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Sucesso do Pix promete acelerar a chegada do real digital

A criptomoeda, uma espécie de bitcoin oficial do Brasil, deve realizar uma drástica mudança nas transações financeiras

Por Luisa Purchio Atualizado em 4 jun 2024, 12h21 - Publicado em 15 jan 2022, 08h00

A linguagem popular é uma das melhores maneiras de perceber quando novas tendências, de fato, se incorporam ao dia a dia das pessoas. Nesse campo, uma das grandes novidades de 2021 para o brasileiro foi a popularização da expressão “mandar um Pix”. O novo sistema de pagamento digital, lançado pelo Banco Central no último trimestre de 2020, teve uma aceitação surpreendentemente rápida. Em 2021, o seu primeiro ano completo de uso, atingiu 117 milhões de usuários e mais de 9,5 bilhões de transações feitas. O sucesso da iniciativa, uma das mais importantes do BC em sua agenda para modernizar o sistema financeiro brasileiro, agora, deve levar a outros avanços. É o caso do real digital, uma criptomoeda soberana, uma espécie de bitcoin oficial do Brasil. “O Pix ajudou as pessoas a se familiarizarem com as transações em carteira eletrônica, o que facilita muito a adoção de tecnologias similares”, diz Fabio Araujo, analista da secretaria executiva do BC.

O plano da autoridade monetária é testar a partir de abril as possibilidades de uso para o real digital. Para isso, se valerá do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT Lab) mantido em parceria com a Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac). A ideia é propor um desafio de desenvolvimento da nova moeda digital às instituições financeiras do mercado, batizado como LIFT Challenge. “A proposta é desenvolver um debate para que boas ideias possam ser implementadas. E o próprio BC vai acompanhar e poder interferir nos aspectos positivos e negativos do projeto logo no nascedouro da tecnologia”, diz Rodrigoh Henriques, coordenador do LIFT Lab.

arte real

O grande potencial da nova tecnologia está em permitir funcionalidades que o real tradicional não atende. Entre as principais delas estão o chamado dinheiro direcionado e os pagamentos no âmbito da internet das coisas (IoT). A primeira basicamente consiste em programar a realização das transações financeiras, como, por exemplo, restringi-las a um determinado fim ou região geográfica, o que aumenta a sua segurança. Dessa forma, uma pessoa que sair à noite conseguirá definir que sua carteira digital só possa ser usada na região de um restaurante, ou uma mãe poderá determinar o uso do dinheiro do filho apenas na cantina da escola. Na internet das coisas, por sua vez, será possível que objetos inteligentes usem os recursos virtuais para fazer compras de forma autônoma, como uma geladeira que encomenda — e paga — ao mercado por produtos que estão acabando ou uma impressora que encomenda cartuchos de tinta a uma papelaria. Há ainda outros tipos de uso, como os avaliados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) (veja o quadro), que representará os bancos no desafio.

O real digital ainda terá de se provar como um mecanismo factível, com vantagens e sem riscos em termos de segurança das operações. Com a realização dos estudos pelo BC e pelo mercado, a previsão é que a moeda virtual possa ser implementada em dois ou três anos, a partir de um projeto-piloto ainda neste ano. De acordo com o Banco de Compensações Internacionais (BIS), que reúne os bancos mundiais, 86% dos bancos centrais estão pesquisando ativamente o potencial das moedas digitais, 60% deles estão experimentando a tecnologia e 14% estão rodando projetos-piloto. O país mais avançado é a China, que no começo do ano lançou um aplicativo de pagamentos e transferências de yuan digital em algumas cidades, incluindo Pequim, sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro. Se depender do entusiasmo despertado pelo Pix, o Brasil estará em breve nessa lista.

Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2022, edição nº 2772

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