Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO, 1o de novembro (Reuters) – Paradas de montadoras em setembro aprofundaram o arrefecimento da produção da indústria brasileira, que já vinha sendo afetada pelo desaquecimento da economia, entrada de importados e paralisações em algumas atividades, afirmou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A atividade recuou 2 por cento em setembro ante agosto, a maior baixa desde abril, e contraiu 1,6 por cento sobre igual mês de 2010, informou o IBGE nesta terça-feira. Analistas consultados pela Reuters projetavam queda mês a mês de 1,3 por cento e recuo anual de 1 por cento.
“A indústria vinha com estoques elevados e concorrências de importados, mas agora a queda ganhou impulso com a queda na produção de veículos. Houve paradas, paralisações e até greves em montadoras”, disse a jornalistas o economista do IBGE André Macedo.
“Elas tiveram paralisações, deram férias, empresas ficaram 3,4 dias paradas e com problemas na produção. Isso reflete rebatendo em bens de capital e duráveis, porque afeta produção de caminhões e componentes.”
Com o resultado de setembro, a produção está 4 por cento abaixo do pico de produção observado em março deste ano. Até agosto essa distância para o recorde de produção era de 2,1 por cento.
O setor de veículos automotores tem peso de 11 por cento na formação da produção industrial e , em setembro caiu 11 por cento ante agosto. Foi o pior resultado desde dezembro de 2008, quando começaram a surgir os primeiros sinais da crise financeira mundial.
“Mais que o peso, a importância desse setor é que tem ligação importante com siderurgia, tintas vernizes, borracha e plástico e outros”, disse o economista do IBGE.
O segmento de duráveis, do qual faz parte o setor de veículos automotores, sofreu uma queda de 9 por cento ante agosto, pior desempenho desde abril deste ano. A queda de duráveis em relação a setembro de 2010 foi de 9,5 por cento.
Macedo destaca que a queda na produção de veículos foi um elemento relevante, porém, mais um a ajudar a queda na indústria.
Os bens de capital, que sinalizam investimentos, caíram 5,5 por cento entre agosto e setembro, pior resultado desde fevereiro de 2009, período em que a industria foi impactada pela crise financeira mundial.
“Essa magnitude de queda remete a fevereiro de 2009 e tem a ver com a queda na produção de caminhões, mas outras partes como máquinas e equipamentos, produção de aviões e máquinas e equipamento para o setor elétrico também mostraram perda na produção”, disse Macedo.
“O volume de importações está acima do desejado e as próprias sondagens de confiança mostram um menor otimismo do empresariado. Isso combinado pode dar um entendimento porque bens de capital estão com um queda tão expressiva.”
Os bens não duráveis caíram em setembro 1,3 por cento. O segmento vem sendo muito impactado pela entrada de importados e pelo dólar num patamar desfavorável. Já os intermediários, o segmento mais pesado da indústria ficaram estáveis.
PERDA DE RITMO
Com o resultado de setembro, a indústria acentuou a trajetória de queda na produção no terceiro trimestre.
Depois de crescer 1,3 por cento no primeiro trimestre ante o imediatamente anterior, a indústria sofreu uma queda de 0,6 por cento no segundo e , encerrou o terceiro trimestre com taxa de menos 0,8 por cento.
“Houve sem dúvida uma mudança de ritmo e, agora, um pouco mais forte por conta dessa queda de 2 por cento na margem”, disse Macedo.
O movimento é quase generalizado e a única exceção fica por conta dos bens de capital. O segmento lidera o crescimento no ano, com alta de 5 por cento, e impende uma queda mais aguda da indústria geral.
(Edição de Vanessa Stelzer)