Vicunha aporta R$ 11,5 mi em centro de inovação inédito no Brasil
Espaço V.Laundry é o primeiro investimento da indústria do setor têxtil durante o novo governo Lula; CEO fala sobre juros e acordos comerciais
A fabricante de denim e sarja Vicunha investiu 11,5 milhões de reais no primeiro centro de inovação dedicado à pesquisa e desenvolvimento do setor têxtil no Brasil. O projeto, localizado no polo industrial de Maracanaú, no Ceará, foi inaugurado na última quinta-feira, 11, com a presença de empresários e políticos, como o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT) –, o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, foi convidado, mas não participou devido a conflitos em sua agenda.
Batizado de V.Laundry, o espaço de 2,3 mil metros quadrados tem “cara de startup”, com emprego de software de prototipagem e foco na redução do uso de água e de produtos químicos, para se obter uma produção mais sustentável, de acordo com as novas demandas de consumo. Maior empresa do segmento na América Latina, a Vicunha, que é controlada pela família Steinbruch, espera que o novo investimento (que chegou a um total de 15 milhões de reais) dê mais agilidade para atender seus clientes, sobretudo na Europa. “Estamos investindo em um processo de desenvolvimento rápido de lavanderia, entregando para o cliente uma opção sustentável e econômica para que ele faça o desenho do produto on-line e de onde ele quiser”, comenta o CEO da Vicunha, Marcos de Marchi. “A Vicunha tem um papel de fomentador na cadeia de sustentabilidade. Se isso não vier dos líderes de mercado, não vai vir do pequenininho que mal tem condição de pagar as contas.”
A empresa apresentou receita líquida de 2,9 bilhões de reais em 2022 e espera manter um crescimento de, ao menos, 5% neste ano. Segundo o executivo, o cenário de juros e maior restrição ao crédito no varejo é um sinal de alerta para o mercado. “É um ano difícil. Essa questão [de inconsistência contábil] da Americanas acabou afetando todo o crédito do varejo e isso espirrou um pouco para trás. A gente está bastante cauteloso nesse aspecto. Crescemos cerca de 5% no primeiro quadrimestre, o que já não é fácil nesse cenário”, afirma ele. “Evidentemente que essa taxa de juros faz com que a empresa use todo o Ebitda dela para pagar os bancos. Se antes ter uma alavancagem de 2 ou 2,5 vezes era considerável saudável, hoje em dia fazer esse resultado com o juro como está transforma o Ebitda em lucro líquido zero. É impossível a indústria continuar investindo com esse nível de juros.”
Uma esperança de desenvolvimento do setor no país passa pelo desenlace do tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, parado há mais de 20 anos. “O Brasil precisa fazer acordos internacionais com países que consomem aquilo que a gente é capaz de fornecer, como os Estados Unidos e a Europa. A gente chega a mandar tecido brasileiro para ser confeccionado na Ásia para depois voltar como produto para a Europa. Isso não faz sentido do ponto de vista ecológico”, diz Marchi. “A gente precisa que o governo federal fomente contratos bilaterais. Enquanto o Brasil não entender que é isso que precisa ser feito, a indústria vai continuar andando de lado.”