar no desenvolvimento da indústria brasileira, que emprega 9,7 milhões de trabalhadores e tem 20,4% de participação no emprego formal no Brasil. O SESI e o SENAI se dedicam à educação básica e profissional, à inovação e tecnologia e à promoção da saúde e da segurança no trabalho do setor.

O SESI é uma referência na educação básica, que compreende o ensino infantil, o fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), enquanto o SENAI é a principal instituição brasileira, e uma das maiores do mundo, na formação profissional de jovens e trabalhadores, incluindo a oferta de cursos de iniciação profissional, qualificação, técnicos, tecnólogos, graduação, aperfeiçoamento e pós-graduação.

MÃO NA MASSA - Jovens do Sesi aplicam Física teórica na construção de robôs
MÃO NA MASSA – Jovens do Sesi aplicam Física teórica na construção de robôs (Gilberto Sousa/SESI/.)

São elas que fazem o trabalho de formiguinha, incansável, de ao mesmo tempo possibilitar ao jovem uma perspectiva de vida próspera por meio do trabalho qualificado e à indústria a mão de obra tão necessária para o seu desenvolvimento.

Educação básica

O SESI oferece educação básica focada na formação para o futuro do trabalho a mais de 220.000 jovens, com uma metodologia de reconhecida excelência comprovada pelo alto desempenho de seus alunos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Distribuídas em todo o território brasileiro, as 514 escolas da Rede SESI são orientadas às necessidades do mundo do trabalho e com especial atenção às áreas de STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). A rede conta com materiais pedagógicos, formação docente e infraestrutura de excelência para oferta da educação infantil, ensino fundamental e médio, além da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para 87.000 inscritos – inclusive de forma articulada com a educação profissional SENAI.

Formação profissional

O SENAI é a principal instituição de ensino técnico e profissional do país, com mais de 86 milhões de trabalhadores formados desde que foi fundado, em 1942, e conta com a maior infraestrutura de tecnologia e inovação do Brasil. Seu modelo de formação mantém o currículo sempre alinhado à evolução tecnológica da indústria (leia mais em Mapeando o Futuro, pág. 14), o que se traduz em inclusão e empregabilidade para os jovens capacitados em diversos setores da indústria.

Hoje são 2,8 milhões de matriculados em educação profissional em 520 escolas fixas, e outras 517 itinerantes (duas delas são barcos-escola). Prova da boa qualidade do ensino no SENAI é o desempenho brasileiro na Worldskills – competição mundial de escolas de ensino técnico. Entre os cerca de 70 países que disputam, o Brasil, representado pelo SENAI, ficou em 1° lugar em 2015, em São Paulo; ocupou o 2° lugar em 2017, em Abu Dhabi, e 3° lugar em 2019, na Rússia (em razão da pandemia de Covid, o Brasil não participou da edição de 2022).

Em um país que amarga números crescentes de desemprego, a pesquisa de egressos de 2020 mostra que sete em cada dez ex-alunos SENAI estão empregados e que ex-alunos SENAI com curso técnico têm 22,7% a mais de renda média. Os dados mostram ainda que ex-alunos de cursos de qualificação profissional do SENAI têm 30% de chances a mais de conseguir emprego no período de um ano após terem sido demitidos.

A instituição também atua em pesquisa e desenvolvimento, através dos Institutos de Inovação e de Tecnologia. Eles mostraram seu valor durante a pandemia de Covid, quando saíram dos IITs um substituto nacional para o insumo essencial para a produção do álcool em gel, bem como tecidos antivirais e testes rápidos para detecção do vírus. Não bastasse, seus pesquisadores participaram da mobilização nacional para consertar mais de 2.500 respiradores, aumentando as chances de mais de 25.000 pessoas de sobreviver aos efeitos mais devastadores da doença.

Os institutos são aliados ímpares da indústria na pesquisa, desenvolvimento e inovação, em metrologia e testes de qualidade, a fim de permitir que os produtos brasileiros estejam em conformidade com normas técnicas, condição fundamental para competir em um mercado globalizado. A rede conta ainda com parcerias com universidades e instituições renomadas, como o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos.

Os 26 Institutos SENAI de Inovação, presentes em 12 estados, já atenderam mais de 600 empresas e executaram mais de 1,2 bilhão de reais distribuídos em 1.332 projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação com a indústria. A estrutura conta com mais de 930 pesquisadores. Já os 61 Institutos SENAI de Tecnologia, localizados em 17 estados e no Distrito Federal, realizaram mais de 59.000 atendimentos somente em 2020. Ao todo, 10.083 empresas foram atendidas. São mais de 1.300 especialistas e consultores para o desenvolvimento de tecnologias e inovação em empresas dos mais diversos portes e segmentos.

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