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Salão do Automóvel é adiado para 2021 devido à alta do dólar

Antes do anúncio, quinze montadoras já tinham desistido do evento; nos bastidores, há quem diga que a disparada da moeda caiu como uma luva

Por Felipe Mendes, Alexandre Salvador Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 mar 2020, 13h35 - Publicado em 6 mar 2020, 13h23

Mais de 700.000 aficionados ilustres dos roncos dos motores estão desapontados. O Salão do Automóvel de São Paulo, principal evento automobilístico da América Latina, foi adiado para 2021. O anúncio foi realizado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em evento na manhã desta sexta-feira, 6. Um dos motivos para a inviabilização do evento é a alta do dólar, que poderia alavancar os custos para cada montadora para até 20 milhões de reais, dependendo do tamanho da área e da infraestrutura utilizadas.

A despeito de qualquer surpresa, este desfecho já era esperado. Nas últimas semanas, foram poucas as montadoras que mantiveram interesse em participar do evento. Desde janeiro, ao menos 15 marcas, dentre as quais a BMW, General Motors, Toyota e Hyundai anunciaram que não marcariam presença. A Volkswagen afirmou que só participaria diante de mudanças no formato da feira, com estandes menores, mais tecnologia e possibilidade de vendas de produtos, como ocorre com a Fenatran, a feira de caminhões. A Reed Alcântara Machado, organizadora do Salão, se viu numa encruzilhada nas últimas semanas, tentando convencer as montadoras desistentes a reverem suas decisões. Não conseguiu. Nos bastidores, há quem diga que a alta do dólar caiu como uma luva para os organizadores.

Envolto a críticas, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, disse que não haveria tempo hábil para colocar o Salão do Automóvel de pé ainda este ano. “Para você trazer um novo carro-conceito do Japão, da Europa ou dos Estados Unidos, isso já teria que estar sendo contratado agora. Toda a preparação da mensagem que a empresa quer dar, a história que ela vai querer contar, isso não se faz em meses. A preparação, dependendo do tamanho da montadora, demora pelo menos um ano”, disse Moraes. “Não queremos fazer uma coisa de forma atropelada”.

O evento estava marcado para acontecer entre os dias 12 e 23 de novembro deste ano, no São Paulo Expo. A Reed ainda detém o espaço agendado para o período. Por conta disso, a companhia expositora estuda usar a data para uma exposição menor. “Eles estão pensando num evento para suprir esse espaço. Isso está em fase de maturação. Não vai ser o Salão do Automóvel, mas deve ser um evento do setor automotivo”, afirmou o executivo. As cidades de Pequim (China) e Genebra (Suíça) também cancelarem a realização de seus respectivos salões para este ano. O motivo alegado é outro: o surto de coronavírus. Porém, o modelo de salões tem sido contestado por todo o mundo.

Fim dos salões?

VEJA esmiuçou as reclamações e os motivos pelos quais as fabricantes de veículos estão deixando de ver valor nessa tradicional vitrine da indústria. Um problema identificado no formato atual dos salões diz respeito à garantia do retorno sobre o investimento nesse tipo de evento. Em São Paulo, o custo do metro quadrado para instalar um estande no salão pode superar os 1 000 reais. “Para cada real que eu gasto na compra do espaço, preciso de outros 3 para montar a estrutura e fazer a ativação comercial”, diz o responsável pelo marketing de uma grande marca. Considerando-se os diferentes tamanhos dos estandes, a conta fica entre 5 milhões e 20 milhões de reais por montadora. Entretanto, mesmo com um investimento tão alto, não existe nenhum parâmetro que permita avaliar a capacidade de gerar vendas. “É melhor fazer um evento menor, exclusivo, em que eu não tenha a concorrência de outras marcas e consiga falar diretamente com meus clientes”, declarou outro porta-voz.

Em meio a tantas dúvidas, executivos do setor costumam seguir referências de inovação. Nesse sentido, poucos personagens ganham as atenções recebidas pelo empresário Elon Musk, fundador da Tesla, companhia de carros elétricos vista como o futuro do setor automotivo. Capaz de produzir apenas um décimo dos veículos fabricados por colossos como Ford e GM, ela já vale mais que os dois gigantes americanos. No que depender de Musk, os salões estão perdidos: há quatro anos, o empresário deixou de apresentar seus modelos em Detroit. Hoje ele lança seus carros em eventos bombásticos divulgados mundo afora pela internet. As mudanças na indústria automobilística mundial estão cada vez mais aceleradas.

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