Sanha populista de Lula ganha reforço com posse de Gleisi Hoffmann nesta segunda-feira
Chegada da petista ao ministério pode selar guinada do presidente, que já mira as eleições de 2026

A guinada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o populismo econômico ganhará um importante reforço a partir desta segunda-feira 10, quando Gleisi Hoffmann será empossada como a nova ministra das Relações Institucionais. Ela, que presidiu o PT até a semana passada, é uma declarada opositora à política de austeridade fiscal defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pelo novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Em diversas ocasiões, Gleisi e o PT atacaram o que chamaram de “austericídio fiscal” em um documento divulgado pelo Diretório Nacional da legenda em dezembro de 2023. A expressão fez sucesso nas hostes petistas, mas criou um grande constrangimento para o governo Lula e Haddad. A fim de apagar o incêndio, Gleisi afirmou que o texto não era uma crítica ao colega de partido. Não colou, e a reação foi a alta do dólar, que, por sua vez, pressionou a inflação e obrigou o BC a subir os juros.
Nos últimos dias, a nova ministra tem se esforçado para se descolar da pecha de leniente com a farra fiscal e de opositora a Haddad. Gleisi vem afirmando que foi nomeada para cuidar de assuntos políticos, e não da economia. A explicação também não convence ninguém, já que, no papel de coordenadora das relações com o Congresso, deverá negociar a aprovação de diversas medidas importantes para a Fazenda, com o potencial de pressionar ainda mais a dívida pública ou de contê-la.
A primeira tarefa de Gleisi será ajudar na aprovação do Orçamento de 2025, que deve ser votado agora que o Congresso voltou do recesso de Carnaval. Além de lidar com a pressão dos parlamentares por mais emendas, a nova ministra também deverá ajudar Haddad a encaixar no Orçamento os arroubos populistas de Lula, como o Gás para Todos, que deve suceder o atual Auxílio Gás. Defendido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o projeto deve ampliar os atuais 5,6 milhões de famílias para 20 milhões no benefício, ao custo de 3,4 bilhões de reais.
O problema é que isso seria feito por fora do Orçamento. O plano era que os recursos fossem repassados diretamente da renda auferida com o pré-sal para a Caixa Econômica Federal, que se encarregaria de distribuí-los aos mais pobres. O Tribunal de Contas da União (TCU), contudo, brecou a manobra, por entender que havia indícios de pedalada fiscal, e exigiu que o custo total do projeto fosse incluído no Orçamento — e não apenas os 600 milhões de reais reservados na proposta orçamentária em debate no Congresso.
Outro caso é o Pé-de-Meia, programa de assistência a 4 milhões de estudantes carentes do ensino médio. Seu custo é estimado entre 10 bilhões e 15 bilhões de reais, que seriam bancados com fundos geridos pelo Ministério da Educação. Assim como o Gás para Todos, o TCU também determinou que o Pé-de-Meia entre no Orçamento.
Para ajustar esses novos gastos, Haddad afirmou que a Fazenda tem trabalhado para cortar outras despesas, a fim de encaixar tudo sem descumprir a meta fiscal proposta para este ano — zerar o déficit primário, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos.
Como sempre, com um cobertor curto, as pastas e os parlamentares que correm o risco de receber menos recursos que o previsto estrilam. Caberá a Gleisi lidar com essas demandas. Suas ações, mais do que suas palavras, mostrarão se, de fato, se converteu ao racionalismo econômico defendido de modo cada vez mais solitário por Haddad e ajudará o colega a cumprir a meta fiscal. A julgar pelo passado recente da nova ministra, os prognósticos são preocupantes.