Sob pressão, Fed se divide sobre quando mudar os juros
Maioria do colegiado do banco defende cautela, mas parte avalia corte de 0,25 ponto; incertezas sobre tarifas e consumo pesam no horizonte

A ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), divulgada nesta quarta-feira, 20, reforçou a percepção de que o banco central dos Estados Unidos está preso a um delicado equilíbrio entre conter uma inflação que resiste em ceder e preservar a atividade econômica. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) decidiu manter os juros no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano, mas a discussão revelou fissuras internas.
Quase todos os dirigentes concordaram em manter a taxa inalterada, apostando na necessidade de mais tempo para avaliar os efeitos cumulativos da política monetária restritiva. No entanto, alguns membros defenderam um corte de 0,25 ponto percentual, argumentando que a inflação subjacente, isto é, sem o impacto das tarifas, já estaria próxima da meta de 2% e que os riscos de fragilidade no mercado de trabalho vêm aumentando.
Desinflação mais lenta e consumo em desaceleração
Os dados disponíveis no período que antecedeu a reunião mostraram que o processo de desinflação parece ter perdido força. O índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), medida preferida do Fed, ficou em 2,5% em junho, pouco acima da meta, enquanto o núcleo avançou 2,7% no mesmo período, ambos em patamar semelhante ao do ano anterior.
A inflação de bens, pressionada por tarifas comerciais, foi o principal obstáculo à queda mais acentuada. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico se mostrou morno no primeiro semestre. Após contração no primeiro trimestre, o PIB real voltou a crescer no segundo, impulsionado pelas exportações líquidas, mas os gastos domésticos privados perderam fôlego.
Apesar da desaceleração, o mercado de trabalho continua aquecido. A taxa de desemprego caiu para 4,1% em junho, e a relação entre vagas abertas e trabalhadores sem emprego permaneceu em 1,1, dentro da faixa apertada observada ao longo do último ano. Os salários, porém, avançaram 3,7% em 12 meses encerrados em junho, ritmo mais fraco do que em 2024.
Para os membros mais cautelosos do Fed, esse quadro sugere resiliência para manter a política monetária restritiva. Para a ala mais dovish, no entanto, a desaceleração da folha de pagamentos privadas e a perda de dinamismo no consumo reforçam a necessidade de aliviar os juros antes que o desaquecimento ganhe tração.
Tarifaço
A ata também destacou a influência das tarifas comerciais na inflação e no humor dos mercados. Embora investidores tenham reagido com menor volatilidade do que em meses anteriores, a incerteza sobre a política comercial dos EUA segue como fator de risco para o cenário econômico e para a trajetória da política monetária.
O documento reiterou que a estratégia do Fed seguirá “dependente dos dados”. O banco central se comprometeu a monitorar indicadores de atividade, mercado de trabalho e expectativas de inflação antes de decidir sobre eventuais cortes ou novas manutenções.