‘Reformas econômicas no Brasil requerem mudança de liderança política’
Professor de Harvard afirma que o modelo econômico brasileiro não é mais exemplo para a América Latina e que o clima empresarial no país está ‘depressivo’
O historiador econômico escocês Niall Ferguson tem referências suficientes para ser considerado uma estrela acadêmica. É professor em Harvard e escreveu uma considerável lista de bestsellers. Não satisfeito com a fama entre os intelectuais, o professor se tornou um dos mais didáticos palestrantes sobre a economia mundial. Usando referências históricas conhecidas e abolindo o economês, Ferguson conseguiu projetar-se para muito além de sua cátedra imponente nos arredores de Boston. Politicamente alinhado com o Partido Republicano nos Estados Unidos, foi consultor de dois adversários de Barack Obama: John McCain, em 2008, e Mitt Romney, em 2012.
Durante o simpósio promovido pela Universidade de St Gallen, na Suíça, Ferguson foi tratado com honra presidencial e foi responsável pelo discurso de encerramento do evento – uma espécie de versão compacta do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Sua última obra traduzida para o português foi A Grande Degeneração – A Decadência do Mundo Ocidental, que saiu em 2013 no Brasil pela Editora Planeta. Ao site de VEJA, Ferguson analisou a situação econômica brasileira e traçou previsões pouco otimistas. “O problema é que o PIB do Brasil não vai crescer de maneira mais acelerada e o país não será um grande lugar para se investir a não ser que haja reformas estruturais significativas”, afirmou. A solução, segundo ele, virá com a mudança de modelo econômico decorrente, possivelmente, de uma nova liderança política.
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Não há mais espaço para o modelo econômico de estado forte na economia, como é o caso do Brasil e, em maior escala, da China?
Acredito que haja um esgotamento sim. A diferença é que, no caso da China, o governo tem falado de maneira contundente sobre aumentar a participação do setor privado e liberalizar a economia. Eles têm enfrentado essas questões de maneira muito aberta. E por isso que o anúncio do novo plano econômico chinês no ano passado foi tão importante. Mas eu não vejo nada parecido com isso acontecendo no Brasil. O que o governo brasileiro tem oferecido é o mesmo de sempre, com a ressalva de que o mix de políticas piorou no governo Dilma.
O modelo econômico a ser perseguido é o do México?
Acho que ainda é cedo para dizer, mas Enrique Peña Nieto (presidente mexicano) tem buscado atacar questões muito difíceis. Fez reformas no setor energético, no de telecomunicações e na educação. É uma lista que impressiona pelo pouco tempo em que ele está no governo. E a diferença entre a Cidade do México e São Paulo, sendo que visitei ambas recentemente, é gritante. O sentimento na comunidade empresarial em São Paulo era de depressão, enquanto no México estava a todo vapor. Esse é um reflexo revelador sobre a atuação dos governos.
O senhor esteve no Brasil antes dos protestos de junho do ano passado. Na sua avaliação, o fato de não ter havido nenhuma mudança estrutural desde os então diminui sua importância histórica e social?
Vivenciamos um período de protestos em muitos países além do Brasil, sobretudo Turquia e Ucrânia. E o Brasil foi o país em que os resultados foram menos evidentes. Na Turquia, o governo quase foi derrubado. Na Ucrânia, os protestos se transformaram numa espécie de revolução sangrenta que, em todos os aspectos, trará mudanças gigantescas. Olhando de fora, me pergunto quando essas manifestações vão continuar no Brasil e se haverá algo que ameace a Copa do Mundo. O que é certo é que o problema não terminou. Para ter havido tanta insatisfação a ponto de dar in��cio aos protestos e nada ter sido feito, a história certamente terá um novo capítulo.
As razões que originaram os protestos nesses países são comparáveis?
As razões, de fato, foram muito diferentes. O que elas têm em comum é a desilusão, a frustração popular, sobretudo dos jovens, com o atual governo e todo o processo político.
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