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Trabalho: Diferença entre dados sobre emprego deixa analistas no escuro

Descompasso entre indicadores chega a 1,1 milhão de vagas no 1º trimestre; falta de dados precisos pode prejudicar políticas públicas, dizem economistas

Por Rafael Bolsoni
28 Maio 2021, 12h00

De um lado, um cenário de redução de 315 mil vagas com carteira assinada no setor privado no primeiro trimestre de 2021. Do outro, um quadro de saldo positivo de 836 mil empregos formais gerados no país no mesmo período. A diferença chega a 1,1 milhão de vagas em um universo de 40 milhões de empregos com carteira assinada no Brasil. O descompasso entre os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, cuja última parcial foi divulgada na quinta-feira, 27, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), atualizados ontem na terça-feira, 26, reflete a incerteza sobre qual é o retrato fiel do mercado de trabalho no país hoje, afirmam economistas ouvidos pela VEJA.

Segundo dados do IBGE, houve uma ligeira queda no número de trabalhadores do setor privado com carteira assinada no período de janeiro a março deste ano, em relação ao último trimestre de 2020 – de 29.855.000 para 29.570.000 de empregados formais. No geral, a taxa de desocupação subiu para 14,7% no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 0,8 ponto percentual na comparação com o último trimestre de 2020. Já são 14,8 milhões de brasileiros em busca de um trabalho no país. É a maior taxa e o maior contingente de desocupados de todos os trimestres da série histórica, iniciada em 2012.

Já os números do Caged apontam para um aquecimento do mercado formal, com prevalência de admissões em comparação a demissões nos quatro primeiros meses de 2021. Em janeiro, o saldo positivo foi de 261.418 vagas com carteira assinada. No mês seguinte, o número foi a 398.184. Nos dois meses seguintes, houve redução de contratações, mas as contratações ainda superaram os desligamentos – 177.352 em março e 120.935 em abril.

Diante desse impasse, é difícil dimensionar os reais impactos da pandemia no mercado de trabalho até mesmo para o que o governo decida quais políticas públicas deve ou não criar, avalia Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE. Para amenizar os impactos negativos da crise atual, seria importante haver informações mais próximas da realidade da economia. “Fica difícil saber não só onde estamos, mas também planejar o cenário pós-pandemia. Será que teremos recomposição forte de renda depois? Não sabemos”, questiona o especialista.

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A representatividade do mercado de trabalho no Brasil ficou prejudicada com a pandemia, ainda mais quando falamos do mercado informal, que não entra no balanço do Caged, explica Hélio Zylberstajn, professor da USP e pesquisador da Fipe. “Não temos a mesma cobertura para os informais. Se não há números confiáveis, fica difícil dimensionar políticas públicas”, diz.

A discrepância fez com que o banco Itaú lançasse no início de maio seu próprio indicador para o mercado de trabalho formal, o Idat-Emprego, cujos dados ficam no meio do caminho entre os apresentados pelo Caged e pela Pnad Contínua. Para Tobler, o meio termo parece, de fato, retratar melhor a realidade da economia brasileira.

Entendendo a diferença

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Um dos fatores que justificam a diferença entre os dados da Pnad Contínua e do Caged é o método de coleta. Enquanto, a princípio, o Caged cobre todo o universo do mercado e é documental, a Pnad é uma amostra, que encontra problemas de representatividade pela dificuldade de acessar domicílios – desde o começo da pandemia, os acompanhamentos passaram a ser feitos por telefone.

Além disso, em janeiro de 2020, houve mudanças no Caged, que passou a incluir trabalhadores temporários, cujo preenchimento pelas empresas era opcional até dezembro de 2019. Outra novidade do Novo Caged foi a troca da fonte de informações, do antigo formulário para a base de dados do e-Social, sistema utilizado pelo empregador para registrar eventos e cumprir obrigações decorrentes de relações trabalhistas.

Outra questão é a suspeita de subnotificação no Caged por parte de empresas que foram fechadas durante a pandemia e podem ter deixado de reportar dados de demissão de empregados. A adoção do contato por telefone para a pesquisa da Pnad Contínua, em função da impossibilidade de visitas presenciais aos domicílios, aumentou o índice de não resposta, o que pode ter levado a uma subestimação do emprego formal.

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