Saúde mental, racismo, agro e religião: os assuntos em alta no Brasil
Estudo exclusivo publicado pela Timelens revela movimentos que estão moldando o comportamento dos brasileiros
A Timelens, consultoria de negócios baseada em dados e insights do ecossistema FutureBrand, apresentou nesta segunda-feira, 23, uma pesquisa exclusiva sobre os hábitos dos brasileiros nos últimos anos. O estudo “Tá Quente, Brasil!” mapeou o comportamento dos brasileiros, usando como base 6,5 milhões de menções na internet, 6,7 milhões de perfis em redes sociais, além de mais de 300 milhões de buscas no Google e detectou que as buscas pela palavra “ansiedade” cresceram 71% nos últimos dois anos. Por suas vez, conversas sobre questões raciais aumentaram 39% no último ano.
A conclusão do estudo é que o Brasil é um país de contradições. “Somos uma jabuticaba, um país de muitas complexidades. Compreender que o Brasil não tem um perfil definido e que mudanças constantes fazem parte do cenário é fundamental para planejar os próximos passos, identificar as oportunidades e as tendências que vão moldar comportamentos e gerar negócios”, diz André Matias, diretor-presidente da Timelens.
O estudo analisa, por exemplo, a relação com a felicidade. Ao avaliar a satisfação dos brasileiros, as buscas no Google por “estresse”, “depressão” e “burnout” seguem acima dos níveis pré-pandêmicos. E o consumo virou a válvula de escape para este estresse acumulado — vídeos de consumidores da Shein destacam o excesso e o volume das compras, e as buscas no Google por taxação da empresa cresceram 363% no ano.
A periferia também passou a ser reconhecida como um centro de tendências. A expressão “de cria” — aquela usada para definir algo que é moda fora dos grandes centros — cresceu 217% nas buscas do Google nos dois últimos anos. Em 2022, por exemplo, uma música da Anitta atingiu o topo das músicas mais ouvidas no Spotify global. Outro exemplo é a hashtag #Indígena, que cresceu 108% em 2022 no TikTok. “Ter a capacidade de decodificar as tendências que de fato estão moldando o futuro do nosso país é determinante na tomada de decisões de negócios com foco no amanhã”, prossegue Matias.
Ainda sobre a cultura pop, o estudo revela que ela mudou inclusive o jeito de construir e de representar as famílias – assim como impactou também a forma como os brasileiros interpretam as religiões. Os estereótipos do evangélico tradicional foram modificados por um grupo cada vez mais plural. O uso de termos como “Glória a Deus” e “Tá Repreendido” cresceram cerca de 37,8% nas conversas digitais, dialogando com o universo pop nacional. A busca por louvores no YouTube cresceu 254% nos últimos 10 anos. “Percebemos que os estereótipos do campo seguiram a mesma tendência de desmistificação que vimos no campo religioso, por exemplo. O agro tornou-se atrativo, incentivado pela figura do agro jovem”, analisa Estela Brunhara, diretora de Pesquisa da Timelens.
A Timelens admite que a pesquisa explica muito, mas não tudo, justamente porque a base de levantamento é digital. Em 2022, 36 milhões de pessoas não tiveram acesso a internet, o que representa cerca de 20% do país. Nas classes mais baixas, o número é ainda mais dramático: uma em cada três pessoas das classes D e E não estão inseridas digitalmente. “A penetração de celulares e internet via celular começou a ganhar mais relevância. Isso traz mais informações e mais gente presente, mas é um recorte. O Brasil profundo a gente vai cavando e entendendo de outras formas”, diz Matias. “A ideia é que a gente vá atualizando esse estudo anualmente, com alguns recortes mais específicos”, completa.