Apresentação
Os Estados Unidos conseguiram matricular mais de 90% de suas crianças na escola em 1900. Esse patamar só foi atingido pelo Brasil no início dos anos 2000, mais de cem anos depois. Não é de se espantar, pois, que duas pesquisas realizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI) – uma com 2 007 brasileiros e outra com 1 001 empresários de pequenas, médias e grandes indústrias – tenham mostrado que a população não avalia como boa a educação no país. Estamos mesmo muito atrás nesta corrida. A população reconhece que há uma lacuna no início da escolarização. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a consideram boa ou ótima e 20% ruim ou péssima.
As deficiências no primeiro passo das crianças na educação formal acabam se arrastando por toda a sua vida escolar, o que certamente contribui para outro dado alarmante. Só 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estudam atualmente (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior ou pós-graduação) – 53% na faixa etária de 16 a 24 anos. Enquanto o mundo todo discute o aprendizado ao longo da vida, para requalificar e realocar os trabalhadores, aqui ainda se briga com os altos índices de evasão e a baixa escolaridade da população. “Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi. “Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação, principalmente a profissional”.
Em um país com 66,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não têm o ensino médio completo e não frequentam a escola, é contraproducente fechar os olhos para essas taxas. Até porque não demora para aparecerem os reflexos da formação incompleta: 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos nem estudam nem trabalham, segundo a PNAD de 2022. É um problema crônico, que deixa o Brasil na lanterna, como aponta a última edição do relatório Education at a Glance, da OCDE: os nem-nem eram 35,9% dessa parcela da população em 2020, o que colocava o país como 2º com a maior proporção de jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho. A média dos países da OCDE era de 16,6%.
A reforma do Ensino Médio aprovada em 2017, que começou a ser implementada em 2021 e ora se encontra com o cronograma pausado pelo Ministério da Educação para discutir com a sociedade civil desejáveis ajustes em seu desenho e execução, é uma esperança de dias melhores. O chamado Novo Ensino Médio traz como bem vindas mudanças o aumento na carga horária, a flexibilização na escolha das disciplinas por parte dos alunos, e a proposta de universalização da oferta de Ensino Profissional e Tecnológico em todo o Brasil. A ideia vai ao encontro do que tanto a população em geral quanto os industriais acreditam ser o melhor caminho. Para um terço dos empresários, a EPT é o ponto mais forte da educação pública nacional, bem à frente do segundo colocado da lista (o ensino superior, com 23%). Já entre o grande público a aceitação é ainda maior, já que 66% o julgam ótimo ou bom.
Na visão dos empresários, os pontos positivos da formação técnica são: preparar melhor para o mercado de trabalho (45%), cursos mais focados (28%), cursos mais práticos (22%), boa aceitação no mercado de trabalho (18%), ter mais conhecimento/habilidades (17) e começo na carreira profissional (16%).
É por tudo isso que 91% dos entrevistados no público geral recomenda aos jovens que o façam, número que pula para 97% entre os que o cursaram no passado. A mesma proporção de empresários aponta que os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho e que é mais fácil conseguir um emprego com formação profissional. Para 85%, os cursos técnicos permitem concorrer a uma oferta maior de vagas de emprego. Na comparação com o ensino superior, para 63% o curso técnico dá grande vantagem para se conseguir o primeiro emprego; e, para 75%, são cursos mais ligados às necessidades do mercado.
É diante do desafio de conciliar as demandas do setor produtivo com as políticas para a juventude que 21% dos empresários colocam o ensino técnico como prioridade na pauta educacional do governo para os próximos anos, ficando atrás apenas do ensino fundamental (33%) e na frente da alfabetização (18%) e do ensino médio (17%).
Hoje, em uma escala de 0 a 10, os empresários dão nota 4,5 para o incentivo do poder público ao desenvolvimento do ensino técnico no país. Para 46% das pessoas ouvidas, a qualificação dos trabalhadores é mais responsabilidade do estado que da iniciativa privada; para 28%, essa ação deve ser compartilhada igualmente; e 9% defendem que é mais da iniciativa privada que do estado. Só 13% acreditam que é exclusivamente do estado e 2% exclusivamente do setor privado.
Apesar da avaliação positiva e do crescente interesse, o país está distante de cumprir a meta de expansão da oferta prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O Brasil deveria alcançar 4,8 milhões de matrículas até 2024, contudo, o ano de 2022 fechou com 2,15 milhões de matrículas, sendo 1,24 milhão na rede pública. Ainda que muitos optem pela formação após o ensino médio, o avanço das matrículas no geral tem sido lento. Junte-se a isso o fato de que só 23,8% dos brasileiros de 18 a 24 anos estão no ensino superior, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2021.
Nas próximas páginas, VEJA Insights, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria, mostra quais são as principais iniciativas para universalizar e melhorar a educação no Brasil, além de apontar o que mais pode ser feito. Boa leitura!