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‘Voltamos a fazer churrasco com picanha’, comemora secretário da Fazenda

Área econômica revisou expectativa de crescimento para o PIB; Secretário de Política Econômica, Guilherme Mello destaca pacotes econômicos

Por Pedro Gil Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 jul 2023, 11h33

Apesar do tombo registrado na prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que recuou 2% em maio, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda revisou de 1,9% para 2,5% sua projeção de crescimento no ano, enquanto reduziu as estimativas de inflação para 2023 e 2024.

Para sustentar o otimismo de crescimento, 0 presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a mirar também a classe média, acelerando programas que beneficiam aqueles que ganham mais de dois salários mínimos, e a indústria, principal geradora de emprego no país. O aceno se dá por meio da ampliação da faixa de financiamento do Minha Casa, Minha Vida, pelo programa de barateamento de veículos, pelo Desenrola, ferramenta de renegociação de dívidas que promete tirar até 70 milhões de pessoas da inadimplência, e pelo aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda.

Apesar dos acenos à classe média, Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, garante que os programas não são desenhados especificamente para uma ou outra faixa de renda. “Não dá para segregar, a sociedade é um conjunto. E ela tem que ser pensada nesse conjunto, mas sempre pensando naqueles que mais precisam”, afirma. Em entrevista a VEJA, ele explica que a reforma tributária deve beneficiar as pessoas de renda mais baixa e comemora que “as pessoas voltaram a fazer churrasco com picanha”.

O governo iniciou o ano com acenos para a população economicamente mais frágil e agora está sinalizando para a classe média. Como calibrar essa combinação de políticas públicas para sustentar crescimento? A visão que o presidente Lula nos colocou é de sempre priorizar quem precisa mais, mas com a preocupação de que toda a sociedade consiga prosperar. Em tese, quem ganha 1,5 ou 2 salários é classe média. Essas pessoas têm um foco também bastante claro nas políticas públicas. Pouca gente repara nisso, mas a política de salário-mínimo atinge a classe média porque os rendimentos do trabalho são orientados por essa política, que é uma espécie de farol do conjunto de rendimentos do trabalho. Já o Desenrola tem o foco claro em quem ganha até 2 salários, mas também renegocia dívidas na faixa II em valores superiores. Toda política pública é desenhada dessa forma. Mesmo quando você olha políticas que, via de regra, são pensadas para classes mais baixas elas também tem impacto na classe média. Outro exemplo é o Plano Safra, que é óbvio que tem uma atenção particular para o pequeno agricultor, mas também ampliamos crédito para os médios agricultores, com a criação de uma nova faixa para compra de máquinas e equipamentos. Não estamos falando de uma política que só atendeu os menores. Esse, claro, precisa de um apoio maior do estado.

Qual a importância das classes B e C para a atividade econômica? O presidente Lula tem dito que a gente precisa governar para todos e que a classe média tem, em particular depois da pandemia, sofrido mais. Criou-se muita forma de dar suporte para o trabalhador mais pobre. Então desenhamos as políticas públicas dessa forma por isonomia, mas também por motivo econômico. A classe média é composta por muito milhões de trabalhadores CLT, mas também pequenos empresários e pequenos empreendedores. Por isso, nós também ampliamos a linha do Pronampe. Isso atinge diretamente a classe média, mas também indiretamente porque as pequenas e médias empresa são as que mais contratam. É muito importante pensar nos impactos de forma mais ampla, para você conseguir gerar os efeitos multiplicadores de renda e emprego.

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Como a reforma tributária pode contribuir para esse cenário de crescimento? A reforma tributária deve beneficiar as pessoas de renda mais baixa, que consome a maior parte da sua renda com consumo. Quando você aprova uma reforma tributária que simplifica, mas beneficia conjunto de empresas que contrata e inova, é evidente que isso vai beneficiar quem é mais prejudicado. Um dos motivos que empresas internacionais não vêm investir no Brasil é por causa da complexidade tributária. O custo de entender isso e se adequar é muito grande. Quando você faz a reforma tributária você tem impacto positivo, mas tem também em aumentar competitividade nas nossas empresas e atrair novos investimentos.

O consumo das famílias deve crescer apenas 1,5% neste ano, com cenário de crédito apertado. Como recuperar esse cenário para que ele seja indutor de crescimento? Do ponto de vista da composição e demanda, o consumo das famílias é o fator mais relevante. Temos que recuperar a renda e a capacidade de acessar crédito para que as famílias voltem a consumir. Isso já está ocorrendo. As pessoas voltaram a fazer churrasco com picanha. Os relatos são muitos. E não estamos falando dos mais pobres. Isso beneficia o conjunto da sociedade. Consumo, claro, é um elemento importante do dinamismo da economia. Essas medidas, a própria reforma tributária ou mesmo a política de incentivo a automóveis também têm a capacidade de reconstruir alguns mercados e incentivar investimentos. A reforma tributária não é uma medida que tem impacto só sobre consumo das famílias. Há uma aposta dos investidores internacionais que estão vendo que vale a pena entrar no nosso mercado. Quando ele vê esse conjunto de fatores, o Brasil está muito bem situado do ponto de vista geopolítico e energético. Somos uma potência ambiental. Estamos criando a capacidade do país de ser um reduto de crescimento produtivo e inovador.

O Banco Central já sinalizou início da queda de juros, que deve aquecer novamente o acesso a crédito e incentivar consumo. O cenário de desaceleração preocupa? Do ponto de vista de crédito, de fato é um tema que está em um momento mais difícil. Mercado de crédito está mais apertado, mas já há sinais de melhoria. Com a queda na curva de juros, você já começa a ver emissões de debêntures que tinham parado e ajudam as empresas. Mas temos programas que ajudam neste momento de juros altos. O BNDES, por exemplo, vem aumentando sua participação, voltando a financiar exportadores com linhas em dólar. Temos criatividade para oferecer crédito competitivo. O Desenrola certamente vai ajudar as famílias, mas ajuda também as empresas, já que era um dinheiro que as empresas não contavam mais. Vai ter capital de giro entrando, com dívidas sendo negociadas e pagas. Resolve todo o problema? Não. Não há passe de mágica, mas há um trabalho muito consistente para criar as condições que já estão dadas para uma redução da taxa de juros. Se isso for transferido para os preços de crédito.

Ainda podemos ver impacto da crise no varejo, após caso Americanas, na atividade econômica? Do ponto de vista econômico, o grosso do impacto já passou, com spreads de debêntures e volta do mercado de capitais. Obviamente que tem toda uma discussão jurídica e de responsabilização que ainda vai se desenrolar.

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