Vale viajar no Brasil ou para o exterior? Entenda a variação das passagens
As companhias têm liberdade na precificação das passagens, no entanto, o que mais pressiona os preços são fatores como taxa de câmbio, combustível e juros
Com os preços nas alturas para voos nacionais e internacionais, a alternativa para os brasileiros é adiar viagens ou procurar destinos antes pouco visitados. Segundo os dados mais recentes levantados pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a tarifa média de 2022, considerando os destinos domésticos, é de 483,17 reais, alta de 20,1% em relação ao começo do ano passado, mas na prática é difícil achar voos nessa faixa de preço. Para países da América do Norte, o bilhete médio do primeiro trimestre de 2022 foi de 1.064,09 dólares (aumento aproximado de 9% em relação a 2021), enquanto viagens para países europeus estiveram com passagem média de 1.033,63 dólares nos três primeiros meses deste ano (aumento de 24%). O reajuste para países asiáticos também foi alto, com tarifa de 2.145,58 dólares (aumento de 20,3%) em média. Como mostra reportagem de VEJA desta semana, enquanto as companhias tentam se organizar para a retomada do mercado conforme a crise sanitária da Covid-19 diminui, os passageiros estão pagando mais caro para viajar.
O preço do real frente ao dólar desestimula viagens para o exterior, enquanto a alta na taxa de juros deprime a demanda por compras de passagens no crédito e parceladas. Além disso, a elevação do preço médio do barril de petróleo (fonte para o querosene de aviação) é fator direto para a alta nas passagens e pressiona a inflação no Brasil. Para o economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho, a instabilidade nos preços das passagens faz os destinos domésticos ficarem até mais caros, ao comprar com certas rotas internacionais. “Muita gente está vendo grandes promoções e realmente está fazendo mais sentido, por exemplo, ir para Portugal do que ir para Fernando de Noronha”, diz. Uma passagem de ida e volta para Fernando de Noronha no período de 10 a 15 de novembro, por exemplo, sai por 4.627 reais por adulto (mais barato). Já para Lisboa, o passageiro gasta 4.039 reais no mesmo período, de acordo com pesquisa feita pela reportagem no site Skyscanner.
A precificação dos bilhetes aéreos é feita pelas próprias companhias, com base no regime de liberdade tarifária no setor, instituído pelo Governo Federal em 2001 e ratificado por meio da lei n° 11.182/2005. A Anac tem a função de acompanhar, continuamente, as tarifas já comercializadas. A oscilação está ligada, em parte, à concorrência do setor e fatores como condições contratuais, antecedência da compra, aeroporto de origem e de destino, e ações promocionais. No entanto, a maior sensibilidade dos preços é com fatores macroeconômicos, que direcionam o nível de oferta e demanda.
Quando o dólar e euro estão mais altos, não só as passagens ficam caras; procedimentos como emitir ou atualizar o visto também ficam mais dispendiosos. A solução é retardar para o próximo ano ou as próximas férias possíveis viagens internacionais, ou procurar destinos pelo Brasil. Porém, na medida que a demanda por destinos internos aumenta, o preço acompanha a subida. “Quando tem muita procura para viagens, no caso destinos domésticos, especialmente agora na proximidade das férias, as companhias aéreas jogam os preços lá para cima para buscar um lucro maior. Eles conseguem mapear muito bem essa procura”, avalia Carvalho. O preço médio pago por quilômetro voado (yield) em 2022, considerando apenas os destinos domésticos, estava em 0,3741 reais, segundo os dados mais recentes da Anac, alta de 22,3% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
Novos destinos
Para a diretora de voos da Decolar, Daniela Araujo, a demanda reprimida nos últimos dois anos de pandemia e as férias de julho (primeiras férias escolares no contexto de maior flexibilidade de normas sanitárias), elevam a demanda. Apesar do aumento das tarifas, a agência de viagens online fechou o mês de abril com uma procura 51% maior em relação ao mês de março – considerando passagens para as férias de julho. “O Brasil é um país riquíssimo em termos turísticos, e o que observamos agora são novos destinos, por exemplo, Chapadas. Já na América do Sul, nós observamos (demanda alta) por destinos já antes procurados (Bariloche e Santiago, por exemplo), mas também novos locais, como Salta na Argentina, que não era procurado pelo brasileiro”, observa.
Para segurar a demanda, as empresas aéreas também estão se adaptando, especialmente como novas formas de pagamento, sucessivas promoções e maior flexibilidade para o consumidor. “Há alguns meses nós temos observado um crescimento na busca por tarifas flexíveis, que permite às pessoas cancelarem ou alterarem data de passagens, por exemplo. E acredito que este é um modelo que não deve voltar atrás, o setor aéreo entendeu que é possível estar preparado para as mudanças”, considera Araújo. O aumento do parcelamento das viagens e pacotes, boleto parcelado (sem a utilização do cartão), e a compra de passagens com antecedência são outros movimentos observados pela executiva. “A máxima no setor do turismo é: se quer pagar menos, programe a sua viagem antes”, pontua.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, destacou, em nota, que as empresas aéreas estão lidando “todos os dias” com a alta do preço do querosene de aviação (QAV). O barril de petróleo está oscilando próximo dos 100 dólares nos últimos dias, em especial como o impacto da guerra na Ucrânia (sanções ao petróleo russo/diminuição da oferta). Porém, desde o período pré-pandemia, o setor aéreo está na escalada de aumento nos preços, na avaliação da Abear. “A expectativa do setor em 2017 era manter a queda no valor das tarifas que se verificava desde 2003, mas a alta do câmbio (60%) e do querosene (209%) de 2017 até os dias atuais inverteu este movimento”, aponta.
Segundo a Latam, entre 1º de janeiro e 1º de maio, a alta no QAV chegou a quase 50% no Brasil. A empresa também prevê mais aumento no querosene de aviação para os próximos meses, e, consequentemente, afetar mais os preços das passagens. O economista Piter Carvalho deduz que a retirada de tarifa das bagagens despachadas, também pode refletir nos preços das passagens. “Fatalmente, aquele valor que as companhias estavam contando, principalmente para o orçamento deste ano (receita das tarifas), vai ser repassado indiretamente, sendo diluído nos preços das passagens. Não existe almoço grátis”. Para Carvalho, o ponto chave é o custo operacional das aéreas. “A margem das empresas está muito pressionada. Se o custo de viagem é 10, automaticamente a tarifa vai ser 12, por exemplo. Não é só uma questão de aumento de lucro (das empresas), é que o custo aumentou”, diz.