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Um bom negócio: cresce a preocupação das empresas com governança

Depois das práticas ambientais e sociais, elas agora investem em mecanismos de controle ético e legal, decisivos para o sucesso nos resultados

Por Luana Zanobia Atualizado em 4 jun 2024, 12h18 - Publicado em 4 set 2022, 08h00

Nos últimos três anos, foram raras as vezes que o comandante de uma grande companhia brasileira não fez um pronunciamento público sem citar, ao menos uma vez, as letras ESG. A sigla em inglês para meio ambiente, ação social e governança substituiu, no mundo corporativo, o termo sustentabilidade, bastante usado desde os anos 2000 para resumir a responsabilidade social e ambiental. Com isso, na nova sigla, o E e o S que correspondem a essas ideias são facilmente entendidos pelo público geral. Mas o terceiro pilar, o G, mais afeito aos bastidores corporativos, é mais complexo — e, na maioria das vezes, o mais importante. “A governança é o fio condutor para que essa nova cultura de compromisso que vai além dos negócios seja incorporada de fato nas empresas”, explica Luiz Martha, responsável por pesquisa e conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

O conceito envolve a estruturação de comitês, conselhos e controles para a equipe de gestão administrar a rotina empresarial e conferir transparência a suas decisões e resultados. E, nessa linha, avança em paralelo a outro conceito, o de compliance, que significa cumprimento às regras, sejam ambientais, sociais ou éticas. É justamente essa conduta que reduz as chances de as companhias se exporem a riscos e escândalos que impliquem danos para suas marcas e reputação — e prejuízo aos acionistas e investidores.

Atualmente, 69% das empresas brasileiras listadas em bolsa declaram ter uma área de compliance para o gerenciamento de riscos. Em 2012, esse porcentual era de apenas 39%. Surgido na década de 60 nos Estados Unidos, o termo que deriva do verbo to comply (cumprir, obedecer), ganhou notoriedade após grandes escândalos financeiros a partir da primeira década deste século. No Brasil, o assunto despontou de fato com a Operação Lava-Jato, que expôs as entranhas do mundo corporativo, especialmente do setor de infraestrutura. Desde então, as organizações buscaram adotar procedimentos para coibir desvios éticos que pudessem incorrer em ilegalidades, com a estruturação de departamentos específicos para esse fim. Atualmente, o risco de não ter um programa desse tipo é quase três vezes maior do que o custo de sua implementação, segundo estudo divulgado pela empresa do software de gestão de dados Global­scape. Em alguns casos, quando o trabalho de compliance é consistente, contribui até mesmo para a expansão da empresa.

arte empresas

O grupo J&F, holding que controla sete companhias, entre elas a multinacional JBS, reforçou o seu programa de compliance em 2017, investindo 250 milhões de reais na área. O aperfeiçoamento dessa estrutura, na visão dos executivos do grupo, é um dos grandes responsáveis pelo desempenho do conglomerado, cuja receita passou de 164 bilhões de reais para 353 bilhões de reais, nos últimos cinco anos. “Os resultados do investimento do grupo comprovam que essa é uma área decisiva para os negócios a longo prazo e uma pré-condição para qualquer discussão sobre a agenda que envolva ambiente, ação social e governança”, diz Lucio Martins, diretor global de compliance do grupo J&F. O assunto ganhou tamanha importância que o grupo recentemente anunciou a formação de um comitê executivo global dedicado à área para uniformizar e padronizar os procedimentos de toda a sua cadeia espalhada mundo afora.

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Desde o surgimento dos conceitos de boas práticas corporativas, é uma preocupação dos organismos reguladores e entidades que zelam pela conduta de gestores nos negócios que essas iniciativas de fato aconteçam e não se restrinjam a campanhas de publicidade e marketing. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai regular os fundos de investimentos que se autodenominam verdes. O Banco Central, por sua vez, cobrará dos bancos a inclusão de riscos climáticos e políticas de responsabilidade. A bolsa de valores brasileira, a B3, abriu recentemente audiência pública com novas regras para aumentar a diversidade de gênero e raça em cargos de liderança. Modelos similares também têm avançado nos Estados Unidos, na Europa e em Singapura. É um caminho sem volta, em que não basta às empresas parecerem corretas. Elas precisam efetivamente ser corretas.

Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

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